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UE E OS MÍSSEIS: AMANHÃ JÁ SERÁ TARDE…

2019-01-15

Manlio Dinucci, Itália; Il Manifesto/O Lado Oculto

Os Estados membros da União Europeia estão unanimemente alinhados com a estratégia militar do seu irmão norte-americano. Aceitaram que os seus próprios territórios se transformem num campo de batalha nuclear em caso de conflito entre os Estados Unidos e a Rússia.

Junto ao Palácio de Vidro das Nações Unidas, em Nova York, existe uma escultura metálica intitulada “O Bem vencendo o Mal”, representando S. Jorge trespassando um dragão com a sua lança. Foi oferecida pela União Soviética em 1990 para celebrar o Tratado INF estabelecido com os Estados Unidos em 1987 e que eliminou os mísseis nucleares de curto e médio alcance (entre 500 e 5000 quilómetros) instalados em terra. Simbolicamente, o corpo do dragão foi construído com pedaços de mísseis balísticos norte-americanos Pershing-2 (anteriormente instalados na Alemanha Ocidental) e SS-20 soviéticos (anteriormente baseados em território da URSS).
Mas agora o dragão nuclear, que a escultura representa em agonia, regressa à vida. Graças também aos países da União Europeia que, na Assembleia Geral das Nações Unidas, votaram contra uma resolução apresentada pela Rússia sobre a preservação e a aplicação do Tratado INF, rejeitada por 46 votos contra 43 e 78 abstenções.
A União Europeia - na qual 21 dos 27 Estados membros fazem parte da NATO (como acontece com o Reino Unido, de saída da UE) – fundiu-se, deste modo, com a posição da NATO; a qual, por sua vez, está fundida com a dos Estados Unidos da América. Primeiro a administração Obama e depois a administração Trump acusaram a Rússia, sem qualquer prova, de ter testado um míssil da categoria interdita e anunciaram a sua retirada do Tratado INF. Ao mesmo tempo, lançaram um programa para a instalação na Europa de novos mísseis nucleares contra a Rússia, a montar também na região Ásia-Pacífico, contra a China.

Uma UE dócil e suicida

O representante russo na ONU advertiu que “esta atitude é o início de uma corrida aos armamentos de parte inteira”. Por outras palavras, advertiu que se os Estados Unidos instalarem novamente mísseis nucleares na Europa apontados à Rússia (como estiveram também os mísseis de cruzeiro em Comiso, Itália, nos anos oitenta) a Rússia instalará no seu território, de novo, mísseis análogos dirigidos contra objectivos na Europa (não podendo atingir os Estados Unidos).
Com base em tudo isto, o representante da União Europeia na ONU acusou a Rússia de minar o Tratado INF e anunciou o voto contra de todos os países da União, porque “a resolução apresentada pela Rússia desvia o assunto em discussão”. Em suma, a União Europeia deu luz verde à possível instalação de mísseis nucleares norte-americanos na Europa, incluindo em Itália.
Perante um tema desta importância, o governo italiano de Giuseppe Conte, tal como os seus antecessores, renunciou a exercer a soberania nacional e alinhou-se com a UE, que por sua vez se alinhou com a NATO, sob comando dos Estados Unidos. E de todo o arco político italiano nenhuma voz se ouviu pedindo que seja o Parlamento a decidir a orientação do voto na ONU. E nenhuma voz se ouviu no Parlamento para exigir que a Itália respeite o Tratado de Não-Proliferação, impondo aos Estados Unidos que retire as bombas nucleares B61 do território nacional e não instale, a partir da primeira metade de 2020, as novas e ainda mais perigosas B61-12.
Mais uma vez foi violado o princípio constitucional fundamental estabelecendo que “a soberania pertence ao povo”. E, como o aparelho político-mediático mantém os italianos e outros povos na ignorância destas questões de vital importância, foi igualmente violado o direito à informação, não apenas no sentido da liberdade de informar mas também do direito a ser informado.
Ou isso se faz agora ou amanhã deixará de haver tempo para decidir: um míssil balístico de alcance intermédio, equipado com ogiva nuclear, necessita apenas de seis a 11 minutos para atingir e destruir o seu objectivo.




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