O CONVIDADO DE PEDRA À MESA ITÁLIA – RÚSSIA

2018-11-09
Manlio Dinucci, Il Manifesto, Roma
Desde Sílvio Berlusconi que a Itália tenta aproximar-se da Rússia, com a qual tem muitos interesses em comum. Contudo, os namoros nunca resultaram em medidas concretas. Sendo a Itália membro da NATO então é obrigada, a este título, a ser inimiga da Rússia.
“Considero importante confrontar-nos com um parceiro estratégico como a Federação Russa, necessário para determinar as soluções para as principais crises regionais”: foi o que disse o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, na conferência de imprensa conjunta no fim da reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, no dia 24 de Outubro em Moscovo. Uma questão fundamental a resolver, acrescentou, é “a crise na Ucrânia, que conduziu à discussão dos fundamentos das relações entre a União Europeia e a Rússia”. Mas, “apesar de se manterem as razões que conduziram às sanções europeias, instrumento que deve ser ultrapassado o mais depressa possível”, o estado das relações bilaterais entre a Itália e a Rússia é “excelente”.
Declarações estas que lembram as do primeiro ministro-italiano Matteo Renzi durante uma mesa redonda com o presidente Putin, em S. Petersburgo, no ano de 2016: “a expressão Guerra Fria saiu da história e da realidade. A União Europeia e a Rússia devem ser excelentes vizinhos”. Declarações que são diplomaticamente retomadas e amplificadas por Moscovo, na tentativa de distender tensões: “Conte em Moscovo, a aliança com a Rússia está cada vez mais forte”, titulou, em 25 de Outubro, a agência russa Sputnik, falando de “visita a 360 graus”. Na realidade foi uma visita a 180 graus, porque Conte (como Renzi em 2016) apresentou-se como chefe de um governo de um país da União Europeia, terminando a visita com acordos económicos com a Rússia. O primeiro-ministro omitiu o facto de a Itália ser membro da NATO sob comando dos Estados Unidos, país que o governo Conte considera “um aliado privilegiado”, com o qual estabeleceu “uma cooperação estratégica, quase uma geminação”.
O "aliado privilegiado"
À mesa Itália-Rússia sentou-se, pois, como convidado de pedra, o “aliado privilegiado” na esteira do qual se colocou a Itália. Deste modo, passou em silêncio o facto de em 25 de Outubro – dia seguinte àquele em que, em Moscovo, o primeiro-ministro Conte qualificou como “excelente” o estado das relações bilaterais entre a Itália e a Rússia – as forças armadas italianas terem iniciado, sob comando dos Estados Unidos e com outros países da NATO, os exercícios de guerra Trident Junction 2018, dirigidos contra a Rússia. Exercícios nos quais os comandos e as bases dos Estados Unidos e da NATO em Itália desempenharam um papel de principal importância. Passou também em silêncio o facto de em 25 de Outubro – dia seguinte àquele em que, em Moscovo, o primeiro-ministro Conte qualificou a Rússia como “um parceiro estratégico” – o seu governo participar em Bruxelas no Conselho do Atlântico Norte, durante o qual a Rússia foi acusada por unanimidade, com base em “informações” fornecidas pelos Estados Unidos, de violar o Tratado INF (eliminação dos mísseis nucleares de curto e médio alcance) com “um comportamento desestabilizador para a nossa segurança”.
O governo Conte apoiou assim, de facto, os planos norte-americanos para sair do Tratado INF e instalar de novo na Europa, incluindo Itália, mísseis nucleares de médio alcance apontados à Rússia. Estes irão juntar-se às novas bombas nucleares B61-12 que os Estados Unidos começarão a colocar, a partir de Março de 2020, em Itália, na Alemanha, na Bélgica, na Holanda e provavelmente em outros países europeus, com objectivos anti-Rússia.
Na conferência de imprensa, respondendo a um jornalista, Putin clarificou sem margem para dúvidas: os países europeus que aceitarem instalar mísseis nucleares norte-americanos de médio alcance no próprio território deixarão a sua segurança em perigo, porque a Rússia estará apta a responder. Conte assegurou que “a Itália encara este conflito com preocupação e fará todos os possíveis para que uma janela de diálogo permaneça aberta”.
Uma coisa que ele está prestes a fazer preparando-se para acolher e utilizar, sob comando dos Estados Unidos, as novas bombas nucleares B61-12 com capacidade penetrante para destruir os bunkers dos centros russos de comando.