AS MISTERIOSAS MORTES DE DOIS INVESTIGADORES DO COVID-19
2020-06-22
Robert Bridge, Strategic Culture/O Lado Oculto
A Academia não tem reputação de ser um cenário repleto de violência e mortes súbitas e inexplicáveis. Apesar disso, no auge da pandemia de COVID-19 dois jovens investigadores pioneiros no mesmo campo de estudo encontraram fins misteriosos.
No exterior dos círculos académicos, o Dr. James Taylor e o Dr. Bing Liu eram relativamente desconhecidos. No interior da comunidade científica, porém, os dois tinha um estatuto comparável ao de estrelas de rock. E agora, no curto período de trinta dias, os dois homens ainda jovens encontraram a morte num momento em que os seus talentos eram mais necessários.
James Taylor, 1979 – 2020
Comecemos pela vida e obra de James Taylor, que faleceu em 2 de Abril com 40 anos. Qualquer pessoa que pretenda conhecer pormenores sobre a morte deste homem notável ficará desapontada; até ao momento, nenhuma informação foi disponibilizada ao público.
“A causa da morte de James ainda não é conhecida e, como os profissionais de medicina estão sobrecarregados em Baltimore, talvez nunca a saibamos”, afirma-se no website do Galaxy Project, usando o coronavírus como justificação para não conseguir aprofundar mais as razões da morte de um colega. “Dada a rapidez com que tudo aconteceu, é muito improvável que a causa da morte tenha sido o COVID-19”.
Até que seja fornecida qualquer informação adicional sobre a causa da morte, parece razoável perguntar se Taylor estaria envolvido em algum projecto ou actividade que possa ter feito dele um alvo potencial de quaisquer manobras sujas. Passando em revista a sua página no Twitter apura-se que pouco antes da sua morte prematura ocorreram algumas discussões apaixonadas. Antes de entrar nessa matéria, contudo, são necessárias algumas informações sobre a sua formação profissional.
De acordo com o seu obituário no website da Universidade Johns Hopkins, Taylor foi um “pioneiro em computação na biologia e em investigação genómica”, âmbitos nos quais deu uma contribuição significativa como “cientista, professor e colega”.
O primeiro momento de afirmação de Taylor na comunidade científica, no entanto, aconteceu com a criação do Galaxy, um sistema alojado em nuvem e que foi descrito como “o primeiro recurso abrangente de análise de dados em Ciências da Vida”. De acordo com o seu site, o Galaxy proporciona uma plataforma aberta que pretende tornar a biologia computacional acessível aos cientistas, principalmente àqueles que estão envolvidos na investigação genómica, um importante campo de estudo quando se trata do desenvolvimento de medicamentos e vacinas.
É sobre este particular ponto que Taylor se envolveu em debates apenas alguns dias antes da sua morte. Em 19 de Março o investigador fez uma pergunta aparentemente inócua na sua página de Twitter: “Podemos falar na partilha de dados genómicos para a pesquisa #covid19#SARSCoV2?” – James Taylor (@jxtx) 19 de Março de 2020”.
A avaliar pelo feedback, a pergunta provou estar sobrecarregada de importância. A pergunta de Taylor desvendou a frustração sentida por outros grupos de investigação, como NCBI e Nextstrain, que tentavam recuperar as características genómicas do COVID-19 mas estavam a encontrar obstáculos. Os colegas de Taylor, Anton Nekrutenko e Sergei Kosakovsky Pond, manifestaram preocupações semelhantes em relação a esses obstáculos um mês antes num artigo intitulado “Já não há os hábitos de outrora: respostas ágeis e eficazes a ameaças emergentes de patógenos exigem dados abertos e análises abertas”.
“O estado actual de grande parte da pesquisa sobre o vírus da pneumonia de Wuhan (COVID-19) revela uma lamentável falta de partilha de dados e uma ofuscação analítica considerável”, escreveram Nekrutenko e Kosakovsky Pond. “Isso impede a cooperação global na investigação, essencial para lidar com emergências de saúde pública, que requer acesso fácil a dados, ferramentas de análise e infraestrutura computacional”.
