POLÓNIA OFERECE MILHÕES PARA TER UM “FORTE TRUMP”

2019-02-09
Louise Nyman, Varsóvia
Meios de comunicação social polacos e norte-americanos dão conta de que os trabalhos da comissão que estuda a criação de uma base militar permanente dos Estados Unidos na Polónia, o “projecto Forte Trump”, estão “a decorrer bem”.
A questão não é “se irá haver uma base dos Estados Unidos na Polónia, mas que estrutura terá”, informou o ministro polaco da Defesa, Mariusz Blaszcjak, a propósito dos trabalhos da comissão mista encarregada de dar ao andamento ao assunto e que funciona no Pentágono, em Washington.
Em Setembro passado, o presidente da Polónia, Andrzej Duda, ofereceu dois mil milhões de dólares aos Estados Unidos pela construção de uma base militar permanente no território polaco e que, “por brincadeira”, baptizou como “Forte Trump”. E “Forte Trump” passou a designar-se o projecto posto em marcha com esse objectivo, que órgãos da imprensa polaca consideram “uma mina de ouro” para o complexo militar e industrial que governa os Estados Unidos, designadamente a indústria de armamento.
Além dos dois mil milhões de dólares oferecidos pelo presidente, a Polónia assegurará residências, educação e assistência médica aos militares norte-americanos e respectivas famílias.
“O governo da Polónia ofereceu ao presidente Trump dinheiro, fama e uma oportunidade para se apresentar como um aliado contra a Rússia”, afirmou o ministro da Defesa do executivo de extrema-direita de Varsóvia.
Num artigo dedicado ao tema, o Washington Post, um dos jornais oficiosos do regime norte-americano, afirma que várias hipóteses estão em cima da mesa onde se prepara o “projecto Forte Trump”: a construção de várias bases, como na vizinha Alemanha, a distribuição de contingentes de soldados norte-americanos por várias regiões da Polónia ou então uma base.
A Polónia alberga já uma secção do chamado “escudo defensivo”, uma estrutura que, apesar da designação, tem um carácter ofensivo contra a Rússia estabelecido no quadro da NATO. A Polónia é um dos países integrados na rotatividade de quatro batalhões multinacionais da aliança que envolve igualmente os Estados bálticos Lituânia, Estónia e Letónia.
Quando o “projecto Forte Trump” se tornou um tema da comunicação social nos Estados Unidos, as acções de algumas das empresas de armamento que fornecem o Pentágono registaram significativos aumentos. Uma delas, a Aero-Environment, produtora de drones, teve uma subida de 103% nas cotações durante o ano de 2018.
Tendo em conta as tendências que ganham força desde que a administração Trump se estabilizou com a presença de falcões de extrema-direita como John Bolton e Michael Pompeo, admite-se a possibilidade de a nova base poder albergar mísseis nucleares de médio alcance e bombas nucleares de “reduzida potência” como as B 61-12 que os Estados Unidos irão distribuir por países europeus a partir do próximo ano.
Objectivo: manipulação
O entusiasmo da extrema-direita polaca com este tema não é partilhado por outros sectores da sociedade, mesmo no interior das forças armadas.
“Os Estados Unidos apenas necessitam de nós com o objectivo de nos manipular”, alega o general Skrzypczak, ex-comandante das forças terrestres da Polónia. “E a nossa diplomacia é tão débil que não se dá conta de como os norte-americanos nos usam para alcançar os seus objectivos”, acrescentou.
O general deu o exemplo da realização na Polónia de uma conferência anti-iraniana, um assunto “que é alheio ao país”. “Os Estados Unidos procuram aliar-se ao maior número de países para aplicar as suas políticas de contenção contra a China e a Rússia”, explicou o general Skrzypczak. Mas “para lá do Irão está a China, por detrás da China está a Rússia, isto está tudo ligado, essa é uma guerra que os Estados Unidos não conseguirão ganhar, o que se demonstra pelo facto de ainda não ter vencido qualquer das guerras que têm provocado”, sublinhou.
Neste caso do “projecto Forte Trump”, além de “aliado a Polónia propõe-se actuar como financiador de recursos”, notou o general.
Conhecida por ser uma marca associada a grandes torres urbanas, hotéis de luxo e estâncias de golfe, a designação “Trump” está agora em vias de ser inscrita em edifícios de guerra, por iniciativa polaca.