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ESTADOS UNIDOS RESSUSCITAM DAESH NA SÍRIA

A base de Al-Tanf, onde forças especiais dos Estados Unidos treinam terroristas do Daesh

2021-02-01

Os terroristas do Estado Islâmico, ISIS ou Daesh voltaram a estar activos na província síria de Deir Ezzor, no nordeste do país, beneficiando de treino e outros apoios que obtêm em duas bases militares norte-americanas mantidas na região. Muito recentemente, jihadistas pertencentes a essa organização atacaram efectivos do Exército Árabe Sírio, as forças armadas nacionais.

Steven Sahiounie, Mideastdiscourse.com/Adaptação O Lado Oculto 

A área de Deir Ezzor tem estado em guerra permanente nos últimos dez anos, desde o início da agressão militar contra a Síria patrocinada pelos Estados Unidos e outras grandes potências da NATO através de organizações terroristas locais que treinam e financiam. Nesta região situam-se alguns dos campos de petróleo e gás mais ricos da Síria. O ex-presidente Donald Trump ordenou às suas tropas de ocupação que se mantivessem na região para assegurar o roubo do petróleo e provocar graves problemas energéticos às populações sírias. Devido a isso, os sírios enfrentam escassez de electricidade e de combustíveis para transportes e aquecimento, com grandes áreas submetidas a temperaturas muito baixas durante o Inverno.

Em 24 de Janeiro, o ISIS atacou um veículo de transporte de soldados do exército sírio, provocando feridos e algumas vítimas mortais. O mesmo acontecera em 30 de Dezembro na estrada entre Deir Ezzor e Palmyra, provocando 30 mortos e 13 feridos.

Estas operações exemplificam o grande aumento de actividade dos terroristas registado nos últimos meses na província de Deir Ezzor. Duas razões podem estar na origem deste recrudescimento: a retirada da região das forças mercenárias russas do grupo Wagner, que mantém agora apenas um pequeno contingente; e, sobretudo, o apoio e o treino que os jihadistas do Daesh têm recebido em duas bases militares dos Estados Unidos – um país que oficialmente afirma combater o grupo terrorista. 

Actualmente existem posições do ISIS no triângulo Alepo-Raqqah (que já foi “capital” do grupo) – Homs. O exército nacional sírio montou uma campanha de segurança em grande escala para proteger a estrada que liga Deir Ezzor a Homs, devido ao aumento de operações do grupo terrorista. 

Os “santuários” de Al-Tanf e Shaddadi

De acordo com o chefe do Estado Maior russo, general Valery Gerasimov, uma das bases norte-americanas onde os terroristas do ISIS recebem treino é a de Al-Tanf, localizada na área de Deir Ezzor.

“Esta base está localizada numa zona com um raio de 55 quilómetros precisamente na fronteira com a Jordânia e o Iraque; fontes de inteligência e outras confirmam que os terroristas estão acolhidos na base, de facto treinam lá”, afirmou o general Gerasimov em entrevista ao jornal russo Konsomolskaya Pravda. O alto militar russo acrescentou que o ISIS usa também como base as estruturas militares ilegais norte-americanas do campo de Shaddadi, igualmente no nordeste da Síria.

O general Valery Gerasimov explicou: “O objectivo desses grupos é desestabilizar a situação. Sabemos que um contingente de aproximadamente 400 efectivos do campo de Shaddadi partiu para a região de Al-Tanf. Quando as principais forças do ISIS foram derrotadas tentaram inverter a situação lançando uma ofensiva a partir da margem oriental do rio Eufrates, mas sofreram sérias perdas”.

Ainda de acordo com o general russo, cerca de 750 terroristas do ISIS permanecem actualmente em Shaddadi e mais 350 em Al-Tanf.

O Pentágono continua sem conseguir explicar esta situação, que contraria a tese oficial segundo a qual os Estados Unidos combatem o ISIS. E também não dá explicação para o facto de continuar a ser um grupo interveniente na agressão contra a Síria apesar da actuação da “coligação internacional” formada pelos Estrados Unidos e outras potências da NATO expressamente para “combater o Daesh”.

O ISIS começou apenas a sofrer derrotas sérias a partir do momento em que, em 2015, forças militares da Rússia entraram na Síria a pedido do governo de Damasco. Moscovo trabalha por uma solução pacífica do conflito sírio através de negociações e reconciliações, mas continuam a existir apoios internacionais por detrás do terrorismo de fachada “islâmica”.

Em 2014 o ISIS controlava vastas regiões do Iraque e da Síria; o seu poder foi enfraquecendo nos dois países a partir do momento em que acções conjuntas da força aérea russa e do exército nacional de Damasco começaram a combater efectivamente os terroristas. No entanto, células do ISIS mantiveram-se adormecidas – com apoio de rectaguarda dos Estados Unidos, como está demonstrado – continuando a lançar ataques esporádicos, agora reforçados em número e intensidade. A instabilidade aumenta na província de Deir Ezzor para níveis considerados de crise.

Analistas militares familiarizados com a situação no terreno consideram que outro factor que contribui para o aumento da insegurança é a retirada de grande parte dos efectivos da empresa mercenária russa Wagner, que estava encarregada de proteger a cidade de Deir Ezzor de qualquer ataque.

As acções do ISIS têm como objectivo explorar as crescentes debilidades da capital da província; alguns especialistas consideram que existe o risco sério de Deir Ezzor vir a ser novamente ocupada, podendo então os terroristas virar as suas atenções para Homs – colocando Damasco sob ameaça.

Os analistas consideram que o retorno dos mercenários do grupo Wagner poderia contribuir para travar o agravamento do problema. Lembram, por outro lado, que não existem quaisquer indícios de que a nova administração Biden pretenda desactivar as instalações de ocupação em Al-Tanf e Shaddadi, muito menos se houver perspectivas de o recrudescimento da guerra colocar novamente Damasco em xeque. Centrais de inteligência de países associados na NATO têm sublinhado que Biden pode pretender “acabar o que Obama começou”.



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