O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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O G7 E A ANGÚSTIA DA RELEVÂNCIA PERDIDA

A próxima reunião do Grupo dos Sete (G7) na Cornualha pode ser vista, em princípio, como o encontro peculiar da “America is Back” com a “Global Britain”. O quadro geral, porém, é muito mais delicado. Três cimeiras consecutivas - G7, NATO e EUA-UE - abrirão o caminho para o que se espera que seja um momento de ansiedade: a cimeira Putin-Biden em Genebra, que certamente não será um reinício.

O CENTRO DO MUNDO DESLIZA PARA ORIENTE

A China, o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália, a Nova Zelândia e os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) assinaram a Parceria Económica Regional Abrangente (RCEP), o maior acordo comercial do mundo, um mercado integrado que envolve 30% da economia mundial e 2200 milhões de pessoas. Trata-se de uma grande plataforma que poderá intersectar-se com várias outras entidades regionais da geoeconomia mas também da geopolítica. A comunicação corporativa praticamente não deu por isso, a não ser para dizer que se trata de mais uma arma da China contra “o Ocidente”. Um “Ocidente” que continua a olhar-se como o centro do mundo – e a comportar-se colonialmente como tal. Enquanto ele, o centro do mundo, continua a deslizar inapelavelmente para Oriente.

PUTIN E XI JINPING REFORÇAM COOPERAÇÃO E COORDENAÇÃO

O acontecimento passou quase despercebido mas fica como um marco nos actuais desenvolvimentos geopolíticos, geoestratégicos e geoeconómicos globais: os presidentes da Rússia e da China Popular realizaram uma “cimeira telefónica” em 8 de Julho na qual aprofundaram as estratégias de colaboração e coordenação, a todos os níveis, entre os dois gigantes. Além de reforçarem a sua aliança tendo como referência o quadro estabelecido pela Carta das Nações Unidas e o multilateralismo, a igualdade entre os povos e os Estados, Vladimir Putin e Xi Jinping não hesitaram em solidarizar-se mutuamente com recentes movimentos políticos nos dois países como o referendo constitucional na Rússia e a entrada em vigor da lei de segurança nacional em Hong Kong.

A GUERRA NOS HIMALAIAS E O XADREZ MUNDIAL

Parecia saído de um thriller orientalista romântico passado nos Himalaias: soldados a lutar com pedras e barras de ferro pela calada da noite, à beira de um precipício a mais de quatro mil metros de altitude, alguns deles mergulhando para a morte num rio quase congelado e morrendo de hipotermia.

FACEBOOK MODERNIZA AS GRILHETAS COLONIAIS EM ÁFRICA

O Facebook, que tem uma aliança operacional com o Conselho do Atlântico, uma entidade que trata da “liderança dos Estados Unidos e aliados” no mundo, está a montar uma gigantesca cadeia de cabos submarinos em redor de África como “pilar de uma enorme expansão da internet no continente”. Perito em “educar os cidadãos e a sociedade civil” sobre o que é “verdadeiro” ou “falso”, o Facebook amarra agora os seus cabos em terras onde mais de 600 milhões de pessoas não têm acesso a energia eléctrica. Trata-se, afinal, de cabos que vêm suceder às velhas grilhetas coloniais.

CHINA: UM PAÍS, DUAS SESSÕES, TRÊS AMEAÇAS

As duas importantes sessões do Congresso Nacional do Povo em Pequim incidiram sobre o posicionamento da China em relação à guerra fria que tem sido movida contra o país pelos Estados Unidos e o Ocidente em geral, acelerada com as incidências da pandemia de COVID-19. O Congresso deu alento a uma recuperação e a um relançamento económico rápido no plano interno como base material e tecnológica para concretizar os grandes projectos sociais domésticos e as acções internacionais estabelecidos e em desenvolvimento. Algumas coisas vão mudar no plano internacional, a começar por Hong Kong.

