O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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E O IMPÉRIO FOGE PELA CALADA DA NOITE

Um telegrama da insuspeita Associated Press, assinado por Kathy Gannon, testemunha o seguinte: em 2 de Julho “os Estados Unidos deixaram a base aérea de Bagram no Afeganistão ao cabo de quase 20 anos apagando as luzes e fugindo durante a noite sem notificarem o novo comandante afegão da base, que deu pela partida dos norte-americanos mais de duas horas depois, segundo fontes afegãs”.

HUMILHANTE DERROTA DA NATO

O presidente dos Estados Unidos anunciou que o seu país e a NATO vão retirar tropas do Afeganistão até 11 de Setembro deste ano. Independentemente do que possa dizer-se sobre a suposta grandeza do acto, estamos perante uma humilhante confissão de derrota numa guerra que, ao cabo de 20 anos, deixou a martirizada nação numa situação tão ou mais grave do que aquela em que se encontrava quando a invasão imperial se iniciou. Além disso, e para que conste desde já, a retirada de efectivos convencionais não significa o abandono do teatro de operações por agressores ao serviço dos mesmos interesses expansionistas que promoveram a invasão.

CRONOLOGIA DE UMA PROVOCAÇÃO ATERRADORA

No dia 24 de Março deste ano, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, assinou o decreto 117/2021 no qual determina que a política oficial do seu regime é a de “reconquistar” a Crimeia à Rússia; e identifica o porto de Sebastopol como alvo prioritário desta estratégia. A iniciativa foi acompanhada pelo transporte de avultados meios de guerra, incluindo comboios de tanques, em direcção ao Leste ucraniano, a região onde Kiev tem mantido um cerco e actos de guerra contra as populações civis, essencialmente a cargo de unidades militares e paramilitares nazis. A decisão de Zelensky provocou uma reacção simétrica por parte da Rússia: reforço das capacidades militares na Península da Crimeia e nas imediações da fronteira oriental da Ucrânia. A comunicação social corporativa, sobretudo a “de referência”, só conta esta parte da história, encaixando-a na narrativa da “agressão russa”. Para se ter uma noção da real gravidade da situação, porém, é necessário conhecer o cenário completo.

O TERRORISMO DA NATO NO SEU ESPLENDOR

Em Março de 2011, quando a NATO já bombardeava a Líbia, Muammar Khaddafi enviou uma mensagem ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lembrando que as forças de segurança do seu país estavam “a combater a al-Qaida no Magrebe islâmico, nada mais”, pelo que a intervenção estrangeira “era um risco de consequências incalculáveis no Mediterrâneo e na Europa”. O apelo do dirigente líbio não surtiu efeito: afinal, para as forças atlantistas a operação não era “um risco” mas sim uma estratégia deliberada – para todos os efeitos, uma estratégia terrorista.

PORQUE A NATO DESTRUIU A LÍBIA HÁ DEZ ANOS

Embora o Pentágono tivesse já decidido destruir todas as estruturas estatais do Médio Oriente alargado, país por país, apenas a urgência financeira explica porque a vez da Líbia tenha chegado em 2011, numa altura em que o país era aliado de Washington. O velho colonialismo imperial recorreu mais uma vez ao poder militar com o objectivo de travar os esforços africanos para cortar amarras e dependências, principalmente através da criação de um mercado único e de uma moeda única que pusesse fim ao reinado regional do dólar e do franco CFA. O poder financeiro líbio iria sustentar essas transformações; por isso a Líbia pagou (e está a pagar) o preço às mãos do terrorismo colonial da NATO.

O ESPELHO DE JOSEPH BIDEN

O presidente dos Estados Unidos da América chamou “assassino” ao presidente da Federação Russa. E assegurou que ele irá pagar por isso. Ora quando estão envolvidas no assunto as duas principais potências nucleares mundiais e a ameaça é tão assertiva, na sequência do insulto, percebe-se que uma tão peculiar espécie de diplomacia não tem a ver com azedumes pessoais, jogando antes com a vida de todos nós.

