CAPACETES BRANCOS: FIM DO MITO DO TERRORISMO “HUMANITÁRIO”

2019-09-03
Jean Périer*, New Eastern Outlook/O Lado Oculto
Os patrocinadores ocidentais dos terroristas actuando na Síria designados White Helmets (Capacetes Brancos), e que se afirmam como “grupo humanitário”, começam a acordar para o facto de o seu amor pelos mercenários ser mais prejudicial do que benéfico – o que lhes levanta agora vários problemas.
Os Capacetes Brancos foram lançados no âmbito de uma operação internacional de propaganda de guerra montada por Washington e Londres para alimentar a comunidade mediática internacional com vídeos falsos que simulam ataques químicos com bandeira falsa, na circunstância atribuídos ao governo sírio. O primeiro caso em que a situação foi demonstrada aconteceu em Ghuta Oriental, quando estava em curso a libertação dessa área da região de Damasco pelo exército nacional sírio.
Acontece que, após anos vários anos de utilização pelos seus patrocinadores, os Capacetes Brancos – que chegaram a conhecer as glórias hollywoodescas - começaram a sentir, no ano passado, as suas primeiras dificuldades quando cessou o apoio norte-americano. As actividades do grupo, que age sob o enquadramento operacional de organizações filiadas na al-Qaida, têm sido bastante benéficas para os Estados Unidos e outras potências da NATO, sobretudo quando forneceram a Washington o “pretexto” para lançar mais de uma centena de mísseis de cruzeiro contra a Síria, em 7 de Abril de 2017. À medida que o método de actuação dos Capacetes Brancos começou a ser desmontado por meios de comunicação que não alinham com o diktat do mainstream e aprofundam os factos, os Estados Unidos começaram a tirar o tapete aos mercenários, fiéis à sua prática de abandonar os colaboradores quando estes deixam de ser úteis ou são desmascarados.
É verdade que Donald Trump ainda chegou a mudar de ideias, dando o dito por não dito e ordenando ao Departamento de Estado que concedesse, no Verão de 2018, mais 6,6 milhões de dólares aos Capacetes Brancos. Porém, passados mais uns meses verifica-se que, em boa verdade, já poucas pessoas têm dúvidas quanto ao carácter provocatório e falso das imagens e relatórios postos a circular pela organização.
Do apogeu à queda
A conhecida jornalista britânica Vanessa Beeley já expôs, sem margem para dúvidas, as ligações das agências de espionagem britânicas com os Capacetes Brancos e, através destes, com o grupo Jabhat al-Nusra, um dos heterónimos da al-Qaida. Segundo as investigações de Beeley, o ramo dos Capacetes Brancos na região leste de Alepo foi criado por Abdulaziz Maghribi, que também chefiava um bando armado local filiado na al-Nusra. Além disso, este indivíduo foi igualmente mercenário ao serviço da brigada al-Tawhid, um dos destacamentos que invadiu Alepo Oriental em 2012, sob enquadramento da Turquia.
O descrédito crescente dos Capacetes Brancos e a correspondente consciencialização da opinião pública ocidental sobre o carácter provocatório e falso do grupo começam a torná-lo inútil em qualquer montagem anti-russa e anti-Síria. No último ano têm sido desmontadas antecipadamente, por vários meios de comunicação, diversas tentativas para organizar falsos ataques químicos, sobretudo associados à região de Idleb, o que levou os mercenários a desistir das operações. Washington acabou por suspender o apoio em definitivo, o que provocou a transformação do grupo num veículo de propaganda local puramente britânico. Trata-se de uma espécie de regresso às origens, porque o bando foi fundado em 2013 por um oficial britânico na reserva, James Le Mesure, associado aos serviços de inteligência de Londres através da organização não-governamental Mayday Rescue Foundation. Está agora claro que Washington pretende encontrar outros parceiros que sejam mais fiáveis em termos de propaganda para continuar a aplicar a sua agenda contra a Síria.
