O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

O Lado Oculto é uma publicação livre e independente. As opiniões manifestadas pelos colaboradores não vinculam os membros do Colectivo Redactorial, entidade que define a linha informativa.

Assinar

MH-17: A GRANDE MENTIRA CONTINUA VIVA

2020-03-13

Na Holanda decorre um julgamento espectáculo pretensamente associado à tragédia do avião da Malaysia Airlines que fazia o voo MH-17 em 17 de Julho de 2014. Na verdade, não é de justiça que tratam os participantes no show, mas sim de tentar validar para a história uma mentira que ultraja a memória de todos os que perderam a vida naquele dia. Os actores participam, afinal, numa grande encenação de viciação geopolítica.

James O’Neill, New Eastern Outlook/O Lado Oculto

Em 17 de Julho de 2014 um voo da Malaysian Airlines em rota de Amsterdão para Kuala Lumpur foi abatido sobre território ucraniano, morrendo todos os passageiros e ocupantes. A maioria eram cidadãos holandeses, embora outras nacionalidades estivessem representadas de maneira significativa, designadamente cidadãos e residentes na Austrália.

O território ucraniano sobre o qual aconteceu a tragédia é palco de um confronto imposto pelas forças do governo de Kiev contra os habitantes da região, na sua maioria russófonos. As tropas ucranianas seguem e seguiam já na altura as instruções de um governo que tomou o poder no início desse ano de 2014 em golpe apoiado pelos Estados Unidos e a União Europeia.

Um grupo de vários países iniciou investigações sobre o acontecimento. Indícios precoces de que o trabalho seria provavelmente menos objectivo que o desejado foram revelados pela constituição do grupo: Holanda, Austrália, Bélgica e Ucrânia.

Como países que sofreram as maiores baixas, a presença da Holanda e da Austrália era compreensível. Não existia razão óbvia para incluir a Bélgica, embora a posição do país como sede da NATO e da União Europeia possa fornecer alguma pista. A inclusão da Ucrânia representou também um quebra-cabeças. Segundo os factos então conhecidos, ou pelo menos que eram dados como conhecidos, a Ucrânia era um dos principais suspeitos do derrube do avião. A exclusão da Malásia, proprietária e operadora do avião, além de ser um país que também perdeu cidadãos, era absolutamente inexplicável na época. A Malásia recusou-se a fazer parte de um estranho acordo entre as outras quatro nações, o qual dava autêntico poder de veto à parte ucraniana para travar qualquer conclusão que lhe fosse adversa.

Culpados de nascença

Contra os princípios básicos de uma investigação, o quarteto de países responsabilizou imediatamente a Rússia, alegando então que um míssil russo fora disparado contra o avião causando a sua destruição e a morte de todos os ocupantes. Desde então nunca foi apresentado qualquer argumento remotamente plausível que suportasse um possível motivo para a Rússia derrubar um avião civil de um país amigo.

Passados mais de cinco anos e meio sobre a tragédia, a acusação original não mudou. No entanto, foi publicada documentação que lança uma assinalável luz sobre o que realmente aconteceu. O relatório segue as revelações anteriores feitas pela Malásia com base nos conteúdos das caixas negras do avião, obtidas por uma equipa malaia enviada ao local com a ajuda de forças da região que lutam contra a opressão de Kiev.

Se esta delegação malaia não tivesse sido bem-sucedida na diligência teria sido muito mais difícil ficar perto da verdade. Muita informação foi igualmente disponibilizada graças aos esforços de um grupo independente holandês. E nenhuma dessas perspectivas de investigação deixa o quarteto original de países muito bem visto.

Um extenso estudo elaborado por um grupo holandês independente, dirigido pelo jornalista de investigação Max van der Werff, revela dados significativos sobre a condução da investigação do quarteto, as provas que foram apresentadas e as suprimidas pelos investigadores originais, as alegações repetidas acriticamente pela comunicação social corporativa e as conclusões manifestamente falsas entretanto divulgadas.

O facto de este relatório, com as suas revelações devastadoras, não ser divulgado pela comunicação social ocidental e dominante confirma que o objectivo da investigação original não foi o de procurar a verdade mas sim culpar a Rússia.

Não houve mísseis

Recorda-se que as alegações contra a Rússia assentam na suposta presença de um sistema de mísseis russo no local do derrube e na data em que aconteceu. A versão foi promovida por um notório porta-voz dos serviços de segurança do Reino Unido e do Conselho do Atlântico que se publica sob a designação de Bellingcat.

Foi este website o grande promotor da explicação dos acontecimentos com base no suposto facto de uma plataforma de mísseis russos ter atravessado a fronteira com a Ucrânia para fazer disparos com a intenção de derrubar o avião, matar os passageiros e depois regressar à base.

Bellingcat publicou algumas fotografias de um sistema de mísseis russos e a grande comunicação social corporativa usou-as para montar a história de modo a incriminar a Rússia; fê-lo sem o mínimo cuidado de verificar os factos, seja com pessoas que tenham testemunhado os supostos movimentos de tais armas, seja através de registos militares comprovativos. Pelo contrário, os investigadores holandeses independentes procederam a entrevistas com testemunhas oculares locais.

