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MANOBRA DE GUERRA DERROTADA NA ONU

À medida que foram sendo derrotados, os terroristas envolvidos na guerra contra a Síria deixaram verdadeiros arsenais de armas fornecidas por países da NATO e seus seguidores

2019-12-22

Edward Barnes, Damasco; Exclusivo O Lado Oculto

A Rússia e a China vetaram uma proposta de resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que pretendia estabelecer mecanismos ditos de “ajuda humanitária transfronteiriça” para o interior da Síria. A comunicação mainstream aproveitou a situação para desencadear nova campanha de propaganda de guerra contra Damasco, Moscovo e Pequim. No entanto, se fosse de facto a “ajuda humanitária” que estivesse em causa neste processo aos proponentes bastar-lhes-ia fazê-la passar por Damasco, como estabelecem as normas internacionais. Não quiseram.

A proposta foi apresentada pela Alemanha, uma potência que tem desenvolvido esforços intensos para ganhar influência política, militar e diplomática no Médio Oriente – mas sempre em espaços bastante ocupados por Estados Unidos, França e Reino Unido. Os outros dois proponentes, Bélgica e Koweit, serviram para dar uma imagem mais transnacional à iniciativa de Berlim.

A proposta defendia, em linguagem cândida, a criação de mecanismos de “ajuda humanitária transfronteiriça” ao “povo sírio”. A “ajuda humanitária” tem sido um pretexto para as potências ocidentais apoiantes dos grupos terroristas infiltrados na Síria, “moderados” ou não, tentarem fazer sobreviver militarmente as zonas onde a chamada “resistência” permanece instalada. Desde o início da guerra contra a Síria, em 2011, o termo “ajuda humanitária” tem sido usado para encobrir o apoio a zonas territoriais controladas por grupos armados, inclusivamente através do abastecimento de armas. Ficou provado que mesmo alguns “comboios humanitários” organizados pela ONU serviram para abastecer os terroristas com armamento. Nada neste processo agora tentado no Conselho de Segurança indicava que a intenção pudesse ser diferente.

Reacender a guerra

Os proponentes da resolução pretendiam, como se deduz pelo comportamento neste processo, encaminhar a sua “ajuda” para zonas entre as únicas que não estão sob o controlo de Damasco: a província de Idleb, as áreas do nordeste onde ainda pontificam as milícias curdas e as partes setentrionais que terroristas sustentados pela Turquia passaram a controlar durante a recente invasão.

Se os autores da proposta pretendessem, de facto, ajudar o povo sírio a recuperar da agressão externa de que foi vítima, poderiam encaminhar a “ajuda humanitária” pela via directa, legal, mais eficaz e soberana – o governo de Damasco – como estabelece a Carta das Nações Unidas.

A China e a Rússia defenderam esta opção, primeiro durante as negociações do texto da proposta e, depois, numa contraproposta que se seguiu à derrota da proposta alemã. Esta contraproposta, porém, foi rejeitada pelos países alinhados com os Estados Unidos e as outras potências da NATO na guerra contra a Síria.

Por exclusão de partes, e pela atitude adoptada pelos países da NATO e seus seguidores no Conselho de Segurança, ficou claro que a “ajuda humanitária” pretendida se destinava apenas a zonas que não estão ainda sob controlo do governo de Damasco, isto é, visava evitar o fim da guerra e mesmo reacendê-la.

Além disso, os países autores da proposta derrotada e que rejeitaram a ajuda humanitária encaminhada pelas vias reconhecidas no direito internacional estão entre os que mantêm um embargo ao envio de produtos de primeira necessidade destinados ao povo sírio.

A iniciativa de origem alemã derrotada no Conselho de Segurança da ONU era, por isso, tudo menos cândida e inocente.


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