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“Histórico”! O adjectivo ainda hoje ecoa para saudar o acordo entre os membros da União Europeia e que supostamente faz chover sobre as nossas cabeças os milhões que irão aliviar-nos dos males económicos da COVID-19. Este é o conto de fadas. A realidade, por isso, nada tem a ver com ele. Chegam milhões a “fundo perdido” e por empréstimo que vão custar caro aos contribuintes, não poderão ser aplicados onde verdadeiramente fazem falta aos cidadãos – na saúde e outras vertentes sociais – e que ainda aliviam os países ricos, ditos “frugais”, de boa parte dos encargos com o orçamento europeu. Este é o preço da “unidade”: austeridade, financiamento de empresas privadas em sectores que não estão directamente ligados ao emprego e outros interesses sociais, novas amarras financeiras sem dividendos económicos onde são mais necessários, encargos aumentados com o orçamento da União. Por isso os mercados financeiros não cabem em si de contentes; enquanto as pessoas terão mais do mesmo porque a “recuperação” não é para elas.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos parece uma longínqua referência e as violações em massa são paralelas à expansão do vírus da COVID-19. O presidente Trump humilha a Organização Mundial de Saúde, ameaça-a e desqualifica-a enquanto os outros órgãos da ONU empalidecem para evitar ficar contagiados com o mesmo mal que a atinge: o desprezo dos mais poderosos. Milhões de seres humanos anseiam por água, comida, tecto e saúde. Na educação, enormes massas de jovens entram em deserção por falta de conectividade, os empregos estáveis caíram em areias movediças, a precariedade e a informalidade laboral atingem números aterradores. A maquilhagem das informações económicas de êxito e associadas a supostas escalas de igualdade social extingue-se perante a realidade desigual que o vírus destapou.
O euro, a moeda única, está entre a vida e a morte. Uma sentença do Tribunal Constitucional Alemão adoptada em 5 de Maio veio tornar frontais e irredutíveis as divergências no interior da Zona Euro e que implicam com os mecanismos possíveis de ajuda aos Estados membros para combater a crise económica decorrente da pandemia do COVID-19. Como a seguir se explica, a situação resultante da sentença do Tribunal criou um quadro no qual ou a Alemanha sai do euro ou as suas posições ditadas constitucionalmente têm ganho de causa no Banco Central Europeu – terminando com as compras de dívida dos Estados membros. Mas se isto acontecer, países como França e a Itália terão de por em causa a continuidade no euro porque as suas economias não sobrevivem sem as compras de dívida e os mecanismos (não assumidos) de financiamento monetário através do BCE. O euro, tal como o conhecemos, está entre a vida e a morte.
Algumas coisas continuam a mudar num mundo estagnado em tempos de pandemia. Podem estar até a ser aceleradas pelas circunstâncias porque, indubitavelmente, haverá um antes e um depois do COVID-19 por muitas que sejam as incertezas avolumando-se em relação ao futuro, mesmo o mais próximo. Coisas que estão em mudança são o dinheiro e as formas de pagamento. A China iniciou há poucas semanas os testes de pagamento com uma nova moeda sem existência física: o yuan digital. Trata-se de uma etapa para o lançamento do chamado Pagamento Electrónico em Moeda Digital. São fortes os indícios de que o yuan digital soberano em preparação poderá ser garantido por ouro – ao contrário do que acontece com o dólar norte-americano, a moeda de reserva mundial. Tudo isto significa que a partir daí nada ficará como dantes em termos de pagamentos internacionais. Será esta uma das razões sub-reptícias para a incontida ira de Washington contra Pequim?
Chegaram, viram – e foram vencidos. Os países do Sul da Europa, comandados por Itália e Espanha e com uma ajuda informal de França, perderam mais uma batalha no Eurogrupo frente aos seus vizinhos do Norte. Esta é a realidade da prolongada reunião que antecedeu a Páscoa e que continuou a ser dominada pela Alemanha – por muito que este país tenha tentado manter-se discreto.
