O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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NAZIS UCRANIANOS NOS PROTESTOS DE HONG KONG

Da Ucrânia para Hong Kong, o mesmo fascismo

2019-12-06

Nazis ucranianos do Batalhão Azov e do Sector de Direita, dois pilares do actual regime de Kiev apoiado por Washington e Bruxelas, estão em Hong Kong para orientar e participar nos motins e acções terroristas que no Ocidente são conhecidos como “movimento pró-democracia”. Um dos centros de organização dessa colaboração é uma Liga Liberal Democrática em Kiev financiada pela União Europeia

Ben Norton, The GrayZone/Adaptação O Lado Oculto

Fascistas ucranianos que fazem parte de milícias nazis utilizadas pelo regime de Kiev e apoiadas pelos Estados Unidos juntaram-se aos protestos anti-China em Hong Kong, partilhando tácticas e exibindo as suas tatuagens.

Estes terroristas viajaram para o território chinês para se juntarem aos mentores da vaga de protestos de rua amplamente elogiados pelos media corporativos ocidentais e retratados como expressão de um movimento pacífico pela democracia.

Desde Março de 2019, Hong Kong tem sido palco de protestos e motins muitas vezes violentos que fizeram desmoronar a economia do território. O governo dos Estados Unidos financiou muitos dos grupos que chefiam esse movimento pró-Ocidente e anti-Pequim, sendo que os dirigentes que encabeçam os protestos actuam em coordenação estreita com figuras políticas de extrema-direita em Washington como o senador Marco Rubio e Steve Bannon. O objectivo é fazerem lobby por sanções e outras medidas punitivas contra a China.

Numerosas delegações de grupos de extrema-direita de todo o mundo viajaram para Hong Kong para se juntarem à violência contra Pequim, caracterizada por factos como o disparo de arcos e flechas contra a polícia, lançamentos de bombas de gasolina recorrendo a catapultas que estão na origem de numerosos casos de tochas humanas.

Praticando uma agitação de massas com bandeiras coloniais norte-americanas e britânicas e difundindo o hino nacional norte-americano através de megafones, os separatistas de Hong Kong tornaram-se ícones para a extrema-direita dos Estados Unidos. A equipa do website InfoWars, chefiada por Paul Joseph Watson, figura fascista das redes sociais, e o grupo ultradireitista Patriot Prayer estão entre os que fizeram peregrinações ao território chinês.

O ninho ucraniano

A colecção mais recente de activistas de extrema-direita que foi reforçar as fileiras dos separatistas de Hong Kong é oriunda da Ucrânia. Autodenominam-se Gonor e estão tatuados na parte superior dos troncos com inegáveis símbolos da supremacia branca e do neonazismo. A sua origem é o conhecido Batalhão Azov, parte integrante da Guarda Nacional que sustenta o regime de Kiev e conhecido pelo seu comportamento selvático na repressão contra as populações russófonas do Leste do país. O Batalhão Azov reclama-se da herança do Batalhão Galícia, o grupo nazi de Stepan Bandera que colaborou com as tropas de Hitler na chacina de dezenas de milhares de judeus, polacos e ucranianos. 

O Batalhão Azov é um grupo paramilitar explicitamente fascista que se organiza com base na ideologia nazi. Foi integrado na Guarda Nacional na sequência do golpe de 2014 apoiado pelo Ocidente contra o governo de Kiev democraticamente eleito. O novo regime recebeu apoio dos Estados Unidos, que armaram e aconselharam os neonazis na repressão das populações russófonas, apresentada como luta contra Moscovo.

O mesmo Batalhão Azov ajudou a treinar supremacistas brancos norte-americanos que planearam ataques terroristas no seu país.

Enquanto governos ocidentais e meios de comunicação corporativos retratam a China como um regime autoritário que trata Hong Kong como uma colónia, os terroristas fascistas ucranianos aproveitaram-se da autonomia da região chinesa para conseguirem cruzar as suas fronteiras. É improvável que tenham sido admitidos na China continental ou nos países da Europa Ocidental que rotineiramente recusam vistos a extremistas políticos.

