HIROXIMA E NAKASAKI: OS SOCIOPATAS CONTINUAM NO COMANDO
2020-08-09
John Pilger*, Consortium News/O Lado Oculto
Hiroxima e Nagasaki foram actos de assassínio em massa premeditados e que inauguraram a utilização de uma arma intrinsecamente criminosa. Foram justificados por mentiras que constituem o fundamento da propaganda de guerra dos Estados Unidos no século XXI, lançando um novo inimigo e alvo – a China.
Quando em 1967 visitei pela primeira vez Hiroxima, a sombra sobre os degraus ainda estava ali. Era uma impressão quase perfeita de um ser humano em repouso: pernas estendidas, cabeça inclinada, uma mão descaída de lado enquanto aguardava a abertura de um banco.
Às 8 e 15 da manhã de 6 de Agosto de 1945 ele e a sua silhueta foram queimados no granito.
Olhei para a sombra durante uma hora ou mais, depois desci até ao rio onde os sobreviventes ainda viviam em barracas.
Encontrei um homem chamado Yukio, cujo tórax fora gravado com o padrão da camisa que estava usar quando a bomba atómica foi lançada.
Descreveu-me um enorme clarão sobre a cidade, “uma luz azulada, algo como um curto-circuito eléctrico”, depois do qual o vento soprou como um tornado e caiu chuva negra. “Fui atirado ao chão e reparei que apenas os caules das minhas flores tinham restado. Tudo estava suspenso e silencioso; quando me levantei, havia pessoas nuas sem nada dizer. Algumas delas não tinham pele nem cabelo. Eu tinha a certeza de estar morto”.
Nove anos mais tarde voltei a procurá-lo e tinha morrido de leucemia.
Só um repórter, Wilfred Burchett, um australiano, enfrentou a perigosa jornada até Hiroxima no rescaldo imediato do bombardeamento atómico, desafiando as autoridades de ocupação Aliadas e que controlavam o “pacote da imprensa”.
“Escrevo isto como uma advertência ao mundo”, relatou Burchett no London Daily Express de Londres em 5 de Setembro de 1945. Sentado nos escombros, com a sua máquina de escrever Hermes Baby, descreveu as enfermarias do hospital cheias de pessoas sem lesões visíveis e que estavam a morrer com aquilo a que ele chamou “uma praga atómica”.
Por isso, a acreditação de imprensa foi-lhe retirada, ele foi posto no pelourinho e enlameado. Nunca lhe perdoaram ter testemunhado a verdade.
O bombardeamento atómico de Hiroxima e Nagasaki foi um acto de assassínio em massa premeditado que representou a estreia de uma arma intrinsecamente criminosa. Foi justificado pelas mentiras que constituem a base da propaganda de guerra dos Estados Unidos no século XXI, lançando agora um novo inimigo e alvo – a China.
Poupar vidas?
Durante os 75 anos passados desde Hiroxima, a mentira mais duradoura é a de que a bomba atómica foi lançada para acabar com a guerra no Pacífico e poupar vidas.
“Mesmo sem os bombardeamentos atómicos”, concluiu o inquérito United States Strategic Bombing Survey de 1946, “a supremacia aérea sobre o Japão poderia ter exercido pressão suficiente” para provocar a rendição incondicional e evitar a necessidade de invasão. “Com base numa investigação pormenorizada de todos os factos e apoiada no testemunho dos dirigentes japoneses sobreviventes envolvidos”, é opinião do inquérito que “… o Japão ter-se-ia rendido mesmo que as bombas atómicas não tivessem sido lançadas, mesmo que a Rússia não tivesse entrado na guerra [contra o Japão] e mesmo que nenhuma invasão tivesse sido planeada ou contemplada”.
Os Arquivos Nacionais em Washington contêm documentadas tentativas de paz por parte dos japoneses já em 1943. A nenhuma foi dado seguimento. Um telegrama enviado em 5 de Maio de 1945 pelo embaixador da Alemanha em Tóquio e interceptado pelos Estados Unidos deixou claro que os japoneses estavam desesperados pedindo a paz, incluindo a “capitulação mesmo que os termos sejam duros”. Nada foi feito.
