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O regime da Bielorrússia, com a sensibilidade de quem caça formigas com canhões, decidiu tentar resolver problemas internos através de um acto de pirataria internacional e acertou nos próprios pés. Ofereceu de bandeja a quem o ataca gratuitamente, jogando as cartas viciadas da geopolítica, um ás de trunfo que vai servir para acelerar, a partir de agora, as manobras de desestabilização e de mudança de regime que têm vindo a desenvolver-se. Para deitar a mão a um fascista mercenário de “revoluções coloridas” às ordens de Biden, Bruxelas & Cia o governo de Lukachenko acabou por provocar a mobilização geral da parafernália imperialista montada contra os “Estados párias” – e deu ainda mais alento aos múltiplos canais da russofobia. É provável, por isso, que o saldo da operação não lhe seja favorável, além de suscitar um óbvio agravamento do intervencionismo da NATO contra a Rússia. A situação gerada tem, por outro lado, a particularidade de escancarar a hipocrisia, a falta de decoro e de princípios das elites do chamado “mundo ocidental”, que entraram em delírio sem se darem conta das rasteiras em que a História as pode fazer cair. Enfim, um retrato multifacetado do mundo de hoje.
O primeiro encontro desde o século VII entre um Papa católico romano e um líder espiritual xiita, considerado este como uma “fonte de emulação”, foi um divisor de águas sob qualquer ponto de vista histórico. Será preciso que passe muito tempo para avaliar todas as implicações da imensamente intrigante conversa frente a frente de 50 minutos, apenas na presença de intérpretes, entre o Papa Francisco e o Grande Ayatollah Sistani na sua humilde casa situada num beco de Najaf, perto do deslumbrante santuário do Imã Ali.
Sete anos depois de lançados pelo presidente Xi Jinping, primeiro em Astana e depois em Jacarta, os projectos chineses das Novas Rotas da Seda ou Iniciativa Cintura e Estrada (ICE) – Belt and Road Iniciative (BRI) – deixam cada vez mais a oligarquia plutocrática norte-americana num transe alucinado.
Que o Brasil se tornou um pária mundial, já ninguém duvida. Venho escrevendo sobre este processo há anos, mas agora parece que tal avaliação, após o brilhante desempenho do governo Bolsonaro na pandemia do COVID-19, se tornou praticamente unânime. Unanimidade inteligente, acrescente-se. Mas como se deu esse processo lamentável de transformação do cisne do soft power multilateralista no patinho feio de uma total subserviência unilateralista?
Um novo relatório do Instituto de Estudos Políticos dos Estados Unidos revela que enquanto dezenas de milhões de norte-americanos estão a perder os seus empregos como consequência da pandemia do novo coronavírus a elite dos super-ricos do país aumentou o seu património líquido em 282 mil milhões de dólares em apenas 23 dias. Isto acontece apesar de as previsões económicas admitirem uma contracção de 40% no trimestre em curso.
Na sequência das terceiras eleições gerais em Espanha praticamente consecutivas – as últimas realizadas em 10 de Novembro – o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Podemos estabeleceram um primeiro acordo de coligação para governar sem a direita. O caminho para alcançar maioria parlamentar, porém, é ainda longo e exige alguns acordos mais num cenário caracterizado pela situação na Catalunha e pela significativa subida eleitoral do grupo fascista Vox. Publicamos uma importante reflexão sobre a advertência que este facto representa, sobretudo numa democracia que começa por estar amputada na cabeça do Estado.
Década e meia de gestão presidencial de Evo Morales catapultou o PIB da Bolívia de cinco mil milhões de dólares para mais de 40 mil milhões, isto é, multiplicou-o por oito vezes. A miséria extrema desceu a pique de quase 80% da população para menos de 15 por cento. O crescimento económico anual estabilizou nos quatro por cento. O sistema político colonial transformou-se num Estado plurinacional, as mulheres e os povos indígenas conquistaram as vozes que não tiveram em 500 anos. O regime neoliberal globalista ficou fora de jogo na Bolívia, onde os recursos naturais foram postos ao serviço das populações. Há coisas que o imperialismo e a sua casa mãe, os Estados Unidos da América, não conseguem perdoar no “quintal das traseiras”. Mais cinco anos de espera, pelo menos, não podiam acontecer. Então chegou o golpe.
Nas eleições primárias presidenciais realizadas domingo na Argentina a candidatura de Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner, repectivamente a presidente e vice-presidente, obteve um claro triunfo. Com uma votação de 47,65%, bateu a dupla em funções formada pelo presidente Macri e pelo vice-presidente Pichetto por mais de 15 pontos percentuais, ou mais de quatro milhões de votos. O neoliberalismo sofreu uma importante derrota.
Cinco anos depois do golpe de Estado "democrático" da Praça Maidan e à beira de novas eleições presidenciais, a Ucrânia chegou ao título de "país mais pobre da Europa", outorgado pelo FMI. Petro Porochenko, o presidente, prepara-se para novo mandato, se bem que as sondagens em nada lhe sejam favoráveis nem dêem favoritismo. Mas é o candidato da NATO e da União Europeia, estatuto que vale muitos milhões de votos à cabeça, ainda que Porochenko tenha contribuído para que um Estado fascista nascesse da "democracia" do golpe. A Ucrânia é o exemplo pleno das estranhas circunvoluções "democráticas" que asseguram o "nosso civilizado modo de vida".
Com eleições presidenciais em Outubro e o candidato favorito na prisão, o povo brasileiro luta pela independência nacional e pela constituição de uma plataforma vitoriosa das esquerdas. A velha oligarquia rural e financeira prossegue no rumo do golpe e da asfixia democrática.
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