A presença de activistas ucranianos de mudanças de regime nos protestos de Hong Kong é mais uma prova das alianças que activistas anti-chineses do território estão a construir com outros movimentos de extrema-direita apoiados pelos Estados Unidos em todo o mundo, partilhando tácticas para enfraquecer e desestabilizar países que se tornaram alvos da NATO.


Quem são os fascistas ucranianos

No dia 1º de Dezembro, o activista fascista Serhii Filimonov colocou fotos no Facebook em que está acompanhado por três amigos, também ucranianos, à sua chegada a Hong Kong. Associou às imagens um slogan utilizado durante os protestos: "Fight for freedom. Stand with Hong Kong” (Luta pela liberdade. Junta-te a Hong Kong).

Stand with Hong Kong é também o nome de uma organização apoiada pelo Ocidente que pressiona os governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, Canadá e Austrália a imporem sanções e tomarem outras medidas punitivas contra a China.

Num vídeo publicado nas redes sociais, os supremacistas brancos ucranianos revelaram que obtiveram passes de imprensa para se poderem apresentar, falsamente, como jornalistas.

Na viagem a Hong Kong juntou-se a Filimonov um outro conhecido activista fascista ucraniano conhecido como Maliar. É muito popular no Instagram sob o nome de xgadzillax, onde tem mais de 23 mil seguidores. 

Além das suásticas pintadas no crânio, Maliar tem símbolos nazis tatuados na perna direita, ao lado da runa de algiz, outro símbolo supremacista branco muito comum.

Várias fotos mostram que pelo menos dois fascistas ucranianos em Hong Kong têm tatuagens com a inscrição “Victory or Valhalla”, título de uma compilação de escritos de um conhecido supremacista branco norte-americano chamado David Lane, cujo grupo terrorista neofascista The Order assassinou um apresentador de rádio judeu e planejou a morte de judeus de esquerda.

Lane foi condenado a 190 anos de prisão nos Estados Unidos por numerosos crimes e criou o slogan supremacista branco conhecido como as 14 Palavras – que inspirou outro grupo neonazi ucraniano designado C14.

Filimonov, que tem igualmente numerosos seguidores no Instagram, onde usa o nome de Sunperuna, publicou uma foto mostrando a frase “Victory or Valhalla” estampada no perito.

O livro “Victory or Valhalla” é dedicado a “Aryankind” (a espécie ariana). Nas suas páginas, o autor diz-se comprometido em impedir a “extinção iminente da raça branca” e o “assassinato judaico-americano/judaico-cristão da raça branca”. A capa está repleta de homenagens aos nazis e a contracapa mostra uma foto de Lane num caixão envolvido numa bandeira confederada.

Os fascistas ucranianos são de tal maneira uns entusiastas do livro que tatuam frequentemente o título nos corpos.

O jornalista Morgan Artyukhina identificou outro membro do contingente de extrema-direita ucraniano em Hong Kong. Trata-se de Serhii Sternenko, um ex-chefe do grupo fascista Sector de Direita, responsável pelo incêndio da Casa dos Sindicatos em Odessa, em 2 de Maio de 2014, provocando a morte de 42 pessoas.

Neonazis tomam campus

Em 2 de Dezembro, os visitantes nazis ucranianos divulgaram fotos de si próprios no campus da Universidade Politécnica de Hong Kong (PolyU), um dos centros de onde emergem os protestos violentos.

A PolyU tem sido uma base crucial do levantamento separatista. Segundo relatos tornados públicos, em 2 de Dezembro foram detectadas e apreendidas 3989 bombas de gasolina, 1339 peças de explosivos e 601 garrafas com líquidos corrosivos.

Um dos ucranianos presentes no campus é Serhii Filimonov. Teve problemas com a polícia no passado – antes de passar a fazer parte da Guarda Nacional ucraniana – por supostamente se envolver em confrontos com a polícia.

