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NATO ESTRUTURA "QUARTA BATALHA DO ATLÂNTICO"

Dois vice-almirantes, um norte-americano e um britânico cortam a fita para abrir mais um comando de guerra da NATO

2020-10-23

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse um dia que a NATO está em morte cerebral, mas isso não é verdade. A aliança continua a crescer, inundando de pesadelos o imaginário dos povos. Agora instalou um novo comando naval em Norfolk, na Virgínia, Estados Unidos, certamente para garantir que os bons tenham cada vez mais meios de combate quando os maus decidirem de uma vez invadir e destruir a Europa Ocidental. E será que os Parlamentos dos países membros da aliança foram ouvidos em mais uma decisão que os subordina à cadeia de comando do Pentágono? Desta maneira se vai construindo a “paz mundial” de que tanto falam os discursos dos dirigentes da globalização.

Manlio Dinucci, Roma; Il Manifesto/Adaptação de O Lado Oculto

Em Norfolk, na Virgínia, nasceu um novo comando da NATO: a Força Conjunta de Comando de Norfolk, definida como o “Comando Atlântico”, um clone da Força Conjunta de Comando de Nápoles, cujo quartel-general está instalado em Lago Patria, Nápoles, Itália. A sua constituição foi aprovada pelo Conselho do Atlântico Norte ao nível de ministros da Defesa, em Junho de 2018.

Como acontece com o comando NATO de Nápoles, sob as ordens do almirante que comanda as forças navais norte-americanas na Europa que integram a Sexta Esquadra, o comando NATO de Norfolk está sob as ordens do almirante que comanda a Segunda Esquadra. A “área de responsabilidade” desta frota cobre a metade ocidental do Oceano Atlântico e do Ártico, enquanto a outra metade está coberta pela Sexta Esquadra das Forças Navais dos Estados Unidos. O novo comando “aliado” de Norfolk entra de facto, tal como o de Nápoles, na cadeia de comando do Pentágono.

A “Quarta Batalha do Atlântico”

Qual é a razão que está na base da criação do “Comando Atlântico”? Para conduzir a “Quarta Batalha do Atlântico”, depois das que foram travadas nas duas guerras mundiais e a da guerra fria, contra “submarinos russos que ameaçam as linhas de comunicação marítima entre os Estados Unidos e a Europa no Atlântico Norte”.

De acordo com esta estratégia, enunciada especialmente pelo almirante Foggo, que está à frente do comando NATO de Nápoles, submarinos russos estariam prontos a afundar os navios que ligam as duas margens do Atlântico, de modo a isolar a Europa antes de um ataque de Moscovo.

Um cenário de filme hollywoodesco sobre a Segunda Guerra Mundial no qual os U-Boot alemães afundam navios mercantes que se dirigem dos Estados Unidos para a Europa.

Um cenário de ficção política: enquanto a Batalha do Atlântico durou cinco anos, a “Quarta Batalha do Atlântico” duraria cinco minutos. Se, por absurdo, submarinos russos afundassem navios dos Estados Unidos e dos seus aliados europeus no Atlântico, esse seria o início da guerra total, com a utilização, pelos dois lados, de mísseis e bombardeiros nucleares. 

A submissão da Europa ao Pentágono

Qual será então o papel do “Comando Atlântico”? “O Atlântico Norte é vital para a segurança da Europa”, diz Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO; “O nosso novo Comando Atlântico”, acrescenta, “garantirá que as vias cruciais para os reforços e abastecimentos dos Estados Unidos à Europa continuem seguras”. Dito de outra maneira: a Europa, exposta ao que os Estados Unidos e a NATO definem como “agressão russa”, terá necessidade, para lhe resistir, de que os Estados Unidos enviem permanentemente forças e abastecimentos militares. Pelo que as forças navais dos aliados europeus devem colocar-se ao lado das forças norte-americanas e, sob as ordens do novo Comando Atlântico, darem caça aos fantasmagóricos “submarinos russos que ameaçam as linhas de comunicação marítima entre os Estados Unidos e a Europa no Atlântico Norte”.

É uma espécie de jogo da batalha naval. Muito dispendioso, porque implica a reserva de novas verbas para as despesas militares de todos os países da NATO, que já ultrapassam amplamente os mil milhares de milhões de dólares anuais de dinheiros públicos, subtraídos às necessidades reais dos cidadãos. Muito perigoso, porque serve de encenação para fazer crescer na opinião pública a ideia do inimigo, a saber, uma Rússia que ameaça a Europa e se prepara para a isolar cortando as suas linhas de comunicação marítima com os Estados Unidos.

Fabricando um tal cenário, justifica-se assim a crescente instalação na Europa de forças e armas norte-americanas, incluindo nucleares, flanqueadas pelas dos países europeus da NATO; tendo como consequência que a Rússia aumente as suas próprias forças, incluindo as nucleares.

Em Itália, uma vez que o primeiro governo Conte aprovou há dois anos a constituição de um novo Comando Atlântico, seria interessante saber o que pensa o segundo governo Conte.

Seria interessante saber também se no Parlamento italiano, ou em algum dos Parlamentos dos Estados membros da NATO, foi aprovada a constituição deste novo comando da aliança, decidida pelo Pentágono.

Ou, no mínimo, se nos Parlamentos alguém tem conhecimento do facto de, além do comando de Nápoles sob as ordens de um almirante dos Estados Unidos, as marinhas dos membros da NATO dependerem agora também do de Norfolk, este igualmente sob as ordens de um almirante norte-americano.


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