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JULIAN ASSANGE, PROMETEU ACORRENTADO

Assange, desfeito pela tortura psicológica, nas mãos dos esbirros britânicos

2020-09-17

Pepe Escobar, Consortium News/O Lado Oculto

É a antiga tragédia grega, reencenada na Anglo-América.

Sob ribombante silêncio e indiferença quase universal, acorrentado, imóvel, invisível, um Prometeu esquálido foi transferido do patíbulo para um julgamento-espectáculo num tribunal gótico fake, dentro de uma prisão medieval.

Cratos, personagem que encarna o Poder, e Bia, que encarna a Violência [personagem muda] cuidaram atentamente de acorrentar Prometeu, não a uma montanha no Cáucaso mas ao confinamento em cela solitária numa prisão de segurança máxima, exposto a incansável tortura psicológica. Em nenhuma das torres de vigilância do ‘ocidente’ apareceu algum Hefesto voluntário que forjasse qualquer pequena relutância, qualquer dúvida, nem que fosse uma gota de piedade.

Prometeu está a ser punido não por ter roubado o fogo dos deuses – mas por ter exposto o poder à luz da verdade, provocando com isso a ira sem limite nem descanso de Zeus, O Excepcionalista, que só consegue consumar os seus crimes se ninguém o vir, se se esconder sob incontáveis véus de sigilo e segredo.

Prometeu atropelou o mito do segredo – que garante a Zeus os meios para controlar todo o universo humano. E atropelar mitos é anátema.

Durante anos, hackers estenógrafos degradados trabalharam sem descanso para inventar um Prometeu trapaceiro, falsário, leviano.

Abandonado, degradado, demonizado, Prometeu só foi consolado por um pequeno coro de Ninfas – Craig Murray, John Pilger, Daniel Ellsberg, Wiki combatentes, colaboradores da publicação Consortium News.

Até as ferramentas mais básicas para organizar alguma defesa foram negadas a Prometeu, qualquer coisa que, pelo menos, desse um abanão na narrativa de Zeus, na sua dissonância e falsidade.

Oceano, o Titã pai das Ninfas, tenta, mas não consegue, convencer Prometeu a não provocar ainda mais a ira de Zeus.

Prometeu revelou às Ninfas que expor o segredo de Zeus nunca fora o maior anseio do seu coração. E que, a longo prazo, o seu sofrimento poderia reacender o amor do povo pelas artes civilizacionais.

Zeus e os seus capangas condenadores de deuses e homens nada têm, comprovado, contra Prometeu, além da posse e da distribuição de informação sigilosa dos Excepcionais.

Mesmo assim acaba por caber a Hermes — mensageiro dos Deuses e, significativamente, o que distribui o noticiário – ser um enviado de Zeus que, tomado de incontrolável fúria, exige que Prometeu se declare culpado por ter derrubado a ordem baseada em regras fixadas pelo Supremo Excepcional.

Tudo isto está a ser ritualizado no actual tribunal-espetáculo – que jamais teve qualquer coisa a ver com Justiça.

Prometeu não será domado, nunca cede. Em pensamento, diz como o Ulisses de Tennyson: “Tentar, procurar, encontrar e não se render”.

Deste modo, Zeus consegue finalmente atingi-lo com o raio do Excepcionalismo, e Prometeu é condenado.

Mas Prometeu roubou o segredo do poder, e esse roubo não pode ser desfeito. O seu destino com certeza preparará a entrada em cena de Pandora com a sua caixa de desgraças – completa, com consequências não previstas.

Seja qual for o veredicto daquele tribunal do século 17, não é garantido, longe disso, que Prometeu entre para a História como único culpado por toda a loucura humana.

Porque agora o xis da questão é que Zeus foi desmascarado.


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