O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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WASHINGTON HUMILHA A UNIÃO EUROPEIA

Sem palavras

2019-01-21

Martha Ladesic, Washington

A administração dos Estados Unidos da América despromoveu a representação da União Europeia em Washington de Embaixada ao estatuto de “organização internacional”, embora a decisão esteja suspensa depois de um incidente protocolar registado durante o funeral do antigo presidente George H. Bush, no início de Dezembro.

O Departamento de Estado mantém-se oficialmente em silêncio sobre o assunto, ignorando-se se o restabelecimento da situação depois do incidente representa, ou não, uma solução meramente temporária.
Os diplomatas da missão da União Europeia em Washington aperceberam-se de que algo tinha acontecido em relação aos procedimentos protocolares normais apenas quando foram colocados perante uma situação prática.
Isso aconteceu nos funerais de George H. Bush. Durante as cerimónias oficiais, o chefe da representação da União Europeia em Washington, Edward O’Sullivan, deveria ter sido incluído na restrita lista protocolar dos embaixadores e chamado segundo a ordem habitual: do mais antigo para o mais recente.
O embaixador de Bruxelas verificou depois que fora integrado num elenco muito mais vasto e indiferenciado - o dos cerca de 150 representantes de entidades com estatuto de “organização internacional”.

“Esqueceram-se de notificar”

Ao aperceberem-se da circunstância, funcionários diplomáticos europeus entraram em contacto com o Departamento de Estado e foram então informados de que tinha havido uma redução do nível do estatuto representativo, facto de que a parte norte-americana “se esquecera” de notificar os interessados.
Funcionários diplomáticos alemães que revelaram o sucedido à Rádio Voz da Alemanha interpretaram estes acontecimentos como “injuriosos” e “humilhantes” para a União Europeia. Segundo os mesmos funcionários, a despromoção terá ocorrido entre o fim de Outubro e os primeiros dias de Novembro. O estatuto foi restabelecido depois do desencontro por ocasião do funeral, ignorando-se qual a decisão definitiva do Departamento de Estado – uma vez que continua a guardar silêncio sobre o assunto.
A representação da União Europeia em Washington tem estatuto de Embaixada desde 2016, por decisão da administração de Barack Obama. Caso venha a confirmar-se a baixa de estatuto isso significará que os representantes europeus na capital federal norte-americana terão muito mais dificuldades de acesso a personalidades oficiais e da administração.

Uma longa saga

Esta situação, considerada toda ela “bastante obscura” em meios diplomáticos, condiz com a degradação de relações que continua a existir entre os Estados Unidos e a União Europeia. Em Maio de 2018, a propósito dos diferendos sobre políticas comerciais, o presidente norte-americano, Donald Trump, qualificou a União Europeia como “inimiga”.
As divergências e correspondentes desconsiderações feitas pela parte norte-americana prosseguiram em torno das sanções estabelecidas por Trump contra o Irão e em relação às quais a União Europeia tarda em agir em consonância com as declarações proferidas no sentido da sua rejeição.
Ainda em termo de sanções, a posição da União Europeia é ainda mais nebulosa, quando não seguidista, em relação às que Donald Trump continua a acumular contra a Rússia.
No campo da batalha verbal que persiste, e que não é suficiente para disfarçar o elevado grau de subserviência da União Europeia, designadamente nos planos financeiro e militar, foram marcantes as palavras dedicadas pelo secretário de segurança de Trump, Michael Pompeo, aos centros de decisão da União, segundo ele nas mãos “dos burocratas de Bruxelas”.
Até ao momento, e além das escaramuças verbais esgrimidas por Emmanuel Macron, apenas a Alemanha tem mantido uma barreira perante as exigências de Washington, quando envolvem a construção do gasoduto Nord Stream 2 para abastecimento de gás natural oriundo da Rússia.
Em círculos diplomáticos da capital federal dos Estados Unidos corre a versão de que os falcões acastelados na administração Trump fazem apostas entre si sobre o tempo que o establishment de Berlim vai resistir à pressão norte-americana e se o empreendimento virá mesmo a ser concluído.

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