OCUPANTES PILHAM O PETRÓLEO DA SÍRIA

2019-07-21
Edward Barnes, Damasco
Os Estados Unidos encarregaram os seus mercenários curdos instalados no Norte da Síria de explorar ilegalmente o petróleo deste país e de vendê-lo, designadamente, a Israel. Trata-se da versão actual do negócio que foi feito com a colaboração do Estado Islâmico quando este ocupou as mesmas regiões e contrabandeou o petróleo para a Turquia – financiando-se por essa via.
A denúncia desta nova forma de pilhagem dos recursos naturais da Síria foi feita pelo jornal libanês Al-Akhbar ao publicar uma carta sobre o assunto da autoria do homem de negócios israelo-norte-americano Mordechai Kahana. O conteúdo da carta foi negado pelos chefes do governo do autodesignado Estado curdo “Rojava”, instalado sob protecção dos Estados Unidos, mas confirmado pelo próprio Mordechai Kahana à imprensa israelita. Kahana acrescentou que está a desenvolver o negócio enquanto cidadão norte-americano.
A venda de petróleo sírio à revelia do governo legítimo de Damasco é uma violação do direito internacional, designadamente das Convenções de Genebra, que proíbem as potências ocupantes de tirar proveito dos recursos das regiões ocupadas e de alterar as suas naturezas económica e demográfica. Trata-se de uma violação do mesmo tipo das que Israel realiza impunemente nos territórios palestinianos ocupados, através da implantação de colonatos.
Outra das vias da pilhagem em curso dos recursos petrolíferos da Síria é a exploração das importantes reservas de petróleo dos Montes Golã por consórcios norte-americanos e israelitas. Esta região está ilegalmente ocupada por Israel há mais de 50 anos, perante a inércia da ONU e da chamada “comunidade internacional”. Recentemente a administração Trump reconheceu a anexação israelita desses territórios, decisão que deve igualmente ser lida à luz das reservas petrolíferas aí descobertas já neste século.
Foram detectadas reservas de hidrocarbonetos em toda a Síria mas, até ao momento, a grande maioria (cerca de 90%) dos recursos em condições de ser explorados situam-se nas zonas do país ocupadas pelas tropas norte-americanas e francesas, que têm vindo a reforçar-se.
Colonialismo e limpezas étnicas
O “Rojava” curdo é uma expressão dessa ocupação militar, instaurada desde que os Estados Unidos conseguiram cindir o movimento de resistência dos curdos da Síria e passaram a recorrer a uma das facções criadas, o YPG, para substituir o Estado Islâmico no terreno.
A criação pelos Estados Unidos do “Rojava” no interior do território da Síria apenas foi possível através da limpeza étnica de uma zona no norte do país, expulsando as populações originais cristãs e árabes e instalando aí não apenas curdos sírios mas também outros oriundos da Turquia e do Iraque.
O Curdistão independente que foi previsto pela Comissão King-Crane de 1919 e aprovado no Tratado de Sèvres, de 1920, não incluía qualquer território dos que agora servem de base ao “Rojava” – um simples colonato ao serviço das estratégias dos Estados Unidos e Israel para a Síria.
O homem de negócios Mordechai Kahana está ligado a essas estratégias pelo menos desde o início da agressão internacional contra a Síria. Foi um dos financiadores das viagens clandestinas do senador norte-americano John McCain à Síria para se avistar com os chefes dos grupos terroristas envolvidos no processo de destruição do país, incluindo o do Estado Islâmico, Isis ou Daesh.
A imprensa libanesa tem revelado que a criação do “Rojava” é apenas parte dessa estratégia para desmantelar o Estado Sírio e afectar a integridade do território.
Israel tentou criar no Sul da Síria, junto à fronteira entre os dois países, uma zona tampão equivalente ao “Curdistão” do Norte. Tratava-se de proclamar um “Druzistão” com base em comunidades druzas e em torno do major sírio Khaldum Zeineddine.
O projecto não chegou a concretizar-se porque o exército nacional foi eliminando gradualmente todos os grupos terroristas que tentaram controlar a região meridional e também porque Israel não conseguiu encontrar a massa crítica colaboracionista para dar corpo a essa entidade.