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O CONCÍLIO DOS PREDADORES OU O VÍRUS COMO “JANELA DE OPORTUNIDADE”

2020-09-05

José Goulão, Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril

Quando a elite dos predadores que conduziram o mundo ao estado desgraçado em que se encontra se propõem agora salvá-lo tirando proveito da “janela de oportunidade” que é a pandemia de COVID-19 podemos deduzir que há nuvens ainda mais negras no horizonte.

The Great Reset, o Grande Reinício ou a Grande Restauração, como preferirem, é o tema da próxima reunião do Fórum Económico Mundial (FEM), a grande cimeira dos principais agentes globais do neoliberalismo que decorre anualmente em Davos na Suíça, a realizar em Janeiro de 2021.

“Precisamos de renovar todos os aspectos das nossas sociedades e da economia, desde a educação aos contratos sociais e condições de trabalho”, explica o presidente do FEM, o multimilionário alemão Klaus Schwab, a propósito do tema central da próxima reunião. O anúncio da agenda aconteceu em Junho passado e teve a colaboração de figuras extremamente recomendáveis para a sanidade do planeta como são o príncipe Carlos, herdeiro do trono de Inglaterra, o secretário-geral da ONU, António Guterres, a chefe em funções do FMI, Kristalina Georgieva, os presidentes da BP, da Mastercard, da Microsoft, entre outros. “Precisamos de um grande reinício do capitalismo”, resume Schwab em nome do FEM, entidade que se considera uma “organização internacional para a cooperação público-privada”; uma definição que assenta também muito bem a outras instâncias como o Grupo de Bilderberg e até o Evento 201, acontecimento com dotes de adivinhação pois conseguiu em Outubro de 2019 prever a pandemia de um “coronavírus SARS-CoV-2” que só veio a ser proclamada mais de três meses depois.

“Business as usual já não funciona”

Depois de no início de 2020 ter discutido as repercussões pandémicas do novo coronavírus quando na altura havia apenas 150 casos confirmados – revelando dotes de presciência absolutamente esmagadores – o Fórum Económico Mundial prepara agora o “grande reset” do capitalismo neoliberal.

“A pandemia”, explica Schwab, “representa uma rara mas estreita janela de oportunidade para reflectir, reimaginar e redefinir o nosso mundo de modo a criar um futuro mais saudável, mais justo, mais próspero”. E recorrendo a um relatório do FEM sobre o tema da próxima cimeira do neoliberalismo, intitulado “Futuro da Natureza e dos Negócios”, fica a saber-se que o COVID-19 é “uma oportunidade para mudar a forma como comemos, vivemos, crescemos, construímos e alimentamos as nossas vidas de modo a alcançar uma economia neutra em carbono, ‘positiva para a natureza’ e contra a perda de biodiversidade até 2030”. Óptimas intenções, sem dúvida, manifestadas por grandes responsáveis pela destruição do planeta.

O suposto combate às alterações climáticas e o aproveitamento das potencialidades da chamada “Quarta Revolução Industrial” – conceito exposto pelo próprio presidente do FEM em 2015 – são plataformas essenciais para relançamento do capitalismo para lá dos grandes negócios realizados segundo as abordagens habituais, uma vez que, de acordo com um outro relatório do mesmo Fórum, a máxima do “business as usual já não funciona”.

Pelo que depois de admitirem a falência do ultraliberalismo e consequente apodrecimento do planeta em várias frentes, incluindo a ambiental, os grandes predadores preparam-se agora para surgir como seus salvadores em pleno Inverno negro decorrente das segunda, terceira, quarta ou enésimas vagas de COVID-19 e respectiva exploração em termos de pânico social.

Os que depauperam a Terra e os seus habitantes ao mesmo tempo que enriquecem de maneira obscena – nunca as fortunas dos predadores cresceram tão rapidamente como nestes tempos de pandemia – são os mesmos que vão surgir como salvadores prometendo um futuro risonho construído por um capitalismo autorregenerado. Acredite quem quiser, quem não pensa, quem se deixa intoxicar pela comunicação corporativa.

“Bem-vindos a 2030”

Já existem visões desse futuro localizado à escassa distância de dez anos.

“Bem-vindos a 2030! Sou dono de nada, não tenho privacidade e a vida nunca foi melhor” – eis o título de um texto exposto no website oficial do Fórum Económico Mundial, bastante anterior à pandemia mas partindo do princípio de que “janelas de oportunidade” como esta iriam surgir.

