O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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A EXCEPÇÃO QUE COMEÇA A FAZER-SE REGRA

2020-04-17

“A resposta às necessidades do momento, em última análise, deve ser associada a uma visão e a um programa globais de colaboração”, escreveu Henry Kissinger no Wall Street Journal em plena pandemia de COVID-19. O expoente terrorista que é a referência de todos os esforços globalistas ditou esta sentença num contexto de reforço dos estados de excepção através do planeta, os quais, de acordo com o experiente Edward Snowden, continuarão a ter efeitos quando o novo coronavírus não passar de uma má memória. Um tema para reflectir, uma realidade que nos envolve, uma tendência generalizada – e banalizada – que impõe vigilância incansável

Kurt Nimmo, Global Research/O Lado Oculto

Para o Estado há um imperativo primário: manter o seu poder a todo o custo. Para alcançar esse objectivo trata de impor, através de legislação ou furtivamente, um sistema capaz de monitorizar as actividades dos indivíduos que, supostamente, possam representar uma ameaça imediata ou futura.

A crise do COVID-19, seja provocada deliberadamente ou por um acto da natureza, proporciona ao Estado um pretexto quase indiscutível para a imposição de uma maior vigilância da população em geral.

A “guerra contra o terrorismo”, amplamente fabricada depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, gerou o necessário clima de medo e suspeita para possibilitar a adopção e aplicação da Lei Patriota, uma lista de desejos de vigilância doméstica carregada de poderes de investigação há muito procurados pelo FBI; uma agência vocacionada para servir como força policial política, como foi tornado público durante os anos setenta do século passado.

Muito do que sabemos hoje sobre vigilância tecnológica desenvolvida à sombra do 11 de Setembro foi dado a conhecer por Edward Snowden, ex-funcionário da CIA e da Agência de Segurança Nacional (NSA) que expôs vários programas globais de vigilância, incluindo o PRISM e o XKeycore, o primeiro em parceria com Microsoft, Apple e Google.

O papel dos gigantes tecnológicos

“A história da criação deliberada do moderno Estado de vigilância inclui elementos do Google com origem surpreendente e desconhecida”, escreve Jeff Nesbit para a publicação Quartz.

Os “ramos de investigação” da NSA e da CIA financiaram diversas instituições, incluindo o Google, como parte de um esforço para perseguir e rastrear indivíduos na internet. O financiamento foi parcialmente concedido através da Fundação Nacional da Ciência e da Agência de Projectos de Pesquisa Avançada em Defesa (DARPA), que também se ocupa dos projectos de guerra biológica dos Estados Unidos.

Pessoas e grupos com ideias que possam representar “ameaças à segurança nacional” dos Estados Unidos podem ser identificados online de maneira exaustiva e antes que “provoquem danos”. Isto explica por que razão a comunidade de espionagem considerou tão atraentes os trabalhos de pesquisa dos fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page. Antes desse período a CIA recorria aos esforços de espionagem humana no terreno para identificar grupos e pessoas que poderiam representar “ameaças”. A capacidade para rastrear indivíduos virtualmente – em conjunto com os esforços no terreno – veio mudar tudo.

Durante o desenvolvimento do motor de busca do Google, Brin assinou um contrato com a empresa militar MITRE Corp, que “dirige os trabalhos de investigação e desenvolvimento da NSA, CIA, do Laboratório de Investigação da Força Aérea dos Estados Unidos e dos sistemas de guerra espacial e naval da Marinha norte-americana”, de acordo com o jornalista Kit Klarenberg. 

O advento das redes sociais fez intensificar as actividades para traçar perfis, perseguir e rastrear indivíduos. “Ninguém precisa de ser adivinho para ter a certeza de que a CIA usa o Facebook, o Twitter, Google e outras redes sociais para espiar as pessoas”, informou a insuspeita CBS há quase uma década.

O pretexto do coronavírus

O coronavírus veio fornecer um pretexto adicional para estender o alcance já profundo do Estado de vigilância e dos seus parceiros corporativos. O Estado de segurança nacional transitou da sobredimensionada ameaça de terroristas islâmicos em cavernas para um patógeno invisível que os media corporativos, na sua missão de propaganda, exploram para amedrontar um público mal informado – e assim se abriu caminho para novas e mais intrusivas acções de vigilância.

