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IMPÉRIOS DO ARMAMENTO EXPÕEM MENTIRA DA NATO

O sistema Aegis pode lançar qualquer tipo de mísseis - diz o fabricante - e não apenas mísseis "defensivos", como proclama a NATO

2019-08-23

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

O orgulho empresarial e comercial dos impérios armamentistas traiu a NATO. A norte-americana Lockheed Martin, fabricante dos sistemas ditos “defensivos” Aegis (o famoso "escudo defensivo"), informa nos documentos alusivos que os seus equipamentos estão em condições de lançar mísseis de qualquer tipo, defensivos e ofensivos, de médio e de mais longo alcance, aptos nomeadamente para “ataques contra objectivos terrestres”. Cai por terra a mais mítica e fantasista tese de propaganda da NATO: a de que a aliança apenas se “defende”.

A base de mísseis da NATO em Deveselu, na Roménia, que integra o sistema norte-americano Aegis de “mísseis defensivos”, terminou agora a “actualização” iniciada em Abril último. É a própria Aliança Atlântica que distribui a informação, assegurando que a operação “não conferiu qualquer capacidade ofensiva ao sistema”, que “continua puramente defensivo, centrado nas potenciais ameaças provenientes do exterior da área euro-atlântica”.

A base de Deveselu está dotada (segundo a descrição oficial) com um sistema de 24 mísseis instalados em lançadores verticais subterrâneos, para intercepção de mísseis balísticos de curto e médio alcance. Um outro sítio, que entrará em funcionamento em 2020 na base polaca de Redzikowo, será igualmente equipado com este sistema.

Lançadores do mesmo tipo estão instalados a bordo de quatro navios da Armada norte-americana, que estacionam na base espanhola de Rota e cruzam o Mediterrâneo, o Mar Negro e o Báltico. A própria instalação dos lançadores mostra que o sistema não se dirige contra a “ameaça iraniana” (como declaram os Estados Unidos e a NATO), mas principalmente contra a Rússia.

Lockheed Martin “vende” o seu produto

Que o chamado “escudo” não é “puramente defensivo” explica-o a própria indústria de guerra através do fabricante do sistema: a Lockheed Martin. As suas informações revelam que o sistema “está projectado para instalar qualquer tipo de míssil em qualquer rampa de lançamento”; daí que esteja adaptado “a qualquer missão de guerra”, incluindo “ataques contra objectivos terrestres”. A Lockheed Martin sublinha que as rampas de lançamento de maiores dimensões podem disparar “os mísseis de maiores dimensões, como os de defesa contra mísseis balísticos e os ofensivos de longo alcance”. Reconhece portanto, em substância, que as instalações na Roménia e na Polónia e os quatro navios do sistema Aegis podem ser armados não apenas com mísseis anti-mísseis mas também com mísseis de cruzeiro Tomahawk com ogivas nucleares capazes de atingir objectivos a milhares de quilómetros de distância.

Como documenta o Serviço de Investigação do Congresso norte-americano, os quatro navios que “operam em águas europeias para defender a Europa de potenciais ataques com mísseis balísticos” integram uma frota de 38 navios Aegis que, em 2024, será aumentada para 59.

1800 milhões

No ano fiscal de 2020, 1800 milhões de dólares serão atribuídos à potencialização deste sistema, incluindo os sítios na Roménia e na Polónia. Outras instalações terrestres e navios do sistema Aegis funcionarão não apenas na Europa, contra a Rússia, mas também na Ásia e no Pacífico, contra a China. De acordo com os planos, o Japão instalará dois sítios de mísseis fornecidos pelos Estados Unidos no seu próprio território. A Coreia do Sul e a Austrália comprarão navios do mesmo sistema aos Estados Unidos.

Além disso, dentro de três meses os equipamentos de Deveselu serão levados aos Estados Unidos para receberem “actualizações”; uma bateria móvel de mísseis Thaad do exército de terra dos Estados Unidos será instalada no sítio romeno, com capacidade para abater “um míssil balístico tanto dentro da atmosfera como fora dela” e também com possibilidades de lançar mísseis nucleares de médio alcance.

Logo que o sistema Aegis esteja plenamente em funções – comunica a NATO – será instalada a bateria Thaad. A aliança não especifica onde. Mas sabe-se que o exército dos Estados Unidos colocou baterias de mísseis deste tipo desde Israel à ilha de Guam, no Pacífico.

À luz destes factos, ocorridos no momento em que os Estados Unidos rasgam o Tratado INF para instalar mísseis de médio alcance perto da Rússia e da China, não há que ficar surpreendidos com o anúncio de que a Rússia instalou bombardeiros ofensivos nucleares Tu-22M3 na Crimeia; uma informação divulgada em Moscovo pelo senador Viktor Bondarev, presidente da Comissão de Defesa.

No entanto, quase ninguém se preocupa com tal realidade, uma vez que, na União Europeia, tudo isto é escondido pelo aparelho político-mediático.



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