Um futuro erguido através da “Quarta Revolução Industrial”, isto é, supercomputação, robotização, inteligência artificial e utilização sem entraves dos dados pessoais dos cidadãos, que assim abdicariam da sua privacidade em troca de uma “vida melhor” onde cada bem é transformado num serviço comercial tutelado, naturalmente, pelos predadores de sempre. Novos negócios, sem dúvida.

O artigo citado remete, aliás, para uma sessão da reunião do Fórum de Davos de 2017 na qual o tema em debate foi “…E se a privacidade se tornar um bem de luxo?”

Através destes caminhos não é difícil deduzir aonde irão desaguar os milhentos exercícios de caça aos dados pessoais, de identificação centralizada, de perseguição de todos nós e de que a aplicação “Stay Away COVID”, tão recomendada pelo senhor primeiro-ministro como exercício “de cidadania”, é apenas uma faixa de uma muito ampla autoestrada sem fim.

Novos negócios vão sucedendo assim aos velhos e desgastados, ao ritmo da apropriação da vertiginosa inovação tecnológica por uma rede público-privada com malha cada vez mais fina na qual os cidadãos são apanhados até deixarem de se debater, submetidos então à tal prometida “vida que nunca foi melhor”.

E o Fórum Económico Mundial é a grande feira global onde se centraliza a construção desse “novo futuro”.

Como funciona?

O FEM é uma realidade muito mais vasta do que a cimeira anual propriamente dita. A organização tem uma “inteligência estratégica” elaborada com a participação de instituições de cariz global, algumas das quais têm estado particularmente em evidência nestas eras de pandemia, o que torna obrigatório reflectir muito para lá das peripécias do vírus e respectivos aproveitamentos. Entre essas entidades figuram, por exemplo, a Universidade de Harvard, o Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), o Imperial College de Londres, o Centro John Hopkins, a Universidade de Oxford, o Conselho Europeu de Relações Externas e os plutocratas/filantropos/fundações do costume como Bill Gates, George Soros, Rockfeller, Ford, Johnson & Johnson e alguns outros – instituições que estão presentes em tudo o que mexe no mundo à escala global, desde a guerra das vacinas às “revoluções coloridas” ou mesmo até ao “damos o golpe quando e onde for preciso”. A frase, recorda-se, pertence a Elon Musk, o fundador da Tesla e, por sinal, o plutocrata cuja fortuna tem crescido a maior velocidade durante a pandemia.

O FEM tem, portanto, os seus “parceiros”, empresas e outras instituições que “moldam o futuro por meio de ampla colaboração para o desenvolvimento e implementação das propostas do Fórum e do diálogo público-privado”. Os “parceiros”, para o serem, devem “alinhar com os valores do Fórum”, leia-se as normas do ultraliberalismo estatuídas no “Consenso de Washington” nas suas versões clássica ou “regenerada”.

Os materiais e iniciativas do FEM não escondem o potencial representado pela pandemia de COVID-19 como “janela de oportunidade”. A rede de inteligência estratégica do Fórum produziu uma extensa e pormenorizada Plataforma de Acção COVID, definida como “governo global para resposta à pandemia (…) moldando o futuro no século XXI desde os media às vacinas”. Ou, por outras palavras, de como levar as pessoas pelos caminhos que interessam aos predadores transformados em salvadores enquanto refinam e ampliam a exploração e o controlo centralizado da sociedade globalizada.

O Fórum Económico Mundial não actua por sua conta e risco na definição das agendas das cimeiras, mesmo tratando-se de uma ampla rede que interliga os principais agentes do neoliberalismo global.

O anúncio do “Great Reset” do capitalismo como tema da reunião de Janeiro de 2021 em Davos, feito em 3 de Junho deste ano, foi seguido, seis dias depois, pelo lançamento de um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) intitulado “da grande quarentena à grande transformação”.

Conhecendo-se, através de vasta experiência, como actua o FMI, percebe-se de que “grande transformação” fala e do papel desempenhado pela “grande quarentena” no seu lançamento.

Quando lhe disserem, caro leitor, que as abordagens críticas da narrativa oficial da pandemia de coronavírus são frutos “de teorias de conspiração” recorde-se de que o neoliberalismo vê nela uma “janela de oportunidade” para novos e rentáveis negócios que assentam ainda mais na especulação e no controlo dos cidadãos do que na economia real.

Se ainda assim tiver dúvidas lembre-se do que o Fórum Económico Mundial e o FMI andam a tramar.


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