A “repugnância” do primeiro-ministro da República Portuguesa com o comportamento do ministro das Finanças da Holanda é legítima, saudável, até catártica. Ao mesmo tempo, porém, é estranha e surpreendente. Porque o chefe do governo português não pode ignorar que a atitude de Woepke Hoekstra não é um caso isolado, uma birra pessoal: reflecte exactamente o espírito e a prática da União Europeia, dos quais Portugal vai tendo a sua dose de experiência própria. E quando António Costa afirma dramaticamente que “ou a União Europeia faz o que tem a fazer ou acabará” isso não passa de um banal e inócuo sound bite: sabe perfeitamente que a União Europeia não fará o que, no seu entender de ocasião, “tem a fazer” – salvar pessoas da tragédia do COVID-19 – e muito menos irá acabar por causa disso.
Uma equipa de assistência médica e mais de 700 peças de equipamento e material médico de apoio oriundos da China estão já em Itália para apoiar as autoridades deste país a combater os graves efeitos da epidemia de coronavírus (COVID-19). O apoio chegou em avião fretado da China Eastern e foi preparado pela Comissão Nacional de Saúde e pela Cruz Vermelha da China.
Christine Lagarde, directora administrativa cessante do Fundo Monetário Internacional (FMI), é a nova presidente do Banco Central Europeu (BCE). O presidente francês, Emmanuel Macron, agindo em nome de poderosos interesses bancários, foi fundamental para a sua indicação. Muito elogiada pela comunicação social dominante, Lagarde é igualmente a favorita de Wall Street e da Reserva Federal (banco central) dos Estados Unidos. A imprensa omite, porém, que Lagarde é uma funcionária corrupta envolvida em fraude financeira. A presidente do BCE tem antecedentes criminais.
Ao princípio foi um ataque a campos petrolíferos sauditas lançado pela resistência iemenita. Agora, passada mais de uma semana, as certezas iniciais foram-se esbatendo para dar lugar a um conjunto de factos debatendo-se numa teia de mistérios e alimentando uma enorme confusão – boa para os pescadores globais de águas turvas. Entre os quais os grandes especuladores financeiros, os adeptos da bolha da dívida, os amantes das “crises do petróleo” e os fanáticos da necessidade de uma guerra contra o Irão.
Analistas ditos de esquerda, de direita ou do centro estão de acordo sobre a miséria que devasta a Grécia. E com razão. Porque a esmagadora maioria do povo grego vive com dificuldades económicas profundas. O desemprego está oficialmente em 18%, mas a sua taxa real é da ordem dos 25% a 30%. As pensões sociais foram reduzidas dez vezes desde que o partido Syriza – que se define como sendo de “esquerda” – assumiu o poder em 2015 e carregou o país ainda com mais dívida e mais austeridade. Em termos de serviços públicos, os que tinham algum valor foram privatizados e vendidos a empresas ou oligarcas estrangeiros. Hospitais, escolas, transportes públicos – e até algumas praias – foram objecto de privatizações, tornando-se inacessíveis a pessoas comuns.
As perspectivas económicas europeias traçadas pela FocusEconomics, uma das empresas líderes de previsões macroeconómicas na Europa, apontam para um ano de 2019 de estagnação. E os horizontes para 2020 não são melhores, além de dependerem de muitos "ses". Se alguma coisa correr mal em termos de Brexit, guerra comercial de Trump contra a China ou ameaças contra o Irão, a recessão será inevitável.
Duas mulheres foram escolhidas para cargos de grande destaque no gigantesco aparelho burocrático neoliberal que é a União Europeia. Ao cabo de um opaco processo de tráfico de influências, a alemã Ursula von der Leyen emergiu como escolha final para a presidência da Comissão Europeia; e a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, foi designada presidente do Banco Central Europeu. Duas mulheres politicamente de extrema-direita deixando atrás de si, em lugares que ocuparam recentemente, rastos de incompetência, clientelismo e corrupção. Tais nomeações, contudo, foram enaltecidas como grandes passos para a igualdade de género. Uma mistificação no meio da nuvem cerrada de mistificações em que se move a União Europeia.
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