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ADIÓS MACRI!... “NUNCA MAIS É NUNCA MAIS”

Alberto Fernández e Cristina de Kirchner na festa popular em Buenos Aires que se seguiu à tomada de posse como presidente e vice-presidente da Argentina, em 11 de Dezembro

2019-12-16

Maurício Macri deixou a presidência argentina e, com a colaboração do FMI, um país em situação de caos económico e social. Alberto Fernández e Cristina de Kirchner assumiram funções rasgando novos horizontes de esperança

Débora Mabaires, Buenos Aires; Desacato.Info/O Lado Oculto

Macri foi-se embora.

Na última semana, com suas montagens cénicas, os seus media e os seus jornalistas avençados, o presidente argentino de saída quis dar uma patine de institucionalidade à sua administração fantasiando-se de democrata e publicitando pequenos vídeos institucionais com imagens retocadas e falando de si próprio. Atingiu o ponto máximo do cinismo no sábado 7 de Dezembro, quando organizou uma manifestação de despedida em sua honra.

É interessante analisar a dialética do discurso macrista e notar como todos os manifestantes entrevistados nesta campanha de propaganda, sem excepção, gritaram consignas contra o novo governo, soltando expressões terríveis desde acusações infundadas até criminosas ameaças de morte.

Três dias mais tarde, Macri deixou o cargo sem que um único dos seus adeptos encontrasse razões para sorrir ou conseguisse lembrar-se de algo de positivo na sua gestão.

As primeiras palavras de Fernández

As primeiras palavras do novo presidente da Argentina, Alberto Ángel Fernández, renovaram o fôlego das multidões que se amontoaram sob o potente sol do meio-dia para participar na sua investidura.

“Quero ser o presidente capaz de descobrir a melhor faceta de quem pensa diferente de mim. E quero ser o primeiro a conviver com ele sem me preocupar com as diferenças.

Quero ser capaz de corrigir os meus erros em vez de me colocar no pedestal de um iluminado.

Venho convidar-vos a construir essa sociedade democrática.”

Estas últimas palavras recordaram o início da presidência de Néstor Kirchner, quando propôs um sonho aos argentinos, na altura acompanhado pelo seu chefe de gabinete, Alberto Fernández.

Durante mais de uma hora, o novo presidente argentino detalhou alguns aspectos da política que tenciona levar por diante. Explicou a situação económica catastrófica em que Macri deixou o país, em recessão, com inflação alta e praticamente inadimplente.

“Sem pão não há presente nem futuro. Sem pão a vida serve apenas para padecer. Sem pão não há democracia nem liberdade”, disse ao anunciar a criação do Plano Integral Argentina Contra a Fome; e antes de hierarquizar a saúde, a educação e a habitação como parte dos direitos humanos fundamentais que também terão prioridade na sua gestão.

Nas relações externas, Fernández marcou igualmente o terreno: a defesa da soberania argentina sobre o Atlântico Sul, os territórios de ultramar e a Antártida.

A nova administração de Buenos Aires procurará a integração ao mundo, mas sobretudo regional, privilegiando os laços com a América Latina; e teve palavras para aliviar a relação tensa delineada pela presença de Jair Bolsonaro na presidência do Brasil.

“Com a República Federativa do Brasil, particularmente, temos uma agenda ambiciosa a construir, inovadora e criativa, nos campos tecnológico, produtivo e estratégico, que seja sustentada na irmandade histórica dos nossos povos e que vai para além de qualquer diferença pessoal entre aqueles que governam a conjuntura. Vamos honrá-la, vamos avançar juntos na construção de um futuro de progresso compartilhado.”

Reforma integral da Justiça

O discurso derramou tranquilidade sobre o povo à medida que Alberto Fernández ia falando, mas, especialmente, quando se referiu à conjugação de factores que colocam em xeque a democracia no país.

Fernández cravou o estilete no pútrido Poder Judiciário, anunciando uma reforma integral da Justiça Federal, instituição que foi criada há 30 anos e desde então serviu como arma de extorsão de políticos e empresários que sejam obstáculos às corporações financeiras ou empresariais multinacionais, ou como encobridora dos mais aberrantes delitos contra o povo.

Também anunciou uma intervenção na Agência Federal de Investigações e a eliminação das “despesas reservadas”, dinheiro público sem controlo nem limite algum através do qual Macri premiou os espiões que organizaram, com montagens e provas falsas, a perseguição judicial contra os seus opositores. Esclareceu que esse dinheiro será utilizado para reforçar as dotações orçamentais destinadas a acabar com o opróbrio da fome na Argentina.

Mas o golpe de misericórdia foi dado pelo novo presidente quando anunciou o fim da agenda publicitária oficial para a comunicação social; a partir de agora, o Estado argentino só financiará com publicidade os meios que prestem algum serviço de utilidade para reforçar a educação e o conhecimento de todos os argentinos e argentinas.

Alberto Fernández pretende conter, de vez e para sempre, os poderes mais obscuros e nefastos que mantêm a Argentina como refém:

“Nunca mais um Estado secreto.

Nunca mais a democracia na escuridão.”

Nunca mais é nunca mais.”

Com estas palavras conquistou as almas de milhões de argentinos que, livres das suas amarras, saíram às ruas a celebrar as boas notícias, chorando de emoção, cantando e dançando até ao amanhecer acreditando que, agora sim, têm futuro.


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