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AFINAL OS ESTADOS UNIDOS FICAM NA SÍRIA

Tropas norte-americanas na Síria. Para ficar até que as expulsem

2019-03-08

Kurt Nimmo, Global Research/O Lado Oculto

Há apenas dois meses, o presidente dos Estados Unidos declarou que iria deixar a Síria e traria as tropas norte-americanas de volta a casa. “Os nossos jovens, as nossas jovens, os nossos homens estão de volta”, anunciou Trump. “Regressam agora. Vencemos. É assim que queremos. E é assim que eles querem”.

Isso foi há dois meses. Agora é outra coisa.
Agora Trump volta as costas à sua promessa, como fez com a maioria das outras promessas; e as tropas dos Estados Unidos vão continuar a violar a soberania nacional da Síria durante um período de tempo imprevisível.
De caminho, Donald Trump deveria ainda admitir, mas o seu ego imenso não deixa, que, na melhor das hipóteses, os Estados Unidos desempenharam um papel menor na erradicação do Estado Islâmico, organização terrorista que nasceu de uma Psyop (operação psicológica) do Pentágono durante a resistência iraquiana à invasão conduzida por George W. Bush.
Na verdade, quem neutralizou a ameaça representada pelo Estado Islâmico foram a Rússia e o Irão, em coordenação com as tropas da República Árabe da Síria. Porém, não ouviremos Trump reconhecê-lo; tão pouco os media corporativos, que detestam falar sobre isso. Se perguntarmos ao cidadão norte-americano comum, provavelmente ele dirá que foram os Estados Unidos que venceram sozinhos o Estado Islâmico.
“Um pequeno grupo de manutenção da paz, com cerca de 200 pessoas, permanecerá na Síria por um determinado período de tempo”, anunciou a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, ainda durante o mês de Fevereiro.
Mas o Pentágono, um mentiroso contumaz durante décadas a fio, afirmou que o número de militares em território sírio é, actualmente, o dobro disso. No entanto, o contingente ali presente no momento é provavelmente o triplo ou o quádruplo dos números oficiais – possivelmente mais, muito mais.

Pilar da política externa

Essa ilegalidade, essa violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas (que os Estados Unidos assinaram em 1945, com a fundação da ONU) representam uma pedra fundamental da política externa de Washington. Os Estados Unidos invadiram 70 países, envolveram-se em genocídios, em guerras económicas, têm fomentado o terror – e isto desde a sua fundação.
O ISIS não é, nem nunca foi, a razão pela qual os Estados Unidos bombardearam alvos civis e mataram milhares de cidadãos sírios indefesos. A guerra contra o ISIS foi um pretexto para a concretização de uma presença militar na Síria, com a desculpa de estar a desenvolver um esforço para combater os objectivos geopolíticos do Irão.

Israel, o fulcro

A peça central desta estratégia é Israel, que continua a mobilizar o que for possível para uma invasão directa do Irão, recorrendo ao pretexto falacioso das armas nucleares. Como o Iraque de Saddam Hussein, o Irão não possui armas nucleares, realidade que foi confirmada pela Agência Internacional de Energia Atómica. A mesma agência revelou que o Irão está igualmente em conformidade com o Plano de Acção Integral Conjunta, que Trump acabou por matar. No entanto, os Estados Unidos continuam a recorrer à falácia absurda segundo a qual o Irão tenciona bombardear Israel, assim evocando a possibilidade implícita de Israel recorrer às suas armas nucleares, não-declaradas, e que existem há décadas.
Isso era óbvio desde o início; e mais ainda se tornou quando Trump se rodeou de generais e, em seguida, de uma turba de neoconservadores (Bolton, Abrams, Pompeo). Percebeu-se então que nunca iríamos testemunhar o cumprimento da sua promessa de tornar de novo os Estados Unidos uma nação não-intervencionista, coisa que nunca foi.

Os seus fiéis seguem-no

É absolutamente seguro afirmar que as suas tropas do MAGA (Make America Great Again) seguiram fielmente Trump nas políticas desenhadas pelos neoconservadores e os seus primos, os “intervencionistas humanitários”. Se dermos uma olhada nos portais de extrema-direita Breibart e Drudge Report, não encontraremos praticamente qualquer crítica à política externa de Trump, uma vez que estão focados nas questões fronteiriça e nas reviravoltas de uma orquestrada “guerra civil” entre a “nova direita” e a “esquerda”. Breibart parece mesmo mais interessado na guerra sem fim em torno do calçado de Melania Trump, enquanto Drudge apimenta as suas páginas com historietas absurdas sobre celebridades desportivas à mistura com notícias sobre a fronteira, as maldades de Hillary Clinton e dos democratas e coisas afins. A nova atracção é Alexandra Ocasio-Cortez, que compete diariamente com a falseada investigação sobre Mueller, o chefe da campanha de Trump.
Não são notícias falsas, são manobras de diversão.
É justo dizer que a maioria dos defensores da MAGA e de Trump acreditam que Make America Great Again (Tornar a América Grande de Novo) se alcança invadindo países pequenos, geralmente indefesos.
No caso de Breibart e Drudge, essas questões são totalmente ignoradas.
Deve ter-se em consideração que Breibart começou em Jerusalém. “Uma coisa que foi discutida em Israel… foi o nosso desejo de lançar um site pró-liberdade e assumidamente pró-Israel. Estávamos cansados dos olhares enviesados anti-Israel dos grandes media. Ao lançar Breibart cumpriu-se uma promessa feita entre dois amigos. Num sentido muito real, o Breibart News Network é um regresso às origens”, escreveu Larry Solo para o Breibart em Novembro de 2013 (o artigo foi acompanhado de uma foto de Andrew Breibart com Benjamin Netanyahu) ”.
Donald Trump é agora um neoconservador encartado que faz o trabalho de Israel no Médio Oriente. A sua traição à promessa de retirar as tropas da Síria (e do Iraque e do Afeganistão), além da colaboração com Israel e os seus crimes – acima de tudo, o genocídio dos palestinianos em câmara lenta – revela mais do mesmo, independentemente das peculiaridades da sua personalidade e do narcisismo delirante que manifesta diariamente.


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