Eis aqui uma coisa de que muitas pessoas suspeitam há muito sobre o mundo da Academia: é implacável e egoísta, tanto como qualquer empresa à procura de objectos lucrativos. Os académicos não apenas protegem ferozmente o seu trabalho, o que é perfeitamente compreensível, como também não estão cegos perante o potencial de vantagens financeiras resultantes dos seus trabalhos – no que discordo.
Bjorn Gruning (@bjoerngruening) no Twitter em 26 de Março de 2020: “Esses dados devem estar na ENA ou SRA (bases de dados) sem restrições!”
A julgar pela sua actividade nas redes sociais, parece que o principal choque de James Taylor foi com o GISAID, uma plataforma alemã que significa Iniciativa Global sobre a Partilha de Todos os Dados de Influenza. Esta organização público-privada, que tem igualmente parcerias com os governos de Singapura e dos Estados Unidos, adquiriu grande parte dos genomas de muitas doenças, incluindo da COVID-19, informações essas que são críticas no desenvolvimento de medicamentos e vacinas.
Num tweet de seguimento, Taylor contestou o facto de a GISAID “ter muitos mais dados… Mas restrições onerosas ao uso e partilha de dados, em especial, não permitem partilhar dados sobre sequências”. A mensagem foi seguida de um comentário segundo o qual as restrições do GISAID ao uso de dados são “um impedimento real à análise rápida e cooperativa de dados, incluindo os nossos esforços para criar canais transparentes de análise reutilizáveis e reproduzíveis para análise de surtos”.
Enquanto Taylor criticava o GISAID por alegadamente não partilhar os seus dados sobre sequências do COVID-19, esta plataforma vangloriava-se da sua transparência no próprio website. Onde estará então a verdade? A avaliar pelos comentários no feed de James Taylor no Twitter, tudo leva a crer que a GISAID não foi completamente sincera nas suas afirmações.
Por exemplo, David O´Connor, um virologista da Universidade de Washington (Madison), comentou no tópico de Taylor no Twitter: “Duvido que muitas pessoas que contribuíram com dados para o GISAID o tenham feito com a intenção de que eles sejam silenciados…”
A Drª Melissa A. Wilson, proeminente bióloga evolucionista e computacional da Arizona State University, também expressou descontentamento pelo fracasso da partilha de dados críticos do genoma que poderiam auxiliar investigadores a descobrir a cura para o COVID-19.
Num tweet datado de 23 de Março, Wilson dirigiu perguntas a Taylor: “Quem está a fazer sequências do COVID-19? Onde estão a ser armazenados os dados para que sejam acessíveis?”
É natural que leitores menos familiarizados com o funcionamento da comunidade científica neste momento esteja a interrogar-se: “Muito bem, e daí? Qual é o verdadeiro significado da circunstância de um grupo de investigadores sentir problemas para aceder à estrutura do genoma do coronavírus?”.
O problema é que isso poderá significar a possibilidade de desenvolver ou não uma vacina contra a doença.
Vem a propósito recordar que em 18 de Outubro de 2019 a Universidade Johns Hopkins, juntamente com o Fórum Económico Mundial (Davos) e a Fundação Bill e Melinda Gates organizou o “Event 201”, um exercício de alto nível em que foi simulada a cooperação entre os sectores público e privado no combate a uma pandemia. O acontecimento simulou tão perto da realidade o surto de COVID-19 que apenas dois meses depois a Universidade de Johns Hopkins sentiu necessidade de fazer uma declaração negando que tivesse organizado “uma previsão” da pandemia em curso.
Além disso, esta mesma universidade está fervorosamente envolvida na corrida por vacinas da COVID-19.
“Calculo que tenhamos em marcha um programa massivo de vacinação”, declarou Andrew Pekosz, professor da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins em entrevista à agência Bloomberg. “As vacinas actualmente na liderança… são as que serão ministradas através de injecção”.
Uma pergunta que pode ser feita é se o Dr. James Taylor estaria, de alguma maneira, fazendo investigações úteis para uma vacina da COVID-19 que escapassem ao controlo das entidades com mais poder na corrida em curso. Ou será que o renomado investigador com 40 anos morreu repentinamente de morte natural no momento em que a pesquisa de uma vacina se tornou o foco central de cientistas e empresas farmacêuticas?