As fotos que colocou nas redes sociais deixam duas coisas bem claras: é nazi e pretende que o maior número possível de pessoas o vejam carregando armas pesadas em tronco nu.

Outros membros do Gonor postaram fotos no Instagram exibindo armas.

Um vídeo inserido no Instagram em 2015 mostra Maliar e um amigo envergando uma T-shirt com a bandeira confederada “rebelde branca” envolvida em armas e teasers.

O canal Telegram do Gonor proporciona aos seus membros um lugar na primeira fila para uma orgia de violência. Publicou dezenas de vídeos dos protestos de Hong Kong qualificando os manifestantes como heróis por dispararem arcos e flechas e realizarem ataques violentos contra as forças de segurança do Estado.

Filimonov e Maliar combateram anteriormente no Batalhão Azov e as suas fotos nas redes sociais mostram-nos armados e com o uniforme do destacamento onde se vêem as respectivas insígnias.

Redes secessionistas em Hong Kong

Apesar destas evidências disponíveis para todos nas redes sociais, e que revelam a militância fascista dos hooligans ucranianos em Hong Kong, o Free Hong Kong Center, com sede em Kiev, publicou no Facebook uma declaração em defesa do Gonor.

A organização confirma que os extremistas membros do grupo integraram o Batalhão Azov “durante o primeiro ano do período de guerra” – a repressão dos alegados separatistas pró-russos – mas alega que a prestação acabou em 2015.

O Free Hong Kong Center descreveu os neofascistas como “activistas da Revolução da Dignidade e também como veteranos da guerra de defesa contra a Rússia”. O Centro declara ainda, de maneira totalmente absurda, que estamos perante activistas “realmente contra o nazismo e outros tipos de ideologia de extrema-direita”.

Reconhece o Free Hong Kong Center que “muita gente ficou chocada com as tatuagens desses activistas”; porém, acrescenta, eles explicam que “são símbolos do paganismo eslavo”.

Este centro é um projecto de uma organização não-governamental designada Liga Liberal Democrática da Ucrânia. Além de criar vínculos com as forças anti-Pequim em Hong Kong, o projecto afirma que tem como missão “combater as ameaças chinesas contra a Ucrânia”.

A Liga Democrática Liberal da Ucrânia diz ser uma entidade pró-União Europeia integrante da Juventude Liberal Europeia e da Federação Internacional da Juventude Liberal, organizações financiadas pela União Europeia.

O principal coordenador do Free Hong Kong Center é um activista ucraniano chamado Arthur Kharytonov, também presidente da Liga Liberal Democrática da Ucrânia. Kharytonov esteve profundamente envolvido nos protestos Euromaidan na Ucrânia, que conduziram ao golpe de 2014 apoiado pelos Estados Unidos e a União Europeia. Criou a Liga em 2015.

Kharytonov e a sua organização têm beneficiado da propaganda das suas actividades nos meios de comunicação ucranianos financiados pelo governo dos Estados Unidos, designadamente Hromadske. Nessas entrevistas, em tom diplomático, perante jornalistas extremamente compreensivos, Kharytonov compara os protestos anti-Rússia na Ucrânia aos protestos anti-China em Hong Kong e defende um vínculo mais estreito entre ambos.

Kharytonov e as suas organizações apoiadas pelos governos ocidentais integram uma crescente rede de activistas ucranianos envolvidos em mudanças de regimes e que estabelecem formas de organização com os secessionistas de Hong Kong, ensinando e promovendo tácticas de insurgência.

À medida que a ordem unipolar comandada pelos Estados Unidos e a NATO, que domina o mundo desde o fim da guerra fria, se vai desmoronando e enquanto a Rússia e a China, em ascensão, procuram restaurar um sistema global multipolar, Washington e os países da União Europeia estão a construir uma teia de movimentos para minar os adversários nas suas próprias fronteiras.

Esta rede global surge como uma guarda avançada do neoliberalismo global mas, como os acontecimentos na Ucrânia e a Hong Kong demonstram, o fascismo é a sua base podre de sustentação.




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