O secretário norte-americano da Guerra, Henry Stimson, disse ao presidente Truman que estava “receoso” de que a US Air Force tivesse bombardeado tanto o Japão que a nova arma não seria necessária para “mostrar a sua força”. Stimson admitiu mais tarde que “nenhum esforço foi feito e nenhum foi seriamente considerado para conseguir simplesmente a rendição de modo a não ter de usar a bomba [atómica]”.
Os parceiros de Stimson em política externa – olhando mais para diante, para a era do pós-guerra que estavam então a moldar “à nossa imagem”, como o famoso planificador da Guerra Fria, George Kennan, afirmou – deixaram claro que estavam ansiosos “por intimidar os russos com a bomba [atómica] que mantinham ostensivamente a tiracolo”. O general Leslie Groves, director do Projeto Manhattan que fabricou a bomba atómica, testemunhou: “Nunca houve qualquer dúvida da minha parte de que a Rússia era nossa inimiga e que o projecto foi conduzido nessa base”.
No dia seguinte à destruição de Hiroxima, o presidente Harry Truman manifestou a sua satisfação com o “êxito esmagador” da “experiência”.
A “experiência” continuou muito depois de a guerra terminar. Entre 1946 e 1958, os Estados Unidos fizeram explodir 67 bombas nucleares nas Ilhas Marshall no Pacífico: o equivalente a mais do que uma Hiroxima todos os dias durante 12 anos.
Os seres humanos como cobaias
As consequências humanas e ambientais foram catastróficas. Durante a filmagem do meu documentário The Coming War on China (A Próxima Guerra com a China) fretei um pequeno avião e voei para o Atol de Bikini, nas Ilhas Marshall. Foi ali que os Estados Unidos fizeram explodir a primeira bomba de hidrogénio do mundo. Ali a terra continua envenenada. Os meus sapatos foram registados como “inseguros” no contador Geiger de radiações. Palmeiras erguem-se segundo formas que não são deste mundo. Não existem aves.
Caminhei através da selva até ao bunker de betão onde, às 6 e 45 da manhã de 1 de Março de 1954, foi premido o botão. O sol, que já tinha nascido, nasceu de novo e vaporizou uma ilha inteira na laguna, deixando um imenso buraco negro que visto do ar é um espectáculo ameaçador: um vazio mortal num lugar de beleza.
A precipitação radioactiva propagou-se rapidamente e “inesperadamente”. A história oficial afirma que “o vento mudou subitamente”. Foi a primeira de muitas mentiras, como revelam documentos desclassificados e os testemunhos das vítimas.
Gene Curbow, meteorologista designado para monitorizar o local do teste, disse: “Eles sabiam para onde iria a precipitação radioactiva. Mesmo no dia da detonação ainda havia oportunidade de evacuar pessoas, mas [as pessoas] não foram evacuadas; eu não fui evacuado… Os Estados Unidos precisavam de algumas cobaias para estudar os efeitos que a radiação iria provocar”.
Tal como Hiroxima, o segredo das Ilhas Marshall foi uma experiência premeditada com incidência nas vidas de um grande número de pessoas. Este foi o Projecto 4.1, que começou como um estudo científico em ratos e se tornou uma experiência em “seres humanos expostos à radiação de uma arma nuclear”.
Os habitantes das Marshall que encontrei em 2015 – tal como os sobreviventes de Hiroxima que entrevistei nas décadas de 1960 e 1970 – sofriam de um conjunto de lesões, habitualmente lesões da tiroide; milhares já tinham morrido. Abortos e nado mortos eram comuns; os bebés que sobreviviam sofriam frequentemente horríveis deformações.
O atol de Rongelap, vizinho de Bikini, não foi evacuado durante o teste da bomba H. Expostos directamente ao vento de Bikini, os céus de Rongelap escureceram e caiu o que ao princípio pareciam ser flocos de neve. Alimentos e água ficaram contaminados; e a população foi invadida por doenças. Isto continua a verificar-se ainda hoje.
