CUMPLICIDADES COM O TERRORISMO : “ C’EST LA VIE !...”

2018-10-25
Castro Gomez, Moscovo
A França foi, juntamente com o Reino Unido, um dos países que mais se envolveu na guerra pela destruição da Líbia e na qual recorreu, no âmbito da NATO, a grupos terroristas “islâmicos”, designadamente a al-Qaida e outros que depois se associaram no Daesh. Quando confrontados com o antagonismo entre esta realidade e a chamada “guerra contra o terrorismo”, há dirigentes da União Europeia que se limitam a dizer “c’est la vie!” – Coisas da vida!
O episódio é contado pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, e passou-se com o seu homólogo de então no governo francês de François Hollande, Laurent Fabius, por sinal o mais poderoso agente do lobby sionista no executivo de Paris.
Fabius contactou telefonicamente o ministro russo para lhe pedir que Moscovo apoiasse no Conselho de Segurança da ONU, ou pelo menos não vetasse, a chamada “Operação Serval” da França e outros países da NATO contra “grupos terroristas” no Mali. Uma intervenção que veio solidificar a presença permanente dos exércitos atlantistas na região.
“Laurent Fabius pediu-me que não nos opuséssemos ao envio do seu contingente para o Mali com o objectivo de combater essa ameaça terrorista”, explicou Lavrov em entrevista ao Russia Today. “Mas como é preciso ter alguma consciência, disse-lhe que então iria reprimir as actividades de grupos que tinha armado na Líbia. Ele riu-se e respondeu-me ‘c’est la vie’”, rematou o ministro russo.
Ainda hoje há quem continue a não acreditar na cumplicidade real entre países da União Europeia e da NATO e os mercenários ditos “islâmicos” contratados para executar operações e guerras terroristas. A comunicação social mainstream recusa-se a reconhecer essa realidade e insiste em validar os argumentos que estão por detrás da “guerra contra o terrorismo.
No entanto, não foi a primeira vez que Laurent Fabius reconheceu a utilização de grupos terroristas, como a al-Qaida, em objectivos delineados pelos governos de Washington, Paris ou Londres. Em 2012, durante uma cimeira do “Grupo dos Amigos da Síria” realizada em Marrocos, Fabius rejeitou as propostas no sentido de retirar o grupo fundado por bin Laden da lista das organizações a apoiar na guerra de agressão contra o território sírio. “Eles estão a fazer um bom trabalho”, reconheceu o ministro francês dos Negócios Estrangeiros.
No entanto, o governo de Hollande e, sobretudo, o povo francês sofreram as consequências de sangrentos atentados terroristas atribuídos a organizações do “fundamentalismo islâmico” que são usadas pela NATO em guerras como as da Líbia, da Síria e no próprio Iémen. Atentados esses cujas circunstâncias em que aconteceram continuam envoltas em mistérios e de que se ignoram os resultados das investigações enfaticamente prometidas.
“Coisas da vida”, limita-se a comentar um chefe da diplomacia de uma grande potência mundial perante factos que sacrificam dezenas de milhares de vidas humanas, geram milhões de desalojados e ondas de refugiados a que se fecham as portas, condenando muitos deles à morte. Crimes cometidos em nome da paz, da democracia e da defesa dos direitos humanos.