DISTANCIAMENTO SOCIAL DA DEMOCRACIA

2020-04-25
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto
A epidemia de COVID-19 é uma ocasião para impor softwares de rastreamento individual que, a prazo, podem ser de identificação – o que em tempos normais as democracias recusariam. Não se trata de ficção científica e pode rapidamente tornar-se realidade.
“O distanciamento social está aí para ficar muito mais do que algumas semanas; irá alterar o nosso modo de vida, de alguma maneira para sempre”: foi o que anunciaram os investigadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT - Instituto de Tecnologia do Massachusetts), uma das mais prestigiadas universidades norte-americanas.
Os investigadores citam o relatório apresentado por colegas do Imperial College de Londres, segundo o qual o distanciamento social deveria tornar-se uma norma constante a ser abrandada ou intensificada consoante o número de hospitalizados em serviços de cuidados intensivos por causa do COVID-19. O modelo elaborado por estes investigadores, e outros, não diz respeito apenas às medidas a tomar contra o coronavírus. Está a tornar-se um verdadeiro modelo social do qual se preparam já os procedimentos e os instrumentos que os governos deverão impor através de leis.
Os dois gigantes norte-americanos de informação Apple e Google, até aqui rivais, associaram-se para inserir nos seus sistemas operacionais milhares de milhões de telefones iPhone e Android do mundo inteiro, um programa de “rastreamento de contactos” que alerta os usuários se estiveram nas proximidades de alguém infectado com o vírus. As duas empresas garantem que o programa “respeitará a transparência e a vida privada” das pessoas envolvidas.
“Certificados digitais”
Um sistema de rastreamento ainda mais eficaz é o dos “certificados digitais”, nos quais trabalham duas universidades norte-americanas, a Rice University e o MIT, apoiadas pela Fundação Bill e Melinda Gates, instituição criada por Bill Gates, fundador da Microsoft e a segunda pessoa mais rica do mundo, segundo a revista Forbes. Ele próprio o anunciou publicamente a um empresário que lhe perguntou como poderia retomar as actividades produtivas salvaguardando a distância social: “Para acabar teremos certificados digitais para mostrar quem está curado ou quem foi testado recentemente ou quem já está vacinado, a partir do momento em que já tenhamos a vacina”.
O certificado digital de que fala Gates não é o actual cartão de saúde electrónico. A Rice University anunciou em Dezembro de 2019 a invenção de pontos quânticos à base de cobre que, injectados no corpo juntamente com uma vacina, “se tornam qualquer coisa como uma tatuagem com código de barras que pode ser lido por um smartphone personalizado”.
O Instituto de Tecnologia do Massachusetts desenvolveu a mesma tecnologia.
A invenção desta tecnologia foi encomendada e financiada pela Fundação Gates, que declara pretender utilizá-la nas vacinações de crianças principalmente nos países em vias de desenvolvimento. Poderá igualmente ser usada numa vacinação à escala global contra o coronavírus.
Eis o futuro “modo de vida” que nos é pré-anunciado: a distância social de intensidade variável permanentemente em vigor, o medo constante de estar próximo de uma pessoa infectada pelo vírus, situação assinalada por um toque do nosso telemóvel, o controlo permanente através de um “código de barras” implantado no nosso corpo. O que será, em substância, uma extensão dos sistemas militares com os quais podemos perseguir e atingir “alvos” humanos.
Sem subavaliar o perigo do coronavírus, seja qual for a sua origem, e a necessidade de medidas para impedir a sua disseminação, não podemos deixar nas mãos de cientistas do MIT e da Fundação Gates a decisão sobre o que deverá ser a nossa maneira de viver. E não podemos deixar de pensar ao levantar questões. Por exemplo: é muito grave que os mortos de coronavírus na Europa sejam actualmente mais de cem mil, mas que medidas deveríamos tomar, em proporção, contra as partículas finas que, segundo os dados oficiais da Agência Europeia do Ambiente, provocam todos os anos a morte prematura de mais de 400 mil pessoas?