Encontrei Nerje Joseph, que me mostrou uma fotografia sua de quando era criança em Rongelap. Tinha terríveis queimaduras faciais e faltava-lhe grande parte do cabelo. “Estávamos a banhar-nos no dia em que explodiu a bomba”, disse ela. “Um pó branco começou a cair do céu. Consegui apanhá-lo e começámos a usá-lo como sabão para lavar o cabelo. Poucos dias depois o cabelo começou a cair-nos”.
“Alguns de nós estavam em agonia”, disse Lemoyo Abon. “Outros tinham diarreia. Estávamos aterrados. Pensámos que deveria ser o fim do mundo”.
Os excertos de filmes do Arquivo Oficial dos Estados Unidos que incluí no meu documentário tratam os ilhéus como “selvagens dóceis”. Depois da explosão, um responsável da Agência de Energia Atómica dos Estados Unidos foi visto a gabar-se de que Rongelap “é de longe o lugar mais contaminado da terra”, acrescentando: “seria interessante obter uma medida da absorção humana quando as pessoas vivem num ambiente contaminado”.
Cientistas norte-americanos, incluindo médicos, construíram carreiras de fama estudando a “absorção humana”. São estrelas a cintilar no filme, de batas brancas e muito atentos às suas macas. Quando um habitante do atol morreu, ainda em idade adolescente, a família recebeu um cartão do cientista que o estudou manifestando a sua simpatia.
Fiz reportagens em cinco pontos de impacto (“ground zeros”) através do mundo – no Japão, nas Ilhas Marshall, no Nevada, na Polinésia e em Maralinga, na Austrália. Talvez mais ainda do que a minha experiência como correspondente de guerra, este trabalho documentou-me sobre a crueldade e a imoralidade de uma grande potência: ou seja, a potência imperial, cujo cinismo é o verdadeiro inimigo da humanidade.
Esta realidade atingiu-me em força quando filmei no Ground Zero de Taranaki, em Maralinga, no deserto australiano. Numa cratera estava um obelisco onde se podia ler “Uma arma atómica britânica explodiu aqui a 9 de Outubro de 1957”. Na borda da cratera via-se um letreiro: AVISO: PERIGO DE RADIAÇÃO
Tanto quanto a vista podia alcançar, e ainda mais além, o terreno estava irradiado. Plutónio bruto espalhado como pó de talco: o plutónio é tão perigoso para os humanos que um terço de um miligrama tem 50 por cento de probabilidades de provocar cancro.
As únicas pessoas que poderiam ter visto o sinal eram indígenas australianos, para os quais os dizeres não faziam sentido. Segundo um relato oficial, se tivessem sorte “eram enxotados como coelhos”.
Da bomba ao “pivot asiático” e ao “Indo-Pacífico”
Hoje, uma campanha de propaganda sem precedentes enxota-nos a todos como coelhos. Em causa está a torrente diária da retórica anti-chinesa, que rapidamente está a ultrapassar a torrente da retórica anti-russa. Qualquer coisa chinesa é má, um anátema, uma ameaça: Wuhan… Huawei.
A fase actual desta campanha começou não com Trump mas com Barack Obama, que foi em 2011 foi à Austrália para anunciar a maior acumulação de forças navais norte-americanas na região da Ásia-Pacífico desde a Segunda Guerra Mundial. Subitamente, a China tornara-se uma “ameaça”. O que é um disparate, naturalmente. O que está sob ameaça é a incontestada visão psicopática dos Estados Unidos como a nação mais rica, mais bem- sucedida, mais “indispensável”.
O que nunca foi posto em causa foram suas proezas próprias de um valentão – com mais de 30 membros das Nações Unidas sofrendo alguma espécie de sanções norte-americanas, um rasto de sangue a correr através de indefesos países bombardeados, com governos derrubados, com ingerências em eleições e recursos saqueados.
