CONSPIRAÇÃO DE LISBOA: PLANEOU-SE AGRESSÃO AO IRÃO
2019-12-13
Suspeitava-se disso, mas os indícios acumulam-se. A reunião conspirativa de Lisboa em 4 de Dezembro, facultada pelo governo português, entre Benjamin Netanyahu e o secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeou, serviu para planear uma possível agressão “preventiva” contra o Irão. O contexto militarista e mediático do encontro e a agenda revelada por Netanyahu – primeiro ponto, Irão, segundo ponto, Irão, e mais os pontos que forem precisos, Irão – não deixam dúvidas de que a capital portuguesa acolheu uma cimeira de planeamento de guerra. "Vamos fazer o Irão cambalear ainda mais", prometeu o primeiro-ministro israelita.
Finian Cunningham, Strategic Culture/O Lado Oculto
Sanções económicas intensas, cerco por forças militares, incitamento à violência sediciosa e implacável retórica de guerra. Trata-se de actividades desenvolvidas pelos Estados Unidos e aliados contra o Irão, sobretudo nos últimos dois anos; mas é o Irão que aparece retratado como um centro de “ameaças potenciais” contra os interesses norte-americanos.
A reunião apressada realizada recentemente em Lisboa entre o dirigente israelita Benjamin Netanyahu e o secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, teve as características de uma cimeira de planeamento de guerra num pico de renovadas provocações mediáticas contra o Irão.
Durante as últimas semanas os meios de comunicação social dos Estados Unidos publicaram uma enxurrada de reportagens segundo as quais Teerão está a deslocar secretamente mísseis balísticos para o Iraque e outros lugares da região. Como é seu hábito, os media citam com toda a confiança informações anónimas e declarações de funcionários do Pentágono corroborando tais alegações.
A CNN citou uma fonte governamental: “Temos recebido informações consistentes nas últimas semanas”, disse a propósito de “uma potencial ameaça iraniana contra forças e interesses dos Estados Unidos no Médio Oriente”.
“Qualquer coisa de irresponsável”
Em Novembro, o comandante do CentCom norte-americano fez uma antevisão terrível das intenções iranianas. O general Kenneth McKenzie disse: “Se olharmos para os últimos três ou quatro meses há que esperar a possibilidade de o Irão fazer qualquer coisa de irresponsável”.
Observe o leitor como o general McKenzie reconhece tacitamente os antecedentes da campanha de “pressão máxima” do governo Trump assente sobre sanções económicas e o aumento da força militar norte-americana contra Teerão como se isso fosse uma conduta internacional normal. Na sua abordagem, o general vira a situação ao contrário e acusa o Irão de fazer, previsivelmente, “qualquer coisa de irresponsável”.
Há sinais preocupantes de que os Estados Unidos e Israel estão a redobrar a pressão de guerra contra o Irão. Uma pressão que tem sido encarada no contexto de um imenso destacamento de forças militares dos Estados Unidos – tropas, aviões e navios de guerra para a região desde Maio deste ano. O início desse reforço de movimentação coincidiu com alegações infundadas de que o Irão estava prestes a iniciar operações contra interesses norte-americanos. Surgiu então, durante o Verão, uma série de misteriosos ataques contra petroleiros no Golfo Árabe-Pérsico – e que Washington atribuiu a Teerão sem apresentar uma única prova.
Descontentamento manipulado
Tudo indica que os protestos de meados de Novembro no Irão, por causa dos aumentos dos preços dos combustíveis, foram sequestrados por agentes de subversão. O presidente Donald Trump e outras autoridades norte-americanas incitaram abertamente ao aproveitamento dos protestos para desestabilizar o governo iraniano.
A nova argumentação segundo a qual Teerão está a enviar mísseis balísticos para os países vizinhos parece estar a preparar terreno para justificar um ataque preventivo dos Estados Unidos contra o Irão.
O governo iraniano, sem qualquer dúvida, está sob forte pressão devido às dificuldades impostas ilegalmente pelos Estados Unidos desde que Trump abandonou o acordo nuclear internacional, em Maio de 2018. Também não existem dúvidas de que o Irão está preocupado com as implacáveis ameaças militares de Washington e o seu aliado israelita. Muito naturalmente, o Irão terá mobilizado forças partindo do princípio lógico de que poderá ser atacado a qualquer momento.
De uma maneira perversa, porém, os serviços secretos e militares dos Estados Unidos interpretam os movimentos defensivos iranianos como “indicações de uma ameaça potencial” contra “interesses norte-americanos”.
Por isso, a reunião de Lisboa entre Netanyahu e Pompeo traduz um mau presságio. Aconteceu no contexto das reportagens da comunicação social norte-americana sobre o movimento de mísseis balísticos iranianos e coincidiu com notícias segundo as quais Trump está a considerar a possibilidade de duplicar as tropas no Médio Oriente, para 28 mil efectivos, além de enviar mais mísseis e aviões de guerra.
Reunião à pressa
O encontro de Lisboa ocorreu a 4 de Dezembro. A reunião foi convocada de urgência e não estava agendada. Netanyahu – que luta pela sobrevivência política devido a acusações de corrupção – tentou organizar as conversas com Pompeo à margem da Cimeira da NATO em Londres; porém, segundo relatos da comunicação social israelita, não houve tempo para que a logística de segurança fosse implementada pelo lado britânico. Estes factos foram interpretados como sinal de que o primeiro-ministro israelita em funções estava com pressa em encontrar-se com o secretário de Estado norte-americano.
No início do encontro com Pompeo, Netanyahu disse: “O primeiro tema que levantarei é o Irão; o segundo assunto será o Irão, o terceiro também e mais os que forem precisos”.
O primeiro-ministro israelita acrescentou: “Temos a sorte de o presidente Trump conduzir uma política consistente de pressão contra o Irão. O Irão está a aumentar as suas actividades agressivas na região mesmo hoje, enquanto estamos aqui em conversações; está a tentar construir uma base de ataque contra nós e a região no próprio Irão, no Iraque, Síria, Líbano, Gaza e Iémen e nós estamos activamente empenhados em combater essa agressão”.
Além de preocupação, Netanyahu também mostrou satisfação ao declarar que “o império iraniano (sic) está a cambalear… E nós vamos fazê-lo cambalear ainda mais”.
Durante meses sucessivos, o Irão recusou-se firmemente a morder o isco de guerra estendido pelo governo Trump. Porém, com este tipo de pressões crescendo, dentro e fora do país, tornou-se imperativo para as autoridades iranianas organizarem as suas defesas.
As autoridades militares e de espionagem dos Estados Unidos estão a retorcer a lógica para tentarem acusar o Irão de representar uma ameaça; e os media corporativos norte-americanos estão a utilizar as suas capacidades para propagarem esta distorção.
O encontro apressado de Netanyahu com Pompeo na primeira semana de Dezembro, em Lisboa, sugere que os Estados Unidos e Israel estão a dar os últimos retoques na sua trágica obra-prima que é a provocação de uma guerra contra o Irão.