Agora ninguém os acolhe
À medida que o número de cidades sírias sob controlo de grupos jihadistas pró-ocidentais continua a diminuir, as agências de inteligência da Jordânia, sob orientação do Mossad israelita, lançaram uma operação de resgate de efectivos dos Capacetes Brancos. No primeiro movimento, em 22 de Julho de 2018, foram retirados 98 mercenários do “grupo humanitário” do sul da Síria para a Jordânia, juntamente com as famílias. Ao todo, durante o processo terão sido retiradas entre 400 e 800 pessoas, que ficaram inicialmente alojadas na base aérea jordana de Muwaffaq Salti. Países ocidentais seria o seu destino final.
Segundo os organizadores da operação, bastariam três a quatro semanas para os realojar, designadamente no Reino Unido, França, Canadá e Alemanha, nações essas que ficariam “encantadas” por proporcionar um novo lar àquelas “almas corajosas”. Entretanto passou mais de um ano e, segundo a agência Reuters, dos cerca de 800 Capacetes Brancos resgatados da Síria apenas 300 foram realojados.
O processo chegou agora a uma fase crítica. Segundo órgãos de informação do Canadá, muitos dos retirados da Síria continuam na Jordânia, incluindo os 42 que deveriam ser alojados em território canadiano.
Após uma verificação inicial de segurança, incluindo uma “entrevista” realizada na própria base militar jordana, o governo canadiano terá concluído que não tinha qualquer intenção de receber os tão elogiados “defensores dos direitos humanos”, tentando agora encontrar pretextos para os enviar para outro lugar.
A situação tornou-se ainda mais peculiar porque o governo jordano deu apenas autorização de passagem aos mercenários, mas não disse uma única palavra quanto à possibilidade de lhes proporcionar alojamento permanente.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que se identifica cada vez mais com o comportamento de Donald Trump, tenta agora que a Ucrânia dominada por nazis esteja disposta a receber este “activistas dos direitos humanos”. O negócio parece bem encaminhado depois da recepção calorosa que o novo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, teve em Otava. Ao que tudo leva a crer, os Capacetes Brancos destinados ao Canadá poderão fazer agulha para Kiev no caso de o governo canadiano manter a promessa de entregar os seus veículos blindados obsoletos às forças militares ucranianas, entre as quais pontificam brigadas nazis.
Quanto ao Canadá propriamente dito, apesar de ter uma legislação de imigração menos restritiva que alguns parceiros europeus e os vizinhos norte-americanos, não mostra qualquer pressa em acolher os Capacetes Brancos retidos na Jordânia. Aliás, o governo de Otava continua relutante em conceder autorização de entrada a cidadãos canadianos - e respectivas famílias - que combatiam o legítimo governo sírio integrados nas fileiras do Isis ou Estado Islâmico. O grupo é constituído por 32 pessoas – seis homens, nove mulheres e 17 crianças. De acordo com informações fornecidas à comunicação social, os serviços de inteligência do Canadá estão a recolher informações susceptíveis de identificar o papel que os terroristas podem ter desempenhado na autoria de vários crimes de guerra.
A verdadeira causa destas restrições, segundo analistas canadianos, é a circunstância de o governo de Otava ter, de facto, interrompido a admissão de mercenários islâmicos oriundos da guerra da Síria devido problemas de integração na sociedade do país.
Justin Trudeau, afinal, apenas prestou atenção aos mercenários empenhados em desmantelar a Síria enquanto eles lhe foram benéficos durante os primeiros anos do seu governo, altura em que marcou alguns pontos políticos usando-os em campanhas de propaganda.
É hoje evidente que os governos ocidentais não têm estômago para hospedar indivíduos que elogiaram como heróis enquanto foram úteis para fazer vingar sentimentos xenófobos e expandir o pânico sobre a possibilidade de ataques terroristas. Além disso, os Capacetes Brancos já desempenharam o seu papel como instrumentos úteis a uma campanha de propaganda de guerra e agora deixaram de ser necessários.
*Investigador e analista independente e renomado especialista em Médio Oriente.