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Benjamin Netanyahu, o aparentemente eterno primeiro ministro de Israel, agora geminado com um dos carrascos de Gaza, Benny Gantz de sua graça, vem anunciando que a partir do início do próximo mês dará os passos governamentais, parlamentares e militares que considera necessários para anexar o Vale do Jordão, no território palestiniano da Cisjordânia. Além disso, tenciona integrar no Estado de Israel os colonatos construídos ilegalmente no mesmo território durante os últimos 60 anos. Estes movimentos representam, de facto, a extinção da chamada “solução de dois Estados” na Palestina histórica, estabelecida em 1948 pelas Nações Unidas e reactivada durante os passados anos noventa. Os criminosos não escondem o crime, os avisos estão feitos: ninguém poderá dizer que será apanhado de surpresa.
Um discurso recente do diplomata principal da União Europeia, Josep Borrell, que fez soar campainhas porque sugere “o fim da liderança” norte-americana, indicia que o velho continente pode estar a ensaiar uma nova ordem nas relações com a Ásia namorando a Rússia – uma estratégia cujo comando poderia ser assumido pela Alemanha. Mas será apenas uma maneira de testar a hegemonia chinesa?
Com pouco mais de um terço dos deputados no Parlamento, o “eterno” primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, driblou o ex-chefe da oposição como se fosse um simples amador e avança para um governo de maioria no qual assegurou poderes para designar os juízes que o deveriam julgar por corrupção. E, sobretudo, garantiu condições para iniciar a anexação da Cisjordânia, o maior assalto dos últimos tempos contra os palestinianos e o direito internacional, com as costas protegidas por Donald Trump
Trump, com os seus parceiros francês e britânico, sob os auspícios da NATO, estão a montar um circo de guerra contra a Venezuela a pretexto de uma “operação contra o narcotráfico” alegadamente praticado sobretudo pelo governo de Caracas, com o presidente Maduro à cabeça. Porém, segundo os relatórios da agência antidroga dos Estados Unidos, a DEA, a Colômbia é o responsável, praticamente monopolista, pelo tráfico de cocaína na região; e a Venezuela não surge sequer na lista dos países envolvidos.
Supõe-se que as eleições se realizam para resolver problemas, reordenar o governo, adoptar novas políticas, mudar as pessoas que dirigem as instituições. Mas quantas eleições terá Israel de realizar ainda antes de perceber que não conseguirá fazer nada disso porque é um país amarrado por um laço constitucional inamovível?
A “Visão de Paz” estampada por Donald Trump e Benjamin Netanyahu em 28 de Janeiro como “solução” para o problema israelo-palestiniano não trouxe surpresas. Há meses que os seus conteúdos vinham sendo conhecidos às fatias, sob a designação pomposa de “acordo do século”, pelo que nenhum dos aspectos focados ao longo das 80 páginas do documento contraria o que era esperado. Mais grave do que o texto é o facto de estar a ser aplicado há muito tempo, perante a inércia da chamada “comunidade internacional”, e representar um patamar elevadíssimo – quase irreversível na actual relação de forças mundial – da estratégia de factos consumados seguida metodicamente por Israel e os Estados Unidos.
O Estado de Israel demoliu ou confiscou quase cem edifícios financiados pela União Europeia ou por Estados-membros na Palestina ocupada em 2019, no valor de quase meio de milhão de euros, segundo fontes oficiais de Bruxelas. Estes dados representam um aumento aproximado de 90% em relação a 2018. Embora as instituições europeias apresentem protestos pontuais por estas situações verifica-se que a União Europeia, oficialmente, não condenou ainda o projecto de solução final da questão palestiniana que os Estados Unidos e Israel pretendem impôr e acabam de apresentar. Desta maneira, Bruxelas acaba por apoiar, por omissão, as políticas de Washington e Telavive que violam o direito internacional e confrontam a ONU.
O regime racista e segregacionista que está em acção na Bolívia depois do golpe fascista contra o governo legitimamente eleito de Evo Morales pediu assistência de Israel para ajudar a reprimir as forças de resistência ao governo terrorista. Os golpistas de La Paz apostam assim na vasta experiência de Israel na guerra contra populações enraizadas e em limpezas étnicas para tentarem submeter especialmente as comunidades indígenas que conquistaram direitos durante os governos de Morales. Os colonialismos associam-se.
Em 2012, a ONU publicou um relatório prevendo que em 2020 a Faixa de Gaza, na Palestina, seria um território humanamente inabitável se não fossem tomadas medidas para contrariar a situação. Tudo o que aconteceu desde então foi a deterioração das condições que existiam, agravadas pelos massacres militares cometidos regularmente por Israel. Chegou o ano de 2020: Gaza é, portanto, um território inabitável. E, contudo, quase dois milhões de pessoas tentam sobreviver nessa terra transformada num imenso campo de concentração. O mundo assiste, indiferente, a um lento e deliberado extermínio em massa.
O mundo cristão e de influência cultural cristã celebra o Natal ignorando na sua esmagadora maioria – porque lhe é escondido – que a mais antiga comunidade cristã do mundo, a da Palestina, continua a ser expulsa dos lugares onde se formou; comunidade essa que descende em linha recta dos primeiros cristãos, os contemporâneos de Cristo. Trata-se de uma limpeza étnica metodicamente organizada por Israel, país ocupante, colonizador e agressor que, paradoxalmente, conta com apoios de comunidades cristãs em todo o mundo. Na terra do primeiro Natal, Belém, há 70 anos os cristãos palestinianos representavam 86% da população; agora não passam de 12%.
Já é degradante para o prestígio interno e internacional de um país acolher na sua capital uma reunião conspirativa de dois sociopatas mundiais como são o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o secretário de Estado norte-americano da Administração Trump, Michael Pompeo. O facto de o primeiro-ministro, António Costa, receber ambos os fora-de-lei transforma o caso numa situação trágica, porque expõe directamente o país às consequências do previsível agravamento da instabilidade global decorrente destes encontros. Afinal o espírito belicista da Cimeira das Lages – que afundou o Médio Oriente na crise de guerras sucessivas em que se encontra – continua bem vivo nos governantes portugueses. Depois de Barroso, cabe aos socialistas interpretar a segunda temporada.
O reforço da Informação Independente como antídoto para a propaganda global.
Bastam 50 cêntimos, o preço de um café, 1 euro, 5 euros, 10 euros…