Os depoimentos registados salientam o facto de terem sido vistos caças ucranianos operando nos céus no momento da tragédia. As afirmações contradizem directamente a posição do governo ucraniano segundo a qual nenhum dos seus aviões de combate esteve operacional naquele dia. Uma mentira tão óbvia e que pode ser facilmente refutada levanta interrogações sobre o que mais a parte ucraniana poderá estar deturpando.

Como seria de esperar, os Serviços de Inteligência Militar da Holanda fizeram também as suas investigações sobre os acontecimentos. Os resultados deram origem a um relatório que chegou à equipa de investigação de van der Werff através de uma fuga de informação. Os dados mostram claramente que, na altura em que tudo aconteceu a trajectória do voo MH 17 estava fora do alcance operacional dos sistemas de mísseis ucraniano e russo.

O relatório da equipa de investigação militar holandesa (MIVD) citado por van der Werff confirma que não havia mísseis russos BUK ou sistemas de radar na Ucrânia em 17 de Julho de 2014 ou por volta dessa data. O relatório dos serviços de inteligência confirmou ainda que não foi detectado o disparo de qualquer míssil BUK naquele dia. Também não foi disparado qualquer engenho do lado russo da fronteira.

Esta informação é consistente com os dados obtidos por dois investigadores australianos, Shaun Ellis e Timothy Johns, que realizaram uma investigação sob o nome de código “Operação Arkanella”. Nenhum dos resultados por eles apurados, que contradizem abertamente as versões sobre a responsabilidade russa, foi jamais publicado pela comunicação social dominante. O que levanta a questão de saber as razões pelas quais a mentira da cumplicidade russa na tragédia foi levantada e mantida desde então quando é claramente contrariada pelas provas apuradas pelas investigações independentes holandesa e australiana.

Os sistemas de mísseis russos conhecidos estavam próximos de importantes centros populacionais. Não existe qualquer relato de um míssil de qualquer espécie ter sido disparado no dia dos acontecimentos. Esta conclusão consta claramente do relatório oficial do Serviço Militar de Inteligência e Segurança da Holanda. O documento afirma: “torna-se evidente que o voo MH-17 seguia fora do alcance de todos os locais identificados e operacionais onde os sistemas 9k371Buk M1 foram implantados. Mais uma vez se coloca a pergunta óbvia: como se conciliam essas informações com o ataque de propaganda contra a Rússia que existe desde essa época?

O relatório foi publicado em 21 de Setembro de 2016, ou seja, há mais de três anos. Nem uma palavra do seu conteúdo foi reproduzida em meios de comunicação ocidentais, que persistem na sua versão de “culpar a Rússia” apesar de não terem provas verificáveis e, muito menos, bases para sustentá-la.

Caças ucranianos

No caso de se excluir um míssil como causa do derrube de aparelho que fazia o voo MH-17, como hipóteses ficam apenas a de acidente (que pode ser liminarmente excluída) ou a da intervenção de aviões de combate. Mesmo a parte ucraniana e os seus aliados ocidentais jamais admitiram que um caça russo estivesse envolvido. 

Por outro lado, o governo ucraniano afirmou desde sempre que nenhum dos seus aviões militares estava operacional naquele momento. A versão é contestada há muito por civis que vivem na área e testemunharam repetidamente sobre a actividade de caças ucranianos na zona.

A área do derrube era uma zona de guerra activa. Sabe-se que satélites dos Estados Unidos e da Rússia estavam em órbita geoestacionária sobre a região no momento fatal. Este facto levanta a interrogação óbvia de saber por que razão os seus dados não foram libertados. Pode entender-se a relutância dos Estados Unidos porque os dados revelariam a cumplicidade dos seus aliados ucranianos na tragédia. Menos claras são as razões pelas quais as autoridades russas não revelaram os dados, que estão a seu favor.

O que os dados dos satélites demonstrariam seria exactamente o que foi apurado por investigadores holandeses e australianos. Isto é, que o MH-17 foi abatido por caças ucranianos.

O relatório de van der Werff inclui a transcrição de uma entrevista com uma dessas testemunhas, um brigadeiro da polícia holandesa. O testemunho revela elementos pormenorizados das actividades dos caças ucranianos na hora crítica do dia da tragédia. O depoimento refuta, mais uma vez, as alegações ucranianas.

Quando se juntam os factos conhecidos revelados nos documentos holandeses e originárias de outras fontes há conclusões indubitáveis que podem ser extraídas. A mais óbvia diz que o avião da Malásia que fazia o voo MH 17 foi abatido por um caça ucraniano. Este único facto, a partir do qual muito mais pode apurar-se, nunca foi admitido pela comunicação social corporativa – apesar de ser uma conclusão que há mais de três anos não suscita dúvidas aos investigadores holandeses independentes.

É óbvio que a supressão da verdade é um factor determinante na campanha contra a Rússia montada pela Holanda, a Austrália e a Ucrânia. Que as mentiras, a desinformação e as sonegações de informação sejam assumidas pela comunicação social dominante é significativo sobre o estado de degradação em que esta se afundou.

*Advogado australiano


fechar
goto top