EXTREMA-DIREITA MARCA PONTOS EM BRUXELAS

2019-08-06
Pilar Camacho, Bruxelas
O recente encontro entre a presidente indigitada da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro húngaro, o neofascista Viktor Orban, revelou uma significativa identidade de pontos de vista em assuntos como a política de migração, a política de defesa e segurança e a indústria militar. “Concordámos com a necessidade de um novo começo e soluções pragmáticas sobre migração”, disse von der Leyen. Em questões de migração, a nova presidente da Comissão “é capaz de pensar com a cabeça dos europeus da Europa Central”, comentou Orban.
As informações que têm vindo a público sobre o encontro entre os dois dirigentes e as declarações proferidas ou “twittadas” depois revelam importantes afinidades de pontos de vista entre o primeiro-ministro húngaro e a ex-ministra alemã da Defesa; confirmam também que as contribuições dos parlamentares europeus do Fidesz, o partido de Orban, tal como as dos polacos do Partido do Direito e da Justiça (PiS), foram determinantes para que von der Leyen fosse confirmada por pouco mais de meia dúzia de votos. Uma situação que, nos negócios de bastidores de que se alimenta a política da União, a indigitada presidente da Comissão terá de levar em conta tanto na formação da sua equipa como nas futuras decisões em matérias-chave.
Este cenário começou a delinear-se, aliás, ainda antes da própria votação parlamentar, quando membros dos partidos neofascistas dirigentes na Polónia e na Hungria receberam lugares de destaque durante a fase de arranjos para o funcionamento do Parlamento Europeu na nova legislatura. O que aconteceu, por exemplo, apesar de o Fidesz estar formalmente “suspenso” do Partido Popular Europeu (PPE), a entidade que, em segunda escolha, indigitou von der Leyen.
Uma “reunião de vencedores”
“Tomámos uma boa decisão até agora”, disse o primeiro-ministro húngaro depois da reunião em Bruxelas, elogiando o “instinto pragmático” de von de Leyen. Trata-se de uma pessoa que “tem na mente as mesmas interrogações que nós em relação ao futuro”, designadamente a imigração, as crianças e as famílias, a segurança, a força de defesa comum europeia e o desenvolvimento da indústria militar. Quanto às migrações, Orban pormenorizou que a presidente da Comissão “é capaz de pensar com a cabeça dos europeus da Europa Central”, onde se concentram muitas das correntes mais xenófobas da União.
Para Ursula von der Leyen, a reunião com o primeiro-ministro húngaro proporcionou “uma boa conversa”, pois foi alguém que “concordou com a necessidade de um novo começo e soluções pragmáticas sobre migração”. Na opinião da nova presidente, este problema não tem tanto a ver com as quotas de distribuição de imigrantes pelos Estados membros – um factor de divisão – mas sim com a protecção das fronteiras externas, matéria onde será mais fácil alcançar convergências.
Hoje, com von der Leyen, “há uma hipótese maior de uma solução razoável do que antes ou com qualquer outro candidato”, vaticinou Viktor Orban.
A harmonia com que decorreu o encontro entre o dirigente neofascista húngaro e a política alemã de extrema-direita a quem foi confiado o cargo de presidente da Comissão Europeia foi resumido por Judit Varga, nova ministra húngara da Justiça e dos Assuntos Europeus, com as seguintes palavras: tratou-se de “uma reunião de vencedores”.