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Na segunda-feira dia 20 de Abril o petróleo atingiu pela primeira vez na História preços negativos. Nesse dia a cotação do barril de petróleo, West Texas Intermediate (WTI), nos Estados Unidos da América (EUA), fixou-se nuns espantosos 37,63 dólares negativos. No dia seguinte desceu ainda mais. Note-se que o WTI é o preço padrão para o petróleo dos EUA. Depois das taxas de juro negativas temos, agora, uma das principais mercadorias do comércio mundial a negociar com preços negativos.
Começa a anoitecer. Hoje morreram mais de 21 mil crianças com menos de cinco anos no mundo inteiro — são 7,9 milhões por ano. Entre os principais motivos estão as doenças causadas pela falta de água potável, por um saneamento inadequado ou pelo consumo de água poluída. Há muitos anos que as emergências de saúde relacionadas com a água preocupam muita gente, mas os grupos dominantes, aqueles que têm o poder de decidir, não parecem considerar essencial e urgente tomar medidas para mudar a situação.
Se há domínio onde a futurologia está avançada, tocando mesmo o nível zero de erro, é o das pandemias virais. O Event 201, realizado em Outubro de 2019 em Nova York, antecipou apenas em dois meses o terrível mergulho no desconhecido que estamos a viver. É certo que a vocação assassina do coronavírus parece pecar por escassa em relação às previsões dos adivinhos – 65 milhões de mortos - mas já iremos perceber que a componente de pânico tem papel reservado nestas matérias. Porém, ao cabo de uma década de sucessivas “antecipações científicas”, de que o Event 201 foi a etapa mais recente, há que dar relevo ao acontecimento fundador destes exercícios visionários, datado de 2010 e que revela um realismo gritante. Sobretudo na vertente que começa a ganhar forma à escala global: a imposição do autoritarismo ou a vulgarização do excepcionalismo.
Imaginemos que os países poriam de lado as suas diferenças para montar uma campanha internacional eficaz contra a pandemia de COVID-19. Que deixassem de se agredir para combater o vírus. Que em vez de manterem porta-aviões navegando pelo mundo, em demonstrações de força, competiriam para apurar qual deles poderia fornecer mais máscaras faciais e ventiladores. Não acham que isto seria terrível? Um sinal de uma nova e perigosa ameaça?
Chegaram, viram – e foram vencidos. Os países do Sul da Europa, comandados por Itália e Espanha e com uma ajuda informal de França, perderam mais uma batalha no Eurogrupo frente aos seus vizinhos do Norte. Esta é a realidade da prolongada reunião que antecedeu a Páscoa e que continuou a ser dominada pela Alemanha – por muito que este país tenha tentado manter-se discreto.
A guerra comercial contra a China, o isolamento económico crescente dos Estados Unidos, os recursos astronómicos desviados da economia para guerras infindáveis como a do Afeganistão, a ocupação do Iraque, a desestabilização da Líbia e outras, as lentas mas inexoráveis consequências da delapidação da Natureza e dos seus recursos, o empobrecimento das classes médias ocidentais, a destruição dos sistemas de segurança social e de saúde dos países europeus e latino-americanos pelas políticas de austeridade, a especulação financeira e imobiliária dos últimos anos, criaram um palco propício ao desencadear de uma crise económica de grande magnitude ao menor abalo.
Uma Carta Aberta recentemente publicada pelo “Público” e subscrita por mais de trezentas pessoas e dezenas de organizações locais vem alertar para o desproporcionado perigo de vida a que as políticas governamentais têm exposto as comunidades negra, cigana e as pessoas mais pobres e vulneráveis; estas pessoas – “são as invisíveis do sistema: sem documentos, sem casa ou habitação digna ou que estão confinadas em prisões, centros educativos, de detenção e de acolhimento. São também quem trabalha sem contrato e quem não tem meios para trabalhar e estudar à distância”.
“A resposta às necessidades do momento, em última análise, deve ser associada a uma visão e a um programa globais de colaboração”, escreveu Henry Kissinger no Wall Street Journal