A NATO É QUEM MAIS ORDENA

2019-07-11
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto
Vladimir Putin deslocou-se a Roma. A visita não trouxe nada de novo em relação a outras viagens a países da União Europeia, talvez com excepção dos malabarismos retóricos do primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte: diz-se “soberanista” mas conforma-se, como os outros, às exigências da NATO.
O estado das relações entre a Itália e a Rússia é “excelente”. Foi o que afirmou o primeiro-ministro Conte ao receber em Roma o presidente Vladimir Putin. A mensagem é tranquilizadora, soporífica mesmo, destinada à opinião pública. Limita-se fundamentalmente ao estado das relações económicas.
A Rússia, onde operam 500 empresas italianas, é o quinto mercado extraeuropeu para as exportações italianas e abastece 35% das necessidades italianas em gás natural. As trocas comerciais representaram – segundo Putin – 27 mil milhões de dólares em 2018, mas em 2013 ascendiam a 54 mil milhões. Foram, portanto, reduzidas a metade por causa daquilo a que Conte chama a “deterioração das relações entre a Rússia e a União Europeia, que conduziu às sanções europeias” (na realidade decididas em Washington).
Apesar disso, existe entre os dois países uma “relação intensa a todos os níveis”. Um tom confiante que reproduz o da visita de Conte a Moscovo em 2018 e o do primeiro-ministro Matteo Renzi a São Petersburgo em 2016, quando garantiu que: “a expressão guerra fria saiu da história e da realidade”. E assim continua a farsa.
Convidado à força
Nas relações com a Rússia, Conte (como Renzi em 2016) apresenta-se unicamente com o fato de chefe do governo de um país da União Europeia, dissimulando nos bastidores a presença de Itália na NATO sob comando dos Estados Unidos, considerados “aliado privilegiado”. À mesa Itália-Rússia continua, deste modo, a sentar-se o “aliado privilegiado” enquanto convidado à força e na esteira do qual a Itália continua a mover-se.
O governo Conte declara “excelente” o estado das relações com a Rússia depois de apenas uma semana antes, na sede da NATO, ter acusado mais uma vez Moscovo de violar o Tratado INF (com base em “provas” fornecidas por Washington), colocando-se em fila atrás da decisão norte-americana de enterrar o tratado com o objectivo de colocar na Europa novos mísseis nucleares de médio alcance apontados à Rússia.
Em 3 de Julho, véspera da visita de Putin a Itália, foi publicada em Moscovo a lei que o presidente assinou suspendendo a participação russa no mesmo tratado: acção preventiva antes que Washington dele se retire definitivamente, em 2 de Agosto. Deste modo, Putin advertiu que se os Estados Unidos instalarem novas armas nucleares na Europa dirigidas à Rússia, este país apontará os seus mísseis para as zonas onde elas forem colocadas.
Vale por dizer que a advertência é extensiva a Itália, que se prepara para receber, a partir de 2020, as novas bombas B61-12, postas à disposição da aeronáutica italiana sob comando dos Estados Unidos.
Uma semana antes da confirmação do “excelente” estado das relações com a Rússia, o governo Conte confirmou a participação italiana na força da NATO sob comando norte-americano formada por 30 navios de guerra, 30 batalhões e 30 esquadras aéreas que em 30 dias poderá ser colocada na Europa contra a Rússia, a partir de 2020. Sempre em registo anti-Rússia, navios italianos participam em manobras de guerra submarina da NATO; forças italianas mecanizadas integram o Grupo de Batalha da NATO na Letónia e a brigada blindada Ariete esteve em acção há duas semanas na Polónia, enquanto caças italianos Eurofighter Typhoon foram colocados na Roménia e na Letónia.
Tudo isto confirma que a política externa e militar de Itália é decidida não em Roma, mas em Washington, nas barbas do “soberanismo” invocado pelo actual governo.
As relações com a Rússia, tal como as relações com a China, assentam nas areias movediças da dependência italiana em relação às decisões estratégicas de Washington. Basta lembrar como em 2014, por ordem de Washington, foi aniquilado o gasoduto South Stream, com perdas de milhares de milhões de euros para as empresas italianas. Sob o silêncio e o consentimento absolutos do governo italiano.