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TRUMP RETIRA TROPAS, MACRON ENVIA-AS

Tropas de ocupação francesas na Síria

2019-01-31

Sylvie Moreira, Paris

O presidente francês decidiu enviar mais tropas para a Síria e o Iraque com o objectivo operacional de substituir os efectivos norte-americanos que serão retirados na sequência do anúncio feito pelo presidente norte-americano. As decisões de Trump saldar-se-ão, afinal, por uma troca de guarnições no âmbito da presença ilegal da NATO naqueles países.

Segundo fontes que circulam na diplomacia francesa, a palavra final de Emmanuel Macron quanto à data do envio do reforço de tropas depende apenas do calendário definitivo a estabelecer para concretizar o anúncio do presidente norte-americano.
Admite-se, contudo, que este possa não ser levado até às últimas consequências, devido à oposição do núcleo de falcões que rodeiam Trump. Sabe-se, para já, que haverá pelo menos uma recomposição operacional baseada no apuramento dos sistemas e meios de espionagem que permitam garantir o efeito da presença militar no terreno, de “forma a monitorar os movimentos das tropas sírias e turcas”.
Independentemente disto, tudo indica que Macron manterá a decisão através do envio de mais umas centenas de efectivos e de material de guerra pesado. O reforço de armamento representa a vertente negocial desta operação, pois trata-se de material que, além de ser considerado necessário no “teatro de guerra”, poderá ser adquirido por países da região.
França é um país que tem estado particularmente activo na exportação de armas que alimentam as guerras do Médio Oriente. A imprensa francesa revelou, nas últimas horas, mais uma importante diligência de Paris para entregar navios de guerra à Arábia Saudita, envolvida no conflito imposto ao Iémen e que tem o seu epicentro na região costeira do sul do país, o que torna decisiva a componente naval. Longe vão já os tempos recentes em que Macron dizia criticar o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, pelo assassínio do jornalista e espião Jamal Kashoggi.
A componente económica associada à guerra foi um dos temas que levou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros a dar conta do descontentamento de Paris com a anunciada retirada de tropas norte-americanas, alegando que o conflito sírio não está resolvido e os países da região continuam compradores de material de guerra. A mesma porta-voz deu conta da insatisfação de Paris com o facto de ainda não ter obtido o retorno pretendido com o investimento feito nas zonas de guerra da Síria e do Iraque.
A indústria militar francesa, da qual Macron se faz eco, pretende vender ainda canhões Caesar a Bagdade, além de veículos blindados e drones.

Grande actividade

Estas movimentações, coordenadas entre o presidente Emmanuel Macron e a ministra da Defesa, Florence Pétry, revelam a intenção de manter uma presença militar francesa activa no Médio Oriente, complementando a influência directa que continua a administrar em África. O que acontece, também, por via indirecta pois já não é segredo que houve mercenários franceses, ex-altos quadros do Exército, envolvidos na recente tentativa de golpe de Estado no Gabão.
O envio de mais tropas e novas armas para a região do Médio Oriente, sobretudo para as zonas fronteiriças entre a Síria e o Iraque, revelam também a intenção da NATO de manter estas presenças contrárias ao direito internacional, uma vez que acontecem sem autorização e à revelia da vontade dos governos legítimos de ambos os países – especialmente da Síria.


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