PROVADO: AFINAL AS FAKE NEWS JÁ VÊM DE LONGE…
2020-01-26
Norman Wycomb, Londres; Exclusivo o Lado Oculto
Documentos oficiais tornados de acesso livre agora pelos Arquivos Nacionais Britânicos revelam que os governos de Londres financiaram secretamente meios de comunicação como a agência Reuters e a BBC para publicarem falsas notícias contra a União Soviética, instituições e organizações comunistas. Os documentos dizem respeito ao período entre 1945 e 1977; nada indica que tais procedimentos tenham sido abandonados desde então, independentemente das alterações na cena internacional e das mudanças de proprietários daqueles e outros órgãos de informação.
Os documentos confirmam dados que já eram conhecidos, mas funcionam como provas irrefutáveis do funcionamento organizado e planificado de mecanismos censórios e da criação de informação falsa para “defender” aquilo que os promotores qualificam como “a democracia” e a “civilização ocidental”.
Nos textos agora desclassificados confirma-se que imediatamente no pós-guerra o Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros criou o Information Research Department (IRD, Departamento de Pesquisa de Informação) que tinha como objectivo identificar e desacreditar, através da manipulação e da mentira, militantes e organizações não apenas simpatizantes da União Soviética mas também apoiantes de políticas de esquerda e defensores de posições contrárias à ideologia dominante. O mesmo ministério criou designadamente a Globe News Agency em Istambul, a Near and Far East News Ltd em Nova Deli, a Star News Agency em Carachi e a Arab News Agency, inicialmente no Cairo e depois em Beirute, a partir de 1956. Conhecidas personalidades chegaram a participar neste programa de manipulação e intoxicação como George Orwell, Arthur Kostler e Bertrand Russell.
Estratégias a longo prazo
Como prova de que o anticomunismo não era o único objectivo da teia de desinformação desde a sua criação, os documentos demonstram que o IRD manipulou a opinião pública britânica no sentido de a tornar favorável à adesão à então Comunidade Económica Europeia, o que veio a acontecer em 1973. O primeiro-ministro David Owen decidiu dissolver o IRD em 1977 depois de se tornar demasiado evidente a campanha de intoxicação montada contra a ala esquerda do Partido Trabalhista. Isso não significa que acções desse tipo tenham terminado, como se percebe hoje em dia pelos ataques constantes à esquerda trabalhista no poder dentro do partido e ao seu líder, Jeremy Corbyn, alvo, por exemplo, de acusações de antissemitismo por se limitar a condenar actuações de Israel.
Os documentos desclassificados revelam comportamentos institucionais planificados e com objectivos estratégicos a longo prazo – e não práticas conjunturais fruto de determinadas situações específicas. Tratava-se, como acontece actualmente, de montar campanhas ideológicas com base na falsificação e na mentira contra atitudes e opiniões que ponham em causa o sistema dominante nas duas margens do Atlântico e respectivos apêndices coloniais. A Rússia, a China, devido às suas potencialidades, dimensões e estratégias internacionais e países com sistemas políticos desalinhados da formatação padronizada são os alvos actuais da desinformação como eram anteriormente a União Soviética e o sistema socialista.
Guerras do Iraque e da Síria
Durante trinta anos – o período a que os documentos dizem respeito – O MI6 em Londres e a CIA em Washington controlaram os fluxos de informação no conjunto do mundo ocidental e do chamado Terceiro Mundo, tal como o Nobel da Paz irlandês Sean McBride denunciou na Unesco em 1973.
Nada leva a concluir, olhando para a situação mundial actual, que as práticas de falsificação tenham sido interrompidas; pelo contrário, permanecendo as instituições que fomentam esta estratégia, conhecendo o aperfeiçoamento dos seus meios e a utilização que fazem das novas tecnologias disponíveis é fácil deduzir que a sua eficácia se multiplicou.
O próprio relatório da Comissão Chilcot sobre a manipulação da opinião pública durante a guerra do Iraque iniciada em 2003 revela que as práticas de intoxicação prosseguem.
Além disso, sabe-se que o Ministério Britânico dos Negócios Estrangeiros criou em 2014, em Istambul, a Innovative Communications & Strategies (InCoStrat), uma instituição que controla até hoje grande parte da informação sobre a guerra contra a Síria publicada pela comunicação social corporativa transnacional.
Quanto à Reuters, uma das agências de imprensa financiadas para mentir, de acordo com os documentos desclassificados, foi comprada em 2008 pela norte-americana Thomson Financial. Tudo leva a crer que esteja hoje mais dependente da CIA do que do MI6, embora estes dois organismos se complementem; dispõe de um acesso permanente à sala de comando do Pentágono, de onde pode emitir a propaganda das guerras norte-americanas em tempo real.
Os documentos britânicos oficiais agora tornados públicos têm o mérito de demonstrar, sem quaisquer especulações, o que deve entender-se por “liberdade de imprensa” associada aos “nossos valores civilizacionais” e “democráticos”.