Google e Apple uniram-se para criar um sistema que acompanha e rastreia indivíduos supostamente expostos ao coronavírus. “A tecnologia baseia-se nos sinais de Bluetooth que os smartphones podem enviar e receber”, revela a NPR.

Se uma pessoa tiver um resultado positivo num teste de COVID-19 deve notificar as autoridades de saúde pública através de uma aplicação. Estas aplicações detectam então qualquer pessoa cujo smartphone tenha estado nas imediações do telemóvel da pessoa infectada nos 14 dias anteriores. As empresas asseguram que irão preservar a privacidade dos titulares dos smartphones – um processo que sabe-se como começa mas ignora-se até onde e a que mãos irá parar.

Recorda-se que a Google não merece confiança quanto ao respeito pela privacidade das pessoas. Em Setembro, a empresa foi condenada a pagar uma multa de 170 milhões de dólares depois de ter ficado provado que recolheu informações pessoais, de forma ilegal, de crianças na sua plataforma do Youtube. Antes disso, o gigante tecnológico de Silicon Valley já tinha sido apanhado a partilhar informações pessoais dos seus usuários sem ter obtido consentimento para tal. Em 2014, o Google foi multado em 22,5 milhões de dólares pelo desenvolvimento de uma solução alternativa que permite espiar o histórico de navegação de clientes móveis.

Como Snowden revelou recentemente, logo que seja dada como ultrapassada a crise do novo coronavírus os dados recolhidos continuarão a estar disponíveis para o governo, que não deixará de “usar novas causas, como ameaças terroristas, para justificar a recolha e análise continuadas dos dados das pessoas.”

Saúde e “segurança nacional”

A expansão da rede de vigilância do Estado sob o pretexto de proteger o povo norte-americano de um predador invisível é comandada pelo genro do presidente Trump, Jarred Kushner, que se destaca também pelo seu fundamentalismo sionista e pela interacção entre a Casa Branca e o governo de Israel.

“A rede nacional proposta pode determinar que áreas do país estão em condições de abrandar a segurança das regras de distanciamento social e as que devem permanecer vigilantes. Mas também representaria uma expansão significativa do uso pelo governo dos dados individuais dos pacientes, determinando novos acertos sobre os limites da privacidade no meio de uma crise nacional”, sublinha a publicação Politico.

As leis da privacidade em casos de saúde já prevêem amplas excepções para fins de segurança nacional. Mas a perspectiva de montar um banco nacional de dados com informações de saúde potencialmente sensíveis suscita preocupações sobre o impacto nas liberdades civis que se manterá muito depois de passada a ameaça do coronavírus; alguns críticos comparam a situação à criada pela Lei Patriota promulgada no seguimento dos atentados de 11 de Setembro.

O Estado está, seguramente, muito menos preocupado com a saúde dos norte-americanos do que em poder controlá-los, especialmente quando se trata de activistas políticos que não estejam inseridos nos parâmetros predefinidos estabelecidos pelo próprio Estado e a classe política que o dirige.

A melhor maneira de impor um sistema de vigilância total é a que faz com que as pessoas se submetam voluntariamente e de braços abertos, não sob coacção ou força. Henry Kissinger, que certamente sabe do que fala, declarou que após os distúrbios de Los Angeles as pessoas iriam voltar-se para o Estado pedindo-lhe protecção.

“A única coisa de que o homem tem medo é do desconhecido. Quando são colocadas perante esse cenário as pessoas renunciam de bom grado aos direitos individuais, trocando-os pela garantia do seu bem-estar que é assegurada pelo governo mundial”, declarou este notório agente dos Rockefeller durante a reunião anual do Grupo de Bilderberg em Evian, França, em 1992.

Não surpreende, portanto, que Kissinger tenha recorrido à ameaça exagerada que percorreu os media corporativos sobre um vírus sazonal capaz de matar milhões de pessoas insistindo na tese da necessidade de um governo mundial. “A resposta às necessidades do momento, em última análise, deve ser associada a uma visão e a um programa globais de colaboração”, escreveu Henry Kissinger no Wall Street Journal.

Esta “visão globalista” de um governo mundial será sempre dificultada enquanto houver adversários políticos alertando para questões como a defesa das liberdades e a inevitabilidade totalitária inerente à estrutura responsável por uma governação mundial. Caso seja permitida a sua concretização isso será a negação dos nossos direitos políticos e também dos nossos próprios direitos naturais.


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