A declaração de Obama ficou conhecida como o “pivot para a Ásia”. Uma de suas principais defensoras foi a sua secretária de Estado, Hillary Clinton: como revelou WikiLeaks, queria rebaptizar o Oceano Pacífico como “o Mar Americano”.
Clinton nunca ocultou o seu belicismo; já Obama era um mestre do marketing: “afirmo claramente e com convicção”, disse o novo presidente em 2009, “que o compromisso da América é procurar a paz e a segurança de um mundo sem armas nucleares”.
Obama aumentou os gastos com ogivas nucleares mais rapidamente do que qualquer presidente dos Estados Unidos desde o fim da Guerra Fria. Foi desenvolvida uma arma nuclear “utilizável”, conhecida como B61 Modelo 12 ou B61-12. Segundo o general James Cartwright, ex-vice-chefe do Estado-Maior Conjunto, “criar uma arma menor [torna o seu uso] mais admissível”.
O “laço perfeito”
O alvo é a China. Hoje, mais de 400 bases militares norte-americanas quase rodeiam a China com mísseis, bombardeiros, navios de guerra e armas nucleares. Do norte da Austrália, passando pelo Pacífico, ao Sudeste Asiático, ao Japão e à Coreia, passando pela Eurásia, ao Afeganistão e à Índia, as bases formam, como me disse um estratego norte-americano, “o laço perfeito”.
Um estudo do think tank RAND Corporation – que desde o Vietname tem planeado guerras dos Estados Unidos – intitula-se Guerra com a China: Pensando o Impensável (War with China: Thinking Through the Unthinkable). Encomendado pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, evoca o grito infame do estratego-mor da Guerra Fria, Herman Kahn – “pensar o impensável”. O livro de Kahn intitulado Sobre a Guerra Termonuclear (On Thermonuclear War) traçava um plano para uma guerra nuclear “que podia ser vencida”.
A visão apocalíptica de Kahn é partilhada pelo secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, um fanático evangélico que acredita no “êxtase do Fim” (“rapture of the End”). Talvez seja o mais perigoso dos homens vivos. “Eu era diretor da CIA”, gabou-se ele, “nós mentimos, trapaceámos, roubámos. Era como se tivéssemos cursos de treino completos”. A obsessão de Pompeo é a China.
O objectivo final do extremismo de Pompeo raramente é, se é que alguma vez foi, discutido nos media anglo-americanos, onde os mitos e falsificações sobre a China são o cardápio corrente, a exemplo das mentiras sobre o Iraque. Um racismo virulento envolve esta propaganda. Qualificados como “amarelos”, muito embora sejam brancos, os chineses são o único grupo étnico alguma vez banido de entrar nos Estados Unidos por uma “lei de exclusão”. A cultura popular declarou-os sinistros, inconfiáveis, “dissimulados”, depravados, doentes, imorais.
Uma revista australiana, The Bulletin, dedicou-se a promover o medo do “perigo amarelo” como se toda a Ásia estivesse prestes a cair, pela força da gravidade, sobre as colónias só para brancos.
Como escreve o historiador Martin Powers, reconhecer a modernidade da China, a sua moralidade laica e as “contribuições para o ameaçado pensamento liberal confrontam a Europa, pelo que se torna necessário suprimir o papel da China no debate do Século das Luzes …. Durante séculos, a ameaça da China ao mito da superioridade ocidental tornou-a um pretexto fácil como chamariz racial”.
O racismo em acção
No Sydney Morning Herald, um incansável inimigo da China, Peter Hartcher, descreveu aqueles que espalham a influência chinesa na Austrália como “ratos, moscas, mosquitos e pardais”. Hartcher, que cita favoravelmente o demagogo norte-americano Steve Bannon, gosta de interpretar os “sonhos” da actual elite chinesa, de quem ele aparentemente tem conhecimento privado. Estes são inspirados pela nostalgia do “Mandado do Céu” de há dois mil anos. Ad nauseam.
