ARÁBIA SAUDITA “ADIVINHOU” ATENTADOS NO SRI LANKA

2019-05-25
Edward Barnes, Damasco; com Reseau Voltaire
Os dirigentes da ditadura fundamentalista islâmica da Arábia Saudita tiveram conhecimento antecipado da onda de ataques terroristas cometidos na Páscoa no Sri Lanka, de acordo com provas obtidas junto de alguns dos detidos do processo e outras publicadas pela comunicação social de países árabes.
Mohamed Aliyar, um pregador wahabita – confissão sunita fundamentalista que sustenta ideologicamente o regime saudita – é um dos elementos-chave para desfiar a meada da operação terrorista que vitimou mortalmente cerca de 270 pessoas e feriu mais de 500 em Abril passado no Sri Lanka. Aliyar é o director do Centro de Orientação Islâmica de Kattankudy, uma cidade de maioria muçulmana do Leste do Sri Lanka e foi detido recentemente por alegado envolvimento nos atentados.
De acordo com fontes policiais de Colombo, Aliyar tem ligações a Zaharan Hashim, o chefe da operação terrorista conduzida pelo Daesh, ou Estado Islâmico, na Páscoa sobretudo junto de templos católicos do Sri Lanka. Hashim frequentava o Centro de Orientação Islâmica, financiado por contribuições de correligionários de estudos islâmicos de Mohamed Aliyar na capital saudita, Riade.
Um elemento que vem associar mais directamente os círculos dirigentes sauditas aos sangrentos acontecimentos no Sri Lanka é o fac simile de um telegrama enviado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita ao seu embaixador no Sri Lanka, em 17 de Abril. Nele se desaconselha a presença de cidadãos sauditas em zonas com grande concentração de pessoas e locais públicos perto de igrejas “nos próximos três dias, sobretudo no dia da Páscoa cristã”. Os atentados ocorreram em 21 de Abril, domingo de Páscoa
Publicado pelo jornal libanês Alahed News, editado pelo movimento Hezbollah, o telegrama tem a data de 17 de Abril de 2019 e foi enviado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita ao seu embaixador no Sri Lanka. O texto diz o seguinte:
“Urgente – Top Secret
A Sua Excelência o embaixador Abdul Nasser bin Hussein al-Harethi
Deve tomar imediatamente as seguintes medidas:
1º Suprimir todos os documentos, os dados informáticos e a mais recente correspondência com membros e grupos nacionais e estrangeiros, além de impor um recolher obrigatório ao pessoal da embaixada, excepto se (uma viagem) for necessária;
2º Informar todos os que tenham ligações com o Reino da Arábia Saudita, nomeadamente os conselheiros, as forças de segurança e os serviços de informações, para evitarem qualquer presença em lugares públicos e super-frequentados, nomeadamente as igrejas, durante os próximos três dias, em particular o da Páscoa cristã;
3º Enviar regularmente notícias escritas a propósito das autoridades do Sri Lanka e seus pontos de vista para este ministério.
Assinado: Ibrahim bin Abdul Aziz al-Assaf, ministro dos Negócios Estrangeiros”.
Os atentados ocorreram em 21 de Abril.
A estação oficial de televisão oficial da Arábia Saudita, Al-Arabiya, anunciou em 1 de Fevereiro de 2014 que o Daesh era dirigido pelo príncipe Abdul Rahman al-Faiçal (irmão do ministro dos Negócios Estrangeiros em funções na época).
No seguimento do discurso de Riade do presidente norte-americano, Donald Trump, a Arábia Saudita afirmou que retirou o seu apoio às organizações jihadistas. No entanto, a questão do “Movimento pela Fé”, que a propaganda britânica designou “Exército de Salvação dos Rohingyas de Arakan”, revelou que a Arábia Saudita dirigiu o terrorismo rohingya em Myanmar, em 2017. Desde então, numerosas informações por confirmar têm vindo a dar conta de que Riade está a retomar em mãos o controlo dos grupos jihadistas.