PROFETAS DO VÍRUS ANUNCIAM A PRÓXIMA PANDEMIA
2021-07-09
José Goulão, Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril
Esta sexta-feira, 9 de Julho, entidades que integram a comunidade dos profetas do vírus que anunciaram o SARS-CoV-2 em Outubro de 2019, cerca de dois meses antes de ser detectado na China, realizam uma simulação designada Cyber Polygon do que consideram ser a próxima pandemia, uma ciberpandemia com tal dimensão que, comparativamente, faria a crise da COVID-19 parecer um “pequeno distúrbio”. Quem o diz é o chefe do Fórum Económico Mundial (WEF na sigla inglesa), Klaus Schwab, ardente defensor do aproveitamento destas convulsões como “janelas de oportunidade” para proceder ao “novo reinício”, o Great Reset do capitalismo.
Escassos dias antes desta operação Cyber Polygon, isto é, no fim-de-semana de 4 de Julho, aconteceu o “maior ciberataque de sempre”, segundo numerosas fontes e analistas: hackers supostamente de um gang conhecido como REvil piratearam os sistemas informáticos de mais de mil empresas e individualidades em pelo menos 17 países do mundo, atingindo áreas como os serviços financeiros, de abastecimento, de viagens e lazer, sectores públicos, comerciais e energéticos. Estamos então perante uma curiosa coincidência astral, que permite aos participantes na magna simulação desta sexta-feira trabalharem a “quente”, beneficiando de um oportuno exercício de “fogos reais” em curso.
As coincidências não ficam por aqui. Há um ano, a 8 de Julho de 2020, o Fórum Económico Mundial e respectivos associados na arte de anteciparem catástrofes virais que deixam o mundo literalmente em estado de sítio promoveram um outro exercício de ciberpandemia. Nessa altura, como veio a perceber-se pouco tempo depois, estava em andamento outro ciberataque transnacional que teve como epicentro a empresa norte-americana de tecnologia de informação SolarWinds, gestora de redes de alguns dos principais grupos mundiais, e atingiu, segundo os queixosos, gigantes empresariais como a Microsoft e a Cisco e os Departamentos de Segurança Interna, do Tesouro e áreas da Defesa dos Estados Unidos. E também, muito significativamente, a USAID, a “agência de desenvolvimento internacional” teleguiada pela CIA em processos de golpes brandos praticados a partir de Washington.
Na ocasião, o Cyber Command norte-americano confessou-se “apanhado de surpresa”. Igualmente surpreendente é o facto de o grande ataque de há dias não ter gerado qualquer incómodo nos mercados globais, uma vez que as principais praças financeiras do mundo e também o ouro, o petróleo e o dólar registaram serenas subidas entre 0,45 e 1,85% na segunda-feira. Estarão os grandes santuários do capitalismo global imunes aos “maiores ciberataques de sempre”?
Existe neste contexto, porém, uma certeza nada intrigante para porta-vozes oficiais, analistas e especialistas, jornalistas e outros agentes da comunicação social corporativa: os autores das malfeitorias que fazem convergir os profetas dos vírus, sejam eles biológicos ou informáticos, nos exercícios que antecipam catástrofes são “os russos”. Para todos os efeitos, os serviços de inteligência externa, SVR, por conta própria ou através de hackers arregimentados sob as suas ordens. Escasseiam as provas mas abundam as certezas, como é próprio dos dogmas. O CEO da Fire Eye, uma das empresas que se dizem atingidas, garante que os indícios “são mais consistentes com a espionagem e comportamentos próprios da Rússia”.
Donald Trump ainda culpou a China, mas o seu sucessor, Joseph Biden, está tão seguro das responsabilidades de Moscovo que expulsou diplomatas russos e impôs novas sanções ao país como resposta ao ataque de 2020 à SolarWinds.
Pandemias à saúde do capitalismo
Na exposição em que apresenta a simulação do Cyber Polygon deste dia 9 de Julho o Fórum Económico Mundial adverte que “um ataque cibernético com características semelhantes às da COVID expandir-se-ia mais rapidamente e mais amplamente do que o vírus biológico, com uma taxa de reprodução cerca de dez vezes maior do que a do coronavírus”.
O exercício, segundo a explicação oficial, terá a participação de dezenas de países e funcionará como uma resposta “em tempo real a um ataque direccionado contra a cadeia de suprimentos num ecossistema corporativo”.
