NATO TREINA GUERRA NUCLEAR NA EUROPA
2020-03-29
Bombardeiros “furtivos” B-2 norte-americanos com capacidades nucleares colocados na base portuguesa das Lajes têm vindo a fazer voos de preparação no Atlântico Norte escoltados por moderníssimos caças F-35 de outros países da NATO, designadamente noruegueses. As operações decorrem no âmbito dos jogos de guerra Defender Europe 20 que os Estados Unidos decidiram manter na Europa apesar de o continente estar mergulhado na tragédia do novo coronavírus. Sendo o comandante supremo aliado na Europa, general Tod Wolters, um defensor do uso de armas nucleares num primeiro ataque – como explicou no Senado de Washington - estes movimentos são suficientes para obrigar os generais russos a colocar também o dedo no gatilho nuclear. O que se trama na Europa enquanto os povos europeus sofrem?
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto
Perante o novo coronavírus, “a nossa primeira preocupação é proteger a saúde das nossas forças e a dos nossos aliados e parceiros” – declarou o Comando Europeu dos Estados Unidos (EUCOM). Nesse sentido, anunciou que reduziu a dimensão das manobras Defender Europe 20 em número de efectivos. Mas o exercício continua mesmo assim.
“Desde Janeiro, o Exército dos Estados Unidos enviou seis mil soldados norte-americanos para a Europa, com 12 mil equipamentos (de armas pessoais a tanques); e "o movimento de soldados e material de diferentes portos para as regiões de treino na Alemanha e na Polónia já foi concluído”, revelou o EUCOM em 16 de Março. Além disso, nove mil efectivos dos Estados Unidos em serviço na Europa participarão igualmente nas manobras. Portanto, desde Janeiro foram movimentados seis mil militares dos Estados Unidos para a Europa, o exército deslocou nove mil veículos e peças de equipamento militar; entretanto, chegaram mais três mil peças militares por via marítima oriundas dos Estados Unidos. E a deslocação de soldados e materiais para a Alemanha e a Polónia foi dada como concluída.
O objectivo declarado pelos Estados Unidos é o de “implantar uma força de combate credível na Europa em apoio da NATO”, obviamente contra a “agressão russa”. Como escrevi há dois meses e meio no Il Manifesto (o único jornal que, na época, deu informações sobre o Defender Europe 20) o verdadeiro objectivo é semear a tensão e alimentar a ideia do inimigo.
A ameaça é nuclear
O cenário das manobras, tal como foram planeadas, nunca poderia acontecer na vida real porque um confronto entre a NATO e a Rússia seria inevitavelmente nuclear. Este é, de facto, o verdadeiro cenário para o qual as forças militares norte-americanas estão a preparar-se na Europa. Isso foi confirmado pelo general Tod D. Wolters, chefe do Comando Europeu dos Estados Unidos e, nessa qualidade, comandante supremo aliado na Europa.
Em 25 de Fevereiro de 2020, durante uma audição na Comissão das Forças Armadas do Senado norte-americano, o comandante da Força Aérea dos Estados Unidos – chefe do EUCOM, general Tod Wolters, declarou: “As forças nucleares são a garantia suprema da segurança dos Aliados e sublinham todas as operações militares dos Estados Unidos na Europa”. O que significa que o Defender Europe 20 não é apenas um exercício de forças convencionais mas também de forças nucleares.
Em 18 de Março foi revelado que dois bombardeiros norte-americanos “furtivos” B-2 Spirit, parte da task-force colocada em 9 de Março na base portuguesa das Lajes, sobrevoaram a Islândia e o Atlântico Norte, escoltados por três caças noruegueses F-35.
Estes dois tipos de aviões de guerra foram projectados para o uso das novas bombas nucleares B61-12 que o Pentágono instalará brevemente em Itália e outros países europeus, substituindo as actuais B-61.
Durante a audição no Senado, o general Wolters deixou claro qual é o papel das forças nucleares dos Estados Unidos na Europa. Quando o senador Fischer lhe perguntou a opinião sobre a hipótese de não ser o primeiro a usar armas nucleares o general respondeu: “Senador, sou adepto de políticas flexíveis da utilização em primeiro lugar”. Isto é, o militar responsável pelas armas nucleares dos Estados Unidos/NATO na Europa declarou oficialmente que defende a sua utilização no primeiro ataque, o ataque nuclear surpresa de forma “flexível”.
Perante uma declaração desta gravidade, que leva os generais russos a colocar o dedo no gatilho nuclear, regista-se um silêncio absoluto por parte dos governos, parlamentos e grandes media europeus.
“Um fósforo num paiol de pólvora”
Durante a mesma audição o general disse:
“Desde 2015 a Aliança Atlântica tem vindo a colocar mais ênfase no papel das capacidades nucleares” e “o Comando Europeu dos Estados Unidos apoia totalmente as recomendações contidas na Revisão da Postura Nuclear de 2018 para instalar o míssil balístico de baixa potência W76-2”.
A ogiva nuclear de baixa potência W76-2, já instalada em mísseis lançados de submarinos (como anunciou o Pentágono em 4 de Fevereiro), também pode ser colocada em mísseis balísticos terrestres nas imediações do território inimigo. A Marinha dos Estados Unidos já tornou operacional a ogiva nuclear de baixo rendimento W76-2, que é utilizada nos mísseis balísticos Trident II lançados de submarinos.
Esta situação é extremamente perigosa. “Armas nucleares de mais baixo rendimento”, advertem inclusivamente especialistas norte-americanos, “aumentam a tentação de usá-las em primeiro lugar e podem levar os comandos a pressionar nesse sentido porque se trata de um ataque com bombas nucleares sabendo que as consequências radioactivas seriam limitadas. Mas seria como acender um fósforo num paiol de pólvora”.