O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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WASHINGTON TRANSFERE A 5G PARA O CAMPO DA GUERRA

2019-12-14

A tecnologia de quinta geração de transmissão móvel de dados (5G) começa a entrar nas nossas vidas, mas antes que isso aconteça em pleno os Estados Unidos puseram em andamento o processo da sua militarização através das próprias redes comerciais, por ficar mais em conta. Liderada pela China na sua componente civil, a 5G transita para o domínio da guerra e da espionagem pela mão dos Estados Unidos, apesar do seu reconhecido atraso nesta novidade tecnológica.

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

A operação organizada pela central de espionagem anglo-saxónica conhecida como “Cinco Olhos” contra a empresa chinesa Huawei tem como objectivo exclusivo assegurar que a tecnologia 5G não seja controlada no Ocidente por um grupo da China. É o que revela um relatório do Pentágono, segundo o qual esta tecnologia civil deverá ter, antes de mais, uma utilização militar.

Na Cimeira de Londres, os 29 países da NATO comprometeram-se a “garantir a segurança das nossas comunicações, 5G incluída”. Por que razão esta tecnologia de quinta geração da transmissão móvel de dados é tão importante para a Aliança Atlântica?

Enquanto as tecnologias anteriores foram desenvolvidas para operacionalizar smartphones cada vez mais avançados, a 5G foi concebida para melhorar os seus desempenhos mas, principalmente, interligar sistemas digitais que necessitam de enormes quantidades de dados para funcionar de maneira automática. As mais importantes aplicações da 5G serão utilizadas não no domínio civil, mas, por acção dos Estados Unidos, no campo militar.

Militarização da vida

As possibilidades proporcionadas por esta nova tecnologia são explicadas pelo relatório Defense Applications of 5G Network Technologies (Aplicações da Tecnologia das Redes 5G no sector de Defesa), publicado pelo Defense Science Board, uma comissão federal norte-americana que presta aconselhamento científico ao Pentágono: “A emergente tecnologia 5G, comercialmente disponível, proporciona ao Departamento da Defesa a oportunidade de tirar proveito, com despesas menores, dos benefícios deste sistema para as suas próprias exigências operacionais”.

Dito por outras palavras, a rede comercial 5G, desenvolvida por entidades privadas, será utilizada pelas forças militares dos Estados Unidos com despesas bastante mais baixas do que seriam necessárias se a rede tivesse unicamente objectivos militares. Os peritos militares prevêem que a 5G terá um papel determinante na utilização de armas hipersónicas: mísseis, incluindo com ogivas nucleares, que se deslocam a uma velocidade superior a Mach 5 (cinco vezes a velocidade do som – 1700 metros por segundo). Para guiar esses engenhos segundo trajectórias variáveis, mudando de direcção numa fracção de segundo para escapar aos mísseis interceptores, é necessário recolher, processar e transmitir enormes quantidades de dados em tempos muito rápidos. O mesmo acontece com a necessidade de activar as defesas em caso de ataques conduzidos com essas armas: não havendo tempo para tomar uma decisão, a única possibilidade é confiar em sistemas automáticos 5G.

A nova tecnologia terá igualmente um papel-chave na “battle network” (redes de batalha). Estando em condições de interligar simultaneamente, numa área limitada, milhões de aparelhos emissores-receptores, permitirá aos militares – departamentos e indivíduos – transmitir entre si, praticamente em tempo real, mapas, fotos e outras informações sobre operações em curso.

Espionagem ainda mais eficaz

A 5G será também extremamente importante para os serviços secretos e as forças especiais. Tornará possível a existência de sistemas de controlo e espionagem bastante mais eficazes que os existentes. Permitirá aumentar a capacidade letal dos drones-assassinos e dos robots de guerra, dando-lhes capacidade para identificar, perseguir e atingir pessoas com base no reconhecimento facial e outras características. A rede 5G, transformada num instrumento de guerra de elevada tecnologia, tornar-se-á automaticamente um alvo de ataques cibernéticos e de acções de combate efectuadas com armas de nova geração.

A tecnologia 5G está a ser desenvolvida em vários países, entre eles os Estados Unidos, mas com enorme vantagem da China em termos de operacionalização com objectivos civis e comerciais. As implicações militares desta nova geração tecnológica são completamente ignoradas pelos críticos do 5G, incluindo cientistas, que concentram as atenções nos aspectos nocivos para a saúde e o ambiente devido à exposição a campos electromagnéticos de baixa frequência. Um cuidado que é da maior importância mas que deve ser associado à luta contra a utilização militar desta tecnologia. Uma das maiores atracções suscitadas pela difusão de smartphones 5G será a de poder participar, mediante pagamento, em jogos de guerra com impressionante realismo envolvendo competidores do mundo inteiro. Deste modo, e praticamente sem se darem conta, os jogadores financiam guerras, estas bem reais.



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