O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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UM MILHÃO DE MILHÕES DE DÓLARES PARA A GUERRA

Afeganistão

2020-02-21

No ano fiscal de 2021 o orçamento dos Estados Unidos prevê despesas da ordem de um milhão de milhões de dólares para a guerra, que comparam com 94500 milhões no sector da saúde e serviços humanitários (menos 10% que em 2020), apesar de só nos últimos quatro meses terem morrido 10 mil cidadãos norte-americanos vítimas de gripe comum. São estas as prioridades do regime de Washington, que se diz inquieto com “o ressurgimento de Estados nacionais rivais, nomeadamente a China e a Rússia”. É preciso, diz o documento, “aumentar a nossa vantagem bélica” sobre esses e outros países.

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

O “Orçamento para o Futuro da América” apresentado pelo governo dos Estados Unidos mostra as prioridades da Administração Trump no plano federal para o ano fiscal de 2021 (que começa a 1 de Outubro deste ano).

Antes de mais, reduzir as despesas sociais: por exemplo corta em 10% as verbas do Departamento da Saúde e dos Serviços Humanitários. E fá-lo numa altura em que as próprias autoridades sanitárias comunicaram que só a gripe provocou nos Estados Unidos, de Outubro a Fevereiro, cerca de dez mil mortos numa população de 330 milhões. Uma informação silenciada pela comunicação social corporativa, que prefere lançar o alarme mundial sobre os cerca de dois mil mortos provocados pelo coronavírus na China, um país com 1400 milhões de habitantes. E que foi capaz de adoptar medidas excepcionais para limitar os danos da epidemia.

Não pode deixar de suspeitar-se dos objectivos reais da campanha mediática assediante, que espalha o terror sobre tudo o que é chinês, quando na explicação de motivos do orçamento norte-americano pode ler-se que “a América tem diante de si o desafio resultante do ressurgimento de Estados nacionais rivais, nomeadamente a China e a Rússia”.

A China é acusada de “conduzir uma guerra económica com armas cibernéticas contra os Estados Unidos e os seus aliados” e de “querer moldar à sua imagem a região Indo-Pacífico, crítica para a segurança e os interesses económicos norte-americanos”. Para que “a região seja libertada da maléfica influência chinesa”, o governo dos Estados Unidos financia com 30 milhões de dólares o “Centro de empenhamento global para contrariar a propaganda e a desinformação da China”. No quadro “de uma competição estratégica crescente”, o governo norte-americano declara que “o Orçamento dá prioridade ao financiamento de programas que aumentem a nossa vantagem bélica contra a China, a Rússia e todos os outros adversários”.

Com este objectivo, o presidente Trump anuncia que, “para garantir a segurança interna e promover os interesses dos Estados Unidos no exterior, o meu orçamento necessita de 740500 milhões de dólares para a Defesa nacional” – em relação ao Departamento da Saúde e dos Serviços Humanitários o pedido não ultrapassa 94500 milhões de dólares.

Nos ares, em terra, no mar, no espaço e no ciberespaço

As verbas militares incluem 69 mil milhões de dólares para as operações de guerra de além-mar, mais 19 mil milhões para dez navios de guerra e 15 mil milhões para 115 caças F-35 e outros aviões, 11 mil milhões para potenciar os armamentos terrestres.

Para os programas científicos e tecnológicos do Pentágono são solicitados 14 mil milhões de dólares, destinados ao desenvolvimento de armas hipersónicas com energia directa, de sistemas espaciais e de redes 5G.

Estes não são mais do que alguns pontos de uma longa lista de despesas (de dinheiro público) que integra todos os sistemas de armas mais avançados, com lucros colossais para a Lockeed Martin e outras empresas de guerra.

Ao orçamento do Pentágono somam-se diversas despesas de carácter militar inscritas nos orçamentos de outros departamentos. No ano fiscal de 2021, o Departamento da Energia receberá 27 mil milhões de dólares para armazenar e modernizar o seu arsenal nuclear. O Departamento da Segurança da Pátria receberá 52 mil milhões para o seu próprio serviço secreto. E o Departamento dos Antigos Combatentes receberá 243 mil milhões (mais 10% em relação a 2020) para os militares na reserva.

Tendo em conta estas rubricas e ainda outras, as despesas militares dos Estados Unidos ultrapassarão um milhão de milhões de dólares no ano fiscal de 2021. Os gastos militares norte-americanas têm um efeito motor sobre os dos outros países, que continuam, porém, em níveis muito mais baixos. Mesmo tendo apenas em consideração o orçamento do Pentágono, a despesa militar dos Estados Unidos é três ou quatro vezes superior à da China e 10 vezes maior que a da Rússia. Deste modo, “o Orçamento assegura o domínio militar norte-americano em todos os sectores da guerra: aéreo, terrestre, marítimo, espacial e ciberespacial”, declara a Casa Branca ao anunciar que os Estados Unidos estarão brevemente em condições de produzir 80 novas ogivas nucleares por ano em dois sítios.

“O Futuro da América” pode significar o fim do mundo.



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