Na comunicação de abertura que fez aos participantes no Cyber Polygon de 2020, o presidente do WEF, Klaus Schwab, afirmou que “ainda não prestámos atenção suficiente ao cenário assustador de um ataque cibernético abrangente, que interromperia completamente o fornecimento de energia, os transportes, os serviços hospitalares e a nossa sociedade como um todo. Neste quadro, a crise do COVID-19 seria um pequeno distúrbio em comparação com um grande ataque cibernético”.
Que nos dizem então os exercícios e as simulações sobre as medidas a tomar para combater a tal ciberpandemia?
Recorramos à operação promovida em 8 de Julho de 2020, subordinada ao tema “Pandemia digital: como prevenir uma crise e reforçar a segurança cibernética a todos os níveis”. Nela participaram 120 organizações de 29 países, 20 oradores e cinco milhões de espectadores por streaming em 57 países.
Os trabalhos convergiram em três grandes tendências a adoptar para derrotar uma ciberpandemia: impulsionar a identificação digital, combater as notícias falsas e fortalecer as parcerias público-privadas. “Num mundo altamente interconectado”, lê-se nas conclusões da operação, “um único ataque cibernético pode expandir-se pela comunidade global, o que pode ser evitado promovendo a colaboração entre os sectores público e privado e as agências de aplicação da lei”. Neste quadro, defende-se que “a interacção eficiente requer a implementação e a regulamentação de uma série de padrões, partilha de informações e o estabelecimento de relações de confiança”.
Em resumo, identificação digital dos cidadãos de todo o mundo, delegação de funções dos Estados nos grandes gigantes privados transnacionais, articulação com as agências de aplicação da lei à escala global num ambiente de partilha de informações e de relações de confiança. O admirável mundo novo do Great Reset, o futuro do capitalismo e do mundo policial global.
“É importante”, defende Klaus Schwab, “usar a crise do coronavírus como uma oportunidade candente para reflectir sobre as lições da comunidade de segurança cibernética de modo a estabelecer e melhorar a maneira de ultrapassar a nossa falta de preparação para uma potencial pandemia cibernética”.
Os vírus massivos, biológicos ou informáticos, tornaram-se assim instrumentos fundamentais par reforço do autoritarismo inerente ao aprofundamento e à globalização do capitalismo neoliberal.
O reino do Big Brother
Falar apenas em “impulsionar a identificação digital” como tendência resultante do exercício Cyber Polygon de 2020 não reflecte a gravidade do que, na prática, está por detrás desse conceito.
Ficaremos um pouco mais familiarizados com a verdadeira intenção se soubermos que a apresentação do tema foi feita pelo criminoso de guerra e conspirador compulsivo Tony Blair. “Os governos encaminham-se inevitavelmente para a identificação digital que, para mim, é uma grande parte do futuro”, profetizou.
A identidade digital é, de facto, um dos grandes pilares do Great Reset do Fórum Económico Mundial, entendida como a maneira de reunir o que cada cidadão faz online, os sites que visita, as participações nas redes sociais, a geolocalização do smartphone, além de armazenar os dados de identificação e os elementos que fazem hoje parte da carteira física – cartões de saúde, de seguros, bancários, por exemplo. Os organismos governamentais poderão assim, segundo a entidade que promove anualmente a cimeira do neoliberalismo em Davos (Suíça), usar as informações disponíveis, traçar perfis, partilhar dados, fiscalizar comportamentos; e a liberdade individual “depende do modo como a tecnologia é usada e dos padrões éticos de quem governa”, podendo todos nós antever o cenário orwelliano que se aproxima ao ritmo da concentração do poder num todo-poderoso conglomerado público-privado, também conhecido como “governo mundial”.
Não estamos perante um qualquer delírio de antecipação científica. O relatório de 2018 do Fórum Económico Mundial explica que “a identidade digital determina quais os produtos, serviços e informações a que cada um pode ter acesso – ou, inversamente – o que estará vedado a cada um”, níveis esses que serão “estabelecidos em função do comportamento online”. De onde se percebe que o exercício de uma fiscalização permanente – o Big Brother tornado realidade - determinará o que será permitido a cada pessoa fazer da sua própria vida
Memória do “Event 201”
No ambiente esquizofrénico cultivado a propósito das antecipações de realidades de crise que são promovidas pelo Fórum Económico Mundial e afins não é difícil ter a noção de como é tratado o tema das fake news ou notícias falsas.
Os oradores que abordaram este assunto no exercício Cyber Polygon de 2020 partiram do princípio que a maioria das pessoas no mundo não têm condições de educação, cultura e discernimento crítico para distinguir o que é realidade do que é falso nas redes sociais e na comunicação social convencional. Na ocasião, expuseram o quadro mas não formalizaram conclusões.
