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WASHINGTON PAGA MILHÕES PARA ESCONDER CRIANÇAS

Crianças imigrantes em jaulas nos Estados Unidos antes de serem entregues a empresas privadas para serem escondidas em "abrigos seguros".

2018-08-09

Martha Ladesic, Nova York

A administração Trump já pagou pelo menos 160 milhões de dólares à empresa norte-americana MVM, Inc para transportar crianças imigrantes retiradas aos pais com destino a “abrigos seguros”, segundo dados confirmados através de posições tomadas pelo Departamento de Segurança Interna.

O transporte entre a fronteira norte-americana com o México e os destinos definidos pelas autoridades é feito em aviões comerciais, onde as crianças são escoltadas por pessoas contratadas pela MVM através de pequenos anúncios publicados na imprensa escrita e online.

A empresa MVM é um habitual contractor das instâncias governamentais norte-americanos; durante os períodos agudos da invasão do Iraque, o pessoal contratado pela empresa garantiu a segurança de espiões actuando no terreno para os serviços de informações dos Estados Unidos.

MVM procura pessoas para escoltar crianças e adolescentes desacompanhados”, foi um dos textos que surgiu em publicações de cidades como Phoenix, San Antonio e McAllen, destinado a “cuidadores bilingues de jovens em viagem”.

“É horrível, mas não surpreendente, que empresas contratadas pelas entidades militares e que tiraram proveito da morte de civis inocentes através do mundo tenham sido alugadas para transportar crianças retiradas aos pais”, comentou Wells Dixon, advogado do Center for Constitutional Rights (CCR - Centro para os Direitos Constitucionais). De acordo com fontes desta instituição, a MVM é das empresas que mais aproveita com a política de “tolerância zero” imposta pela Administração Trump em relação à imigração.

Uma herança da era Obama

A empresa MVM, porém, considera que pratica um serviço público no qual cumpre as normas de transporte de pessoas por terra e pelo ar; e acrescenta que estas práticas remontam à Administração Obama. “Temos providenciado estes serviços de transporte desde 2014, e orgulhamo-nos do nível de cuidados que as crianças recebem do nosso dedicado pessoal”, alega a empresa em comunicado assinado pelo seu director de segurança. A empresa foi contratada, de facto, em 2014, altura em que chegou às fronteiras norte-americanas uma vaga de imigrantes da América Central fugindo das mafias do narcotráfico.

“Sejamos claros”, responde Vince Warren, director executivo do CCR. “As empresas privadas contratadas tal como a MVM, Inc. têm um único objectivo: ganhar dinheiro; são do tipo de entidades que tanto mais se felicitam entre si quantas mais crianças forem retiradas aos pais”.

De acordo com as várias informações que têm vindo a ser tornadas públicas, a operação de transporte dos menores retirados à força aos pais é da responsabilidade do Departamento de Segurança Interna e do Gabinete de Recolocação de Refugiados. As crianças são conduzidas da fronteira para “abrigos” a funcionarem em zonas distantes como Nova York e Detroit.

O assunto começou a ganhar relevo com um post colocado no Facebook por um passageiro de um voo que transportou “16 crianças imigrantes entre os 6 e 11 anos, todas vestidas de preto e cinzento com roupas baratas dos armazéns Valmart, os olhos atordoados e perdidos no vazio”.

As companhias aéreas afirmam não ter conhecimento de que os seus aparelhos são utilizados para este tipo de operações e distanciam-se da política de separação das crianças.

O Departamento de Segurança Interna, por seu lado, critica as empresas que tomam esta posição acusando-as de não quererem “fazer parceria com os bravos homens e mulheres” desta organização “que protegem os passageiros, combatem o tráfico de seres humanos e contribuem para reunir rapidamente os imigrantes ilegais desacompanhados às suas respectivas famílias”. A atitude das companhias aéreas, acrescenta o Departamento de Segurança Interna, “deixa mais crianças à mercê dos traficantes”.

O contrato da Administração norte-americana com a empresa MVM, Inc. prolonga-se, pelo menos, até Setembro do próximo ano.


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