Para combater este “mandado”, o governo australiano de Scott Morrison encomendou a um dos países mais seguros do mundo, cujo principal parceiro comercial é a China, mísseis norte-americanos no valor de centenas de milhares de milhões de dólares e que podem ser disparados contra a China.
As consequências começam a aparecer. Num país historicamente marcado pelo racismo violento contra asiáticos, australianos de ascendência chinesa formaram um grupo de vigilância para proteger os entregadores em motocicletas. Vídeos captados por telemóveis mostram um entregador esmurrado na cara e um casal chinês abusado racialmente num supermercado. Entre Abril e Junho deste ano houve quase 400 ataques racistas contra australianos de origem asiática.
“Nós não somos vossos inimigos”, disse-me um estratego de alto nível na China, “mas se vocês [no Ocidente] decidirem que somos, então devemos preparar-nos sem demora”. O arsenal da China é pequeno em comparação com o dos Estados Unidos, mas está a crescer rapidamente, especialmente o desenvolvimento de mísseis marítimos concebidos para destruir frotas de navios.
“Pela primeira vez”, escreveu Gregory Kulacki, da Union of Concerned Scientists, a “China está a discutir a possibilidade de colocar os seus mísseis nucleares em alerta máximo de modo a que possam ser lançados rapidamente perante um aviso de ataque… Isto seria uma mudança significativa e perigosa na política chinesa…”
Em Washington conheci Amitai Etzioni, ilustre professor de Assuntos Internacionais da Universidade George Washington, que escreveu que está planeada uma “ofensiva cega contra a China”, “com ataques que poderão ser erradamente encarados [pelos chineses] como tentativas preventivas de neutralizar as suas armas nucleares, encurralando-os assim num terrível dilema de utilizá-las ou perdê-las, o [que levaria] à guerra nuclear”.
Em 2019, os Estados Unidos encenaram o seu maior exercício militar desde a Guerra Fria, com grande parte das operações em alto segredo. Um contingente de navios e bombardeiros de longo alcance ensaiou um “Air-Sea Battle Concept for China” (ASB) bloqueando as vias marítimas no Estreito de Malaca e cortando o acesso da China ao petróleo, ao gás e a outras matérias-primas do Médio Oriente e da África.
É o receio desse bloqueio que fez a China desenvolver a sua Iniciativa Cintura e Estrada (ICE) ao longo da antiga Rota da Seda para a Europa e construir urgentemente pistas de aterragem estratégicas em recifes e ilhotas no disputado arquipélago de Spratley.
Em Xangai conheci Lijia Zhang, uma jornalista e romancista de Pequim, típica de uma nova classe de personalidades independentes. O seu livro mais vendido tem o título irónico de Socialismo é óptimo! (Socialism Is Great!) Tendo crescido na caótica e brutal Revolução Cultural, viajou e viveu nos Estados Unidos e na Europa. “Muitos norte-americanos imaginam”, disse, “que o povo chinês vive uma vida miserável, reprimida e sem qualquer liberdade. A [ideia do] perigo amarelo nunca os abandonou… Eles não fazem ideia de que há cerca de 500 milhões de pessoas a ser retiradas da pobreza, alguns admitem que sejam 600 milhões”.
As conquistas épicas da China moderna, a sua derrota da pobreza em massa e o orgulho e contentamento do seu povo (medido por pesquisadores norte-americanos como a Pew) são voluntariamente desconhecidas ou mal compreendidas no Ocidente. Isto é, por si só, uma confirmação do lamentável estado do jornalismo ocidental e do abandono do conceito de reportagem objectiva.
O lado escuro repressivo da China e daquilo a que gostamos de chamar o seu “autoritarismo” são a única fachada que nos permitem ver quase exclusivamente no Ocidente. É como se fôssemos alimentados com histórias intermináveis do malvado super vilão Dr. Fu Manchu. É hora de nos interrogarmos porquê: antes que seja demasiado tarde para impedir a próxima Hiroxima.
*Jornalista australiano radicado no Reino Unido, autor de diversos livros e filmes com denúncias contundentes dos crimes do imperialismo em várias partes do mundo