EUA E ISRAEL PLANEIAM GUERRA CIVIL NO LÍBANO
2019-04-11
Edward Barnes, Beirute; com Randi Nord e agência GPA
Durante a visita que o secretário de Estado norte-americano fez ao Líbano em Março o presidente libanês, Michel Aoun, recebeu um documento secreto com origem nos Estados Unidos e Israel contendo um plano para desencadear uma guerra civil no país. Ignora-se como o projecto chegou às mãos do presidente.
O plano, divulgado pela TV libanesa Al-Jadeed, prevê o desenvolvimento de antagonismos sectários dentro das forças de segurança, operações de “bandeira falsa” e uma possível invasão militar israelita. O alvo da operação é desmantelar o Hezbollah.
Fontes políticas libanesas admitem que o documento tenha chegado às mãos de Michel Aoun através da própria delegação de Michael Pompeo, uma vez que a visita do secretário de Estado norte-americano foi toda ela dedicada a forçar o presidente libanês a retirar o Hezbollah de todos os órgãos de poder para o qual os seus membros foram democraticamente eleitos.
Em termos operacionais, o plano desenvolve-se através de criação de divisões nas Forças de Segurança Internas (FSI) - um corpo distinto do exército semelhante a uma guarda nacional e dependente do Ministério do Interior - que conduzam a confrontos directos com o Hezbollah. Os Estados Unidos reservaram 200 milhões de dólares para a iniciativa, 2,5 milhões destinados especificamente à promoção de conflitos envolvendo o Hezbollah. O investimento será feito nas FSI a título de “manutenção da paz”.
O objectivo final é a criação de uma guerra civil, durante a qual os Estados Unidos e Israel canalizarão apoio para “forças democráticas”, a exemplo do que acontece na Síria, Líbia, Venezuela.
As Forças de Segurança Internas deverão pedir a intervenção de Israel, que aceitará “com relutância”. Para essa fase estarão previstas as operações de “bandeira falsa”, provavelmente a realização de “ataques químicos” pelos quais será acusado o Hezbollah, tal como acontece na Síria em relação ao governo de Damasco através de operações dos “Capacetes Brancos”/serviços britânicos de espionagem.
O quadro suscitará uma intervenção internacional, toda ela virada contra o Hezbollah, cujo desmantelamento é o objectivo último do plano.
Ultimato ao presidente
A publicação norte-americana Foreign Policy revelou, entretanto, mais algumas informações sobre a missão de Michael Pompeo junto das autoridades libanesas. O secretário de Estado norte-americano terá advertido o presidente Michel Aoun de que ou afasta o Hezbollah da esfera do poder ou o país será sujeito a consequências sem precedentes, designadamente o fim da “ajuda” dos Estados Unidos e até sanções que poderão atingir os dirigentes do Movimento Patriótico Livre, o partido do chefe do Estado.
As sanções institucionais, segundo Pompeo citado pela Foreign Policy, poderão atingir em primeiro lugar o Ministério da Saúde, dirigido por um representante do ramo político do Hezbollah, medida que poderá por fim às políticas de medicamentos subsidiados e consultas médicas gratuitas, provocando sofrimento entre a população libanesa.
“Será preciso coragem para a nação libanesa enfrentar a criminalidade, o terror e as ameaças do Hezbollah”, disse Pompeo a Aoun ao apresentar-lhe as exigências de Washington.
Um guerra de âmbito regional
Admite-se que o aparecimento do plano de guerra civil tenha chegado às mãos do presidente libanês no quadro destas pressões feitas pelo homem forte da administração de Donald Trump, que já antes conseguiu invalidar a retirada das tropas norte-americanas da Síria.
Entre as pressões exercidas sobre o Líbano está a ameaça de demarcação de águas territoriais de maneira desfavorável a Beirute no contencioso que foi aberto por iniciativa de Israel. Trata-se da disputa de uma zona offshore onde foram detectadas importantes reservas de petróleo, das quais o Líbano seria privado em parte, em favor do Estado hebraico.
A comunicação social libanesa revelou entretanto o interesse norte-americano – ao que parece ainda não oficializado perante Beirute – na construção de uma base militar em território libanês. A notícia está relacionada com um “donativo” muito importante feito por Pompeo para recuperação de um templo cristão maronita numa área da zona costeira do país. A verba envolvida “dá para reconstruir muitas igrejas e comprar significativas áreas de terrenos”, afirmam jornalistas libaneses.
As manobras norte-americanas e israelitas parecem confirmar os preparativos de nova fase da guerra na região através do alastramento do conflito na Síria – sob pretexto de combater o Hezbollah e o Irão – como eventual prenúncio para um conflito que atinja também Teerão. Nesse quadro podem inserir-se igualmente a recente declaração norte-americana dos Guardas da Revolução do Irão como “grupo terrorista” e a elevação do nível operação da “missão” da NATO no Iraque, que adquiriu uma importância idêntica à que governa militarmente o Afeganistão.