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PARLAMENTO EUROPEU NO LOBBY SAUDITA

Sem palavras

2019-02-18

Pilar Camacho, Bruxelas

Durante toda a semana em curso, um grupo de dezena de meia de embaixadores e altos funcionários do governo da Arábia Saudita desdobram-se em contactos e reuniões em instituições europeias na Bélgica, incluindo o Parlamento Europeu, numa operação de lobbying financiada por Riade.

A operação, só possível devido à aceitação manifestada por instituições, representantes da União e estabelecimentos bem relacionados com instâncias europeias, tem como objectivo realçar a importância da cooperação estratégica entre a União Europeia e a Arábia Saudita numa altura em que a ditadura de Riade continua plenamente envolvido na agressão militar contra o Iémen.
Parte das reuniões realizam-se em Bruges, no College of Europe, um instituto de pós-graduação estabelecido com fundos da União Europeia, que foi financiado pelo governo saudita para o efeito. Entre os seus alunos o estabelecimento tem políticos, ex-primeiros-ministros e altos funcionários da União Europeia.
Mensagens de e-mail recebidas por deputados europeus revelam que o College of Europe tem um papel de organizador da visita de sete embaixadores sauditas em países europeus e sete altos funcionários governamentais a instituições europeias, entre elas ao Parlamento Europeu, esta marcada para terça-feira, dia 19. Os diplomatas incluídos na delegação visitante são os embaixadores da Arábia Saudita na Áustria, Bulgária, Croácia, Roménia, Hungria, Bulgária, Polónia e República Checa.
O College of Europe albergará reuniões entre os representantes do regime saudita e antigos alunos que agora desempenham funções nas instituições europeias, e também com deputados europeus que aceitaram os convites endereçados.

Violação da transparência

As normas de transparência do exercício de lobbying na União Europeia determinam que as instituições académicas que tenham contactos com as instâncias europeias e intervenham nas políticas ou actividades da União devem estar registadas para o efeito. O College of Europe, contudo, não se inscreveu nessa lista de transparência.
Os assuntos de âmbito apenas académico são excepção a essas regras, mas o caso não se aplica a esta operação saudita, uma vez que os contactos são estabelecidos, segundo as mensagens de e-mail “para discutir assuntos actuais nas relações entre a União Europeia e o governo saudita”.
Acresce que a Arábia Saudita contratou oficialmente uma empresa de consultadoria, a MSL Brussels, para se encarregar do lobby do governo de Riade junto das instituições europeias, assunto que gerou alguma polémica quando se tornou conhecido. O principal objectivo do tratamento da imagem da ditadura, em que se insere esta operação para a qual foram igualmente contratados os serviços do College of Europe, é revigorar o prestígio do príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, devido às circunstâncias do assassínio do jornalista-espião Jamal Khashoggi, e neutralizar a impressão negativa suscitada pela guerra de agressão contra o Iémen e a sua população civil. Neste contexto, a acção pretende divulgar o regime da Arábia Saudita como um aliado fundamental do Ocidente.
A missão saudita em Bruxelas junto da União Europeia tem evitado responder às perguntas que lhe são dirigidas pretendendo apurar as razões pelas quais programou esta operação através do College of Europe e não contactando directamente as instituições da União Europeia.


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