No entanto, é possível extraí-las das recomendações resultantes do Event 201, a reunião dos profetas do vírus em Outubro de 2019 na qual foi simulada uma situação de pandemia provocada por um coronavírus, na altura designado SARS-CoV-2, e que pouco mais de dois meses depois viria a transformar-se, com essa mesma designação, na realidade em que vivemos.
Sugerem essas recomendações, em relação às notícias falsas, que “os governos necessitam de fazer parcerias com as empresas de redes sociais e de comunicação social tradicional para investigar e desenvolver abordagens ágeis de modo a combater a desinformação” – definição que cabe inteirinha na palavra censura.
Constata-se que esta sucessão de exercícios de simulações de pandemias como o Clade X de 2018, o Event 201 de 2019 e as operações anuais designadas Cyber Polygon, desencadeadas por entidades de topo da ortodoxia neoliberal, converge em recomendações e práticas que têm em comum o reforço do autoritarismo, a crescente limitação de direitos e liberdades, o controlo da vida dos cidadãos e a indução de transformações económicas globais determinadas pelos interesses dos conglomerados económicos transnacionais e pelos objectivos de funcionamento de um “governo mundial”. É um facto indesmentível que a COVID-19 está a provocar o descalabro das pequenas e médias empresas enquanto os grupos económicos com escala global e as grandes fortunas batem recordes de concentração de riqueza.
Os dons proféticos manifestados durante o Event 201 são admiráveis e simultaneamente aterradores quanto ao significado prático deste tipo de simulações.
“Embora no início alguns países possam conter o vírus ele continua a espalhar-se e a ser reintroduzido, pelo que eventualmente nenhum consegue manter o controlo”, lê-se na descrição oficial do Event 201, redigida há mais de 20 meses. Recorde-se que a operação decorreu em Nova York em 18 de Outubro de 2019 e o coronavírus só foi identificado em Wuhan, China, em finais de Dezembro. A semelhança da narrativa supostamente ficcional com a realidade actual é flagrante, o que faz pensar. “Foi mais de um ano de investigação, um investimento de centenas de milhares de dólares, mas os ensinamentos extraídos são incalculáveis”, confessou Ryan Morhard, representante do Fórum Económico Mundial, a propósito da montagem da simulação. Entre esses “ensinamentos incalculáveis” estão as previsões de resposta ao vírus segundo as quais os governos iriam decretar bloqueios e confinamentos em todo o mundo, a razia nos pequenos e médios negócios, o desemprego em massa, a “maior adopção de tecnologia de vigilância biométrica”, o controlo das redes sociais para supostamente combater as notícias falsas, a inundação dos canais de comunicação com estudos, informações, relatórios, projectos, modelos matemáticos, dados sobre a eficácia das vacinas a cargo de “fontes especializadas e autorizadas”.
Se o grau de acerto de uma simulação da pandemia de coronavírus foi assim tão elevado, o que esperar agora do Cyber Polygon prometendo-nos uma ciberpandemia que “será mais rápida que a COVID, com uma taxa de crescimento exponencial, um impacto ainda maior e implicações económicas e sociais mais significativas”, segundo Jeremy Jurgens, director de negócios do WEF?
Há razões para ficarmos alarmados. Diz a apresentação do exercício Cyber Polygon deste ano feita pelo Fórum Económico Mundial: “A única maneira de impedir a propagação exponencial” da ciberpandemia será “desconectar totalmente entre si os milhões de dispositivos vulneráveis”; mas “um único dia sem internet custaria mais de 50 mil milhões de dólares, sem ter em conta os danos económicos e sociais no caso de dispositivos ligados a serviços essenciais como transportes e saúde”, plataformas financeiras globais, redes de energia e tratamento de águas, sistemas de “internet das coisas” e “internet dos corpos”, áreas de tecnologia de informação dos governos, infraestruturas militares e de guerra.
Certamente algo de muito grande está na mente de quem promove profecias de pandemias. A experiência já vivida permite-nos conhecer parcialmente o grau de cumprimento das previsões. Assim sendo, nada de bom para as pessoas será de esperar da simulação de uma ciberpandemia; pelo contrário, ficam latentes muitas e graves ameaças de continuação e agudização das situações altamente traumáticas, invasivas e até despóticas suscitadas a pretexto de um vírus biológico, agora previsivelmente reforçadas por um vírus cibernético.