O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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HERDEIROS DA GLADIO/NATO ANDAM À SOLTA NA EUROPA

2020-11-23

Louise Nyman, Copenhaga; especial O Lado Oculto

A imprensa dinamarquesa tem dado destaque às provas de que o Estado dinamarquês autoriza a espionagem da sua própria administração pública e das empresas privadas do sector militar pelos Estados Unidos da América. O fenómeno não é recente e tem a sua origem nas redes clandestinas (Stay behind, Gladio) instauradas pela NATO nos países da aliança.

De acordo com a generalidade das informações vindas agora a público, o processo de espionagem em funcionamento na sua forma actual tem origem em 1992, quando a administração de Bill Clinton pediu ao primeiro-ministro dinamarquês de então, Poul Nyrup Rasmussen, o acesso dos serviços de espionagem dos Estados Unidos ao núcleo da rede de internet no seu país. Estávamos em plena década de afirmação do poder unilateral norte-americano coincidente com o desaparecimento da União Soviética; era também a década do avanço para a destruição da Jugoslávia através de guerras sucessivas na qual a NATO teve papel determinante. O desenvolvimento da exigência de Clinton, tudo leva a crer, apoiou-se nas estruturas da rede Stay-behind da aliança, os mecanismos clandestinos de combate às organizações comunistas de cada país.

Rasmussen, um fundamentalista atlantista, deu andamento às exigências de Clinton e a operação de espionagem tornou-se realidade através de um acordo escrito entre a NSA (Agência de Segurança Nacional) dos Estados Unidos e os serviços dinamarqueses de espionagem e intercepção de comunicações, Forsvarets Efterretningstjeneste (FE).

Nos termos do acordo, os Estados Unidos podem interceptar qualquer actividade na internet de todos os cidadãos e entidades da Dinamarca, além de actividades estrangeiras que passem por este país.

O polvo continua activo

Durante o mandato de Barack Obama, mesmo depois de Edward Snowden, ex-agente da NSA, ter revelado os mecanismos de espionagem dos Estados Unidos em todo o mundo, inclusivamente contra os aliados, Washington utilizou o acordo proporcionado pelo governo dinamarquês para viciar o concurso público lançado por Copenhaga para comprar aviões de combate. Na sequência da manobra, o “concurso” ditou que a escolha tenha recaído sobre os problemáticos F-35 norte-americanos. Os principais prejudicados foram as indústrias europeias e dinamarquesa.

O acordo estabelecido na sequência das exigências de Bill Clinton criou uma situação segundo a qual os serviços dinamarqueses de informações militares e electromagnéticas, na sequência de autorização dada pelo primeiro-ministro de Copenhaga, espiam os seus próprios cidadãos, administração pública e empresas por conta dos Estados Unidos da América. A revelação desta situação teve agora um impacto de escândalo na opinião pública dinamarquesa, mas não é de crer que vá além disso.

Trata-se, no fundo, de um prolongamento das actividades de dispositivos clandestinos montados a seguir à Segunda Guerra Mundial pela CIA e depois pela NATO, conhecidos sob a designação de Stay-behind ou Gladio. Num quadro original de combate à União Soviética e os seus supostos “braços” em cada país – partidos comunistas e organizações de esquerda e progressistas em geral – os Estados Unidos e a NATO assumiram o direito de interferir nos assuntos internos dos países aliados, chegando ao ponto de assassinar um primeiro-ministro, Aldo Moro em Itália (permanecendo no escuro o que aconteceu com Olof Palm na Suécia), patrocinar grupos terroristas “negros” ou “vermelhos” e golpes de Estado.

Na Dinamarca, o ramo secreto começou por se designar Absalon e teria sido extinto em 1989, tal como alegadamente sucedeu noutros países da NATO; a realidade é que o Absalon foi reconvertido e transitou para os serviços de espionagem FE.

De onde seja muito provável que as redes Gladio tenham seguido caminhos idênticos nos países da NATO e continuem activas, neste caso não apenas contra organizações progressistas e de esquerda mas também contra correntes que se opõem ao regime globalizante neoliberal e a mecanismos de degradação ambiental que se disfarçam sob uma suposta luta “contra as alterações climáticas” conduzida pelos grandes poderes financeiros e industriais mundiais.

Situações bem actuais e que testemunham as acções clandestinas dos herdeiros da Gladio em países da NATO são a proliferação de grupos neonazis “institucionais” bem financiados e contando com apoio da comunicação social oficial e as acções coordenadas dos pontos de vista político e mediático contra as actividades de partidos progressistas, como por exemplo as campanhas que atingem as principais iniciativas do PCP em Portugal.


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