O PARTIDO DA GUERRA GANHA SEMPRE

Joseph Biden mandou bombardear a Síria a pretexto de ataques dirigidos contra as suas forças de ocupação presentes no Iraque; e fê-lo ao mesmo tempo em que aviões militares israelitas atacavam Damasco. Como era de esperar, a realidade demonstra que em Washington mudaram apenas as moscas. Nas eleições norte-americanas o partido único, o partido da guerra, ganha sempre.

ESTADOS UNIDOS RESSUSCITAM DAESH NA SÍRIA

Os terroristas do Estado Islâmico, ISIS ou Daesh voltaram a estar activos na província síria de Deir Ezzor, no nordeste do país, beneficiando de treino e outros apoios que obtêm em duas bases militares norte-americanas mantidas na região. Muito recentemente, jihadistas pertencentes a essa organização atacaram efectivos do Exército Árabe Sírio, as forças armadas nacionais.

PERFIL DA NOVA TROPA DE CHOQUE DO IMPÉRIO

Intelligence Online, uma newsletter internacional que divulga recados dos serviços secretos ocidentais, publica um curto texto sob o sugestivo título “Biden vai acabar na Síria o que Obama começou”. Mais palavras são desnecessárias: a frase vale pelas 10 ou 20 mil palavras de um programa de governo. Ilusões para que vos quero.

GOVERNO HOLANDÊS ESCONDE APOIO AO TERRORISMO

O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, admitiu que interveio pessoalmente para obstruir as investigações parlamentares sobre o envio de milhões de euros de dinheiro público para grupos terroristas que actuam na guerra contra a Síria. Este novo capítulo sobre o envolvimento do governo de Haia na operação terrorista que flagela o povo e o território sírios desde 2011 demonstra a hipocrisia flagrante das políticas da Holanda e, por extensão, da União Europeia, sobre o alegado “combate ao terrorismo” e a protecção dos direitos humanos.

UM ASSUSTADOR DUELO DE SOCIOPATAS

É comum ouvir dizer que Donald Trump não aceitará os resultados das eleições norte-americanas de terça-feira no caso de não lhe serem favoráveis. O que frequentemente se omite é que acontece exactamente o mesmo do lado democrata, onde Hillary Clinton apela a retomar a Casa Branca através de qualquer meio e em quaisquer circunstâncias. Intenção poucas vezes recordada porque é “politicamente correcto” ser-se democrata ou porque a vantagem atribuída pelas sondagens vai esfumando esse cenário. Seja como for, não está garantido que as eleições sejam pacíficas, democráticas e conclusivas no país que pretende ser a luz da democracia. Um país onde a escolha dos eleitores - mas com repercussões em todo o mundo – está restringida a dois sociopatas, ambos carregando assassínios além-fronteiras às suas costas. Estas eleições não seriam, portanto, um caso de política mas sim de polícia se o mundo estivesse nas mãos de gente docente. Mas não: os sociopatas é que mandam – um ou outro, escolha o leitor se conseguir ou achar que neste cenário ainda há lugar para o mal menor.

POR DETRÁS DE UMA GUERRA RESSUSCITADA

Milhares de mercenários islâmicos que têm combatido contra a Síria sob as chancelas da al-Qaida e do Estado Islâmico (ISIS ou Daesh) foram e estão a ser recrutados por empresas de segurança turcas e norte-americanas para acordarem da letargia de 25 anos o conflito de Nagorno-Karabakh entre a Arménia e o Azerbaijão. Tendo em consideração que o status quo regional e internacional da disputa se tem mantido mais ou menos inalterado no último quarto de século, que interesses estão por detrás do despertar da guerra? A declaração recente de um cessar-fogo é importante mas não garante que fique aberto o caminho para aproximar posições.

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