NÃO FOI APENAS BOLSONARO

Que o Brasil se tornou um pária mundial, já ninguém duvida. Venho escrevendo sobre este processo há anos, mas agora parece que tal avaliação, após o brilhante desempenho do governo Bolsonaro na pandemia do COVID-19, se tornou praticamente unânime. Unanimidade inteligente, acrescente-se. Mas como se deu esse processo lamentável de transformação do cisne do soft power multilateralista no patinho feio de uma total subserviência unilateralista?

O YUAN DIGITAL DA CHINA AMEAÇA O REINADO DO DÓLAR

Algumas coisas continuam a mudar num mundo estagnado em tempos de pandemia. Podem estar até a ser aceleradas pelas circunstâncias porque, indubitavelmente, haverá um antes e um depois do COVID-19 por muitas que sejam as incertezas avolumando-se em relação ao futuro, mesmo o mais próximo. Coisas que estão em mudança são o dinheiro e as formas de pagamento. A China iniciou há poucas semanas os testes de pagamento com uma nova moeda sem existência física: o yuan digital. Trata-se de uma etapa para o lançamento do chamado Pagamento Electrónico em Moeda Digital. São fortes os indícios de que o yuan digital soberano em preparação poderá ser garantido por ouro – ao contrário do que acontece com o dólar norte-americano, a moeda de reserva mundial. Tudo isto significa que a partir daí nada ficará como dantes em termos de pagamentos internacionais. Será esta uma das razões sub-reptícias para a incontida ira de Washington contra Pequim?

CHINA ESTENDE A ROTA DA SEDA DA SAÚDE

Quando em meados de Março o presidente chinês, Xi Jinping, conversou por telefone com o primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, antes da chegada de um voo da China Eastern de Xangai para Milão carregado de ajuda médica, o assunto principal foi a promessa chinesa de desenvolver uma Rota da Seda da Saúde (Jiankang Sichou Zhilu).

GRUPO ASSOCIADO À TORTURA “PROTEGE” UNIÃO EUROPEIA

Guardas embuçados do grupo transnacional de segurança G4S podem ser vistos de novo desempenhando funções junto à entrada do Parlamento Europeu em Bruxelas cerca de dez anos depois de a empresa ter sido afastada devido ao seu longo historial de violações de direitos humanos, incluindo tortura. A G4S presta igualmente serviços à Comissão Europeia tanto na capital belga como em representações através do mundo.

CHOQUE DE TITÃS NO “CORAÇÃO DA TERRA”

O futuro do planeta nos próximos vinte a trinta anos está profundamente associado ao processo de integração da Eurásia, que tem como os três pilares essenciais a China, a Rússia e o Irão. Contra esta integração batem-se empenhadamente os Estados Unidos, com base na sua doutrina “Indo-Pacífico” e procurando adaptar a NATO a esta estratégia fazendo avançar a aliança para espaços asiáticos. Isso ficou claro na última cimeira da NATO através das decisões de reforçar a agressividade contra a Rússia, conter a China e militarizar o espaço. A que se somam os esforços incessantes para mudar o regime no Irão. Os dados estão lançados: de um lado as estratégias convergentes da Iniciativa Cintura e Estrada da China e da Grande Eurásia, da Rússia; do outro o Império globalista, em luta existencial pelo seu domínio. Segue-se uma reflexão sobre o ponto da situação daquilo que o autor qualificou como “a batalha das eras”, o choque de titãs entre a unipolaridade globalista e a multipolaridade.

A LIMPEZA ÉTNICA NO BERÇO DO NATAL

O mundo cristão e de influência cultural cristã celebra o Natal ignorando na sua esmagadora maioria – porque lhe é escondido – que a mais antiga comunidade cristã do mundo, a da Palestina, continua a ser expulsa dos lugares onde se formou; comunidade essa que descende em linha recta dos primeiros cristãos, os contemporâneos de Cristo. Trata-se de uma limpeza étnica metodicamente organizada por Israel, país ocupante, colonizador e agressor que, paradoxalmente, conta com apoios de comunidades cristãs em todo o mundo. Na terra do primeiro Natal, Belém, há 70 anos os cristãos palestinianos representavam 86% da população; agora não passam de 12%.

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