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ISRAEL E TRUMP QUEREM “EXTINGUIR” A QUESTÃO PALESTINIANA

De acordo com a estratégia e a prática do sionismo e seus aliados, massacres como o da aldeia palestiniana de Deir Yassin nunca existiram, assim como "não existem" hoje os refugiados palestinianos

2018-10-12

Christopher Wadi, Jerusalém Leste

Ao mesmo tempo que consolidam o regime de apartheid, recentemente transformado em lei pelo Parlamento, as autoridades israelitas tomam medidas que visam apagar ou esconder a realidade palestiniana que serviu de base ao modo como o problema foi inserido no direito internacional. As decisões mais recentes atingem a memória da Nakba – a tragédia da expulsão de centenas de milhares de palestinianos para dar lugar à criação do Estado de Israel – e a questão dos refugiados.

O presidente da Câmara de Jerusalém, Nir Barkat, anunciou recentemente a intenção de fechar as instalações da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) no sector ocupado da cidade e de pôr termo a todos os serviços que presta, designadamente o funcionamento de escolas, centros médicos e centros sociais e desportivos.
Este ataque à agência das Nações Unidas enquadra-se na ofensiva lançada pela administração Trump ao transferir a embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém e também ao anúncio de que tenciona cortar a verba de 300 milhões de dólares canalizada para a UNRWA através da ONU.
Além disso, Trump mantém em carteira, embora não o tenha ainda divulgado na íntegra, o chamado “acordo do século” sobre a questão israelo-palestiniana e que, na prática, ignora os direitos dos 5,4 milhões de refugiados palestinianos.
A televisão israelita atribuiu recentemente a Trump o objectivo de encerrar a UNRWA e alterar o estatuto internacional dos refugiados palestinianos.
“A decisão dos Estados Unidos de transferir a embaixada criou uma oportunidade rara para substituir os serviços da UNRWA pelos serviços do município de Jerusalém”, disse Nir Barkat, acrescentando que toda a actividade da agência das Nações Unidas “é ilegal”.
Desta maneira, prosseguiu o presidente do município de Jerusalém, “pomos fim à mentira do problema dos refugiados palestinianos e às tentativas para criar uma falsa soberania dentro de uma soberania” - palavras que transmitem, sem rodeios, a essência do poder sionista. Barkat explicou que as escolas da UNRWA, único veículo de ensino para cerca de 1800 crianças e jovens palestinianos de Jerusalém Leste, deverão ser encarradas até final do ano lectivo em curso.
Declarações do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, têm aberto caminho para este tipo de decisões ao dizer que a UNRWA deve ser extinta, passando as suas responsabilidades para a agência de refugiados da ONU.
Chris Guness, porta-voz da UNRWA, disse que os cortes dos fundos norte-americanos à agência são “um ataque político”. Além disso, precisou, só a ONU poderá determinar qualquer alteração nos estatutos dos refugiados palestinianos e da UNRWA. “Os 5,4 milhões de pessoas que pertencem a uma comunidade protegida pela ONU não podem ser retirados da história e os seus direitos não podem ser postos de lado, desde logo o direito à educação, à saúde e à autodeterminação”, disse Guness.

O massacre de Deir Yassin não existiu

A ofensiva generalizada de Israel contra os palestinianos, sob cobertura dos Estados Unidos, inclui a intenção de rever e mistificar a história.
Netanyahu assinou uma ordem prolongando de 70 para 90 anos o segredo sobre informações guardadas nos arquivos do Estado sobre as práticas dos grupos terroristas sionistas que provocaram a expulsão em massa dos palestinianos, os massacres de populações e a destruição de aldeias, vilas e cidades no final dos anos quarenta do século passado.
Esta ordem impõe, portanto, o secretismo sobre a Nakba palestiniana e os massacres de populações inteiras, como o que foi cometido na aldeia de Deir Yassin, entre 9 e 11 de Abril de 1948. Em 2010, o já então primeiro-ministro Netanyahu aumentara o período de segredo de 50 para 70 anos, percebendo-se que, por detrás destas prorrogações, está o intuito das autoridades sionistas em impedir que os factos criminosos sejam conhecidos em pormenor.
O segredo inclui os materiais relativos ao Shin Beth e ao Mossad, os serviços de espionagem internos e externos, aos centros de pesquisas nucleares e biológicas.
Além disso, segundo as normas vigentes em Israel, o fim do período de confidencialidade dos arquivos não implica a sua abertura ao público. Cabe a uma comissão chefiada pelo ministro da Justiça determinar as normas e condições de eventuais acessos.
As leis do país determinam que todos os cidadãos podem aceder aos Arquivos do Estado, mas isso não passa de uma mera formulação teórica sem qualquer correspondência na prática, afirmam historiadores israelitas que deparam com restrições permanentes ao seu trabalho.
“Palestinianos? Isso é coisa que não existe”, declarava Golda Meir, primeira- ministra israelita entre 1969 e 1974. Trump e os dirigentes sionistas actuais tentam validar essa máxima que tem um inegável fundo genocida.

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