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Um telegrama da insuspeita Associated Press, assinado por Kathy Gannon, testemunha o seguinte: em 2 de Julho “os Estados Unidos deixaram a base aérea de Bagram no Afeganistão ao cabo de quase 20 anos apagando as luzes e fugindo durante a noite sem notificarem o novo comandante afegão da base, que deu pela partida dos norte-americanos mais de duas horas depois, segundo fontes afegãs”.
A próxima reunião do Grupo dos Sete (G7) na Cornualha pode ser vista, em princípio, como o encontro peculiar da “America is Back” com a “Global Britain”. O quadro geral, porém, é muito mais delicado. Três cimeiras consecutivas - G7, NATO e EUA-UE - abrirão o caminho para o que se espera que seja um momento de ansiedade: a cimeira Putin-Biden em Genebra, que certamente não será um reinício.
Sete anos depois de lançados pelo presidente Xi Jinping, primeiro em Astana e depois em Jacarta, os projectos chineses das Novas Rotas da Seda ou Iniciativa Cintura e Estrada (ICE) – Belt and Road Iniciative (BRI) – deixam cada vez mais a oligarquia plutocrática norte-americana num transe alucinado.
A China, o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália, a Nova Zelândia e os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) assinaram a Parceria Económica Regional Abrangente (RCEP), o maior acordo comercial do mundo, um mercado integrado que envolve 30% da economia mundial e 2200 milhões de pessoas. Trata-se de uma grande plataforma que poderá intersectar-se com várias outras entidades regionais da geoeconomia mas também da geopolítica. A comunicação corporativa praticamente não deu por isso, a não ser para dizer que se trata de mais uma arma da China contra “o Ocidente”. Um “Ocidente” que continua a olhar-se como o centro do mundo – e a comportar-se colonialmente como tal. Enquanto ele, o centro do mundo, continua a deslizar inapelavelmente para Oriente.
Pequim e Moscovo não acertaram as suas horas pela de Washington durante os últimos tempos, como se fez nos subservientes países ocidentais. China e Rússia têm a sua parceria estratégica em funcionamento e seguem caminhos próprios que não estão à espera de “autorização” decorrente da “escolha” norte-americana. Enquanto decorria o duelo de sociopatas nos Estados Unidos, o Comité Central do Partido Comunista da China apreciou o plano quinquenal até 2025, decisivo no caminho do país para a autossuficiência económica ao mais elevado nível tecnológico. E o “pragmatismo” de Moscovo afinou-se em debates como alternativa aos reconhecidos fracassos neoliberais no Ocidente. São opções próprias que estão a traçar outros caminhos não coincidentes com os do decadente império.
Obviamente é uma “revolução colorida” posta em movimento pelas habitais agências norte-americanas de “mudança de regime”, com apoio activo da União Europeia. Nada do que acontece actualmente em Minsk, na Bielorrússia, é novo: já foi observado na Geórgia, no Cazaquistão, na Moldávia, nas “primaveras árabes”, durante mais de vinte anos na Venezuela, na Nicarágua e, claro, sobretudo na Praça Maidan, em Kiev. Não se trata, mais uma vez, de instaurar a “democracia”, como proclamam os manifestantes, certamente muitos na sua ingenuidade manipulada por eficazes e dispendiosos instrumentos de propaganda; pretende-se criar um regime ao serviço do Departamento de Estado de Washington, de Bruxelas e da NATO para instalar um novo posto avançado do cerco à Federação Russa nas suas próprias fronteiras. Nem que essa “democracia” seja imposta por forças militarizadas nazis, como acontece na Ucrânia e já se vislumbra em Minsk.
Depois de grandiloquentes declarações de solidariedade, logo ecoadas pela comunicação do regime global, as “doações” destinadas ao Líbano sob o patrocínio da França, da ONU e da União Europeia não passaram de 250 milhões de dólares, uma gota de água no vastíssimo mar de promessas - e ainda submetidas às “reformas reestruturais” do costume. No entanto, os 15 mil milhões de dólares envolvidos na reconstrução do porto de Beirute parecem ser “trocos” para empresas chinesas possuidoras do plano A para restauração e modernização das infraestruturas desenvolvimentistas e produtivas do país. O Líbano está numa encruzilhada: mais da mesma degradação sob o mito neoliberal da “Paris do Oriente”; ou virar-se para Leste, ao reencontro da história, da cultura e de uma via de desenvolvimento independente.
Hiroxima e Nagasaki foram actos de assassínio em massa premeditados e que inauguraram a utilização de uma arma intrinsecamente criminosa. Foram justificados por mentiras que constituem o fundamento da propaganda de guerra dos Estados Unidos no século XXI, lançando um novo inimigo e alvo – a China.
Quando os porta-aviões norte-americanos Ronald Reagan e Nimitz recentemente se envolveram em "operações" no Mar do Sul da China não deixou de notar-se que a Frota do Pacífico dos Estados Unidos estava a fazer os possíveis para transformar a teoria infantil da armadilha de Tucídides, uma provocação de guerra, numa profecia auto-realizável.
O acontecimento passou quase despercebido mas fica como um marco nos actuais desenvolvimentos geopolíticos, geoestratégicos e geoeconómicos globais: os presidentes da Rússia e da China Popular realizaram uma “cimeira telefónica” em 8 de Julho na qual aprofundaram as estratégias de colaboração e coordenação, a todos os níveis, entre os dois gigantes. Além de reforçarem a sua aliança tendo como referência o quadro estabelecido pela Carta das Nações Unidas e o multilateralismo, a igualdade entre os povos e os Estados, Vladimir Putin e Xi Jinping não hesitaram em solidarizar-se mutuamente com recentes movimentos políticos nos dois países como o referendo constitucional na Rússia e a entrada em vigor da lei de segurança nacional em Hong Kong.
Parecia saído de um thriller orientalista romântico passado nos Himalaias: soldados a lutar com pedras e barras de ferro pela calada da noite, à beira de um precipício a mais de quatro mil metros de altitude, alguns deles mergulhando para a morte num rio quase congelado e morrendo de hipotermia.
Por muito que se especule noutros sentidos, a questão energética e as rotas de abastecimento de petróleo e gás natural continuam a talhar as coisas do mundo. E permanecem essenciais no pós-Lockdown ou o falado “novo normal”. Pelo que as guerras dos pipelines continuam activas: aí, entre destroços de vários projectos, estão no caminho do êxito pleno os que materializam a cada vez mais forte parceria estratégica entre a Rússia e a China e também os laços que, para desespero de Washington, canalizam energia russa para dois relevantes membros da NATO – Alemanha e Turquia.
O reforço da Informação Independente como antídoto para a propaganda global.
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