Dr. Bing Liu, 1982-2020
Em 2 de Maio o Dr. Bing Liu, professor assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh (UPSM), com 37 anos, foi encontrado morto com vários ferimentos de balas em sua casa, num bairro suburbano de Pittsburgh. Uma outra vítima, identificada como Hao Gu, foi encontrada morta dentro do próprio carro, nas imediações da casa de Liu, na sequência do que a polícia diz ser um suicídio com um tiro na cabeça.
Quatro dias depois das duas mortes a polícia de Ross Township explicou a versão dos acontecimentos à luz de “uma longa disputa sobre um parceiro íntimo”.
“Não encontrámos qualquer prova de que os trágicos acontecimentos tenham alguma coisa a ver com o emprego na Universidade de Pittsburgh, qualquer trabalho que esteja a ser realizado no âmbito desse estabelecimento de ensino e com a actual crise de saúde que afecta os Estados Unidos e o mundo”, disse o sargento Brian Kohlheep, detective do caso.
O que torna o assunto particularmente melindroso é que, segundo a página em sua homenagem editada no website da UPSM, “o Dr. Bing estava prestes a apresentar descobertas muito significativas para a compreensão dos mecanismos celulares subjacentes à infecção por SARS-CoV-2 e a base celular das complicações subsequentes”.
Outro aspecto notável é o manifesto alinhamento dos currículos académicos de Bing Liu e James Taylor. Ambos estavam envolvidos no campo restrito de sistemas computacionais da biologia e das técnicas de conhecimento dos mecanismos de previsão dos comportamentos das espécies biológicas.
As vidas dos dois académicos chegaram a cruzar-se através da filiação mútua na prestigiada Universidade Carnegie Mellon, também localizada em Pittsburgh. Liu trabalhou neste estabelecimento como bolseiro de pós-doutoramento no Departamento da Ciência da Computação enquanto Taylor ministrava seminários sobre o seu programa Galaxy. Mesmo que Taylor não estivesse familiarizado com o produtivo trabalho de Liu a situação iria alterar-se a partir do momento em que os anunciados resultados das inovadoras investigações deste sobre o COVID-19 fossem lançados. Este momento mágico, porém, não chegou a acontecer devido à morte prematura de Liu.
Em relação ao suposto caso de assassínio-suicídio, os pormenores são escassos. Os media dominantes abordam o assunto como resultado da “longa disputa sobre um parceiro íntimo”. A comunicação social local prefere destacar que o cientista e a esposa não tinham filhos e que mantinham uma vida muito reservada. O que não exclui que os dois homens pudesse estar a disputar o afecto de outra mulher. No entanto, com o casado Liu prestes a anunciar grandes avanços na frente do combate ao novo coronavírus é provável que tivesse muito pouco tempo para quaisquer “actividades extracurriculares”.
De qualquer maneira, não está ainda claro como os dois homens se conheceram e um possível motivo para o assassínio ainda continua a ser um mistério, informa a publicação Post-Gazette. Os vizinhos afirmam que não ouviram tiros na ocasião em que terão ocorrido as mortes dos dois homens.
Há ainda algumas interrogações em torno da escolha da arma do crime, neste caso uma pistola. Como Liu e o seu suposto assassínio não eram cidadãos dos Estados Unidos abre-se a questão de saber como Hao Gu teve acesso a uma arma de fogo. É ilegal – embora certamente não seja impossível – a compra de armas de fogo por estrangeiros nos Estados Unidos.
O que nos resta, portanto, num momento em que o mundo procura desesperadamente uma maneira de combater o COVID-19, é o legado de dois investigadores pioneiros que trabalhavam no sentido de conhecer melhor a doença. Embora não possamos conhecer a verdadeira história por detrás da morte prematura de Taylor e Liu, a probabilidade de os dois renomados cientistas – com formação profissional idêntica – morrerem com um mês de diferença no momento em que ambos estavam a avançar contra a pandemia é certamente muito menor do que as hipóteses de alguém sucumbir ao COVID-19. As mortes de Bing Liu e James Taylor merecem um escrutínio muito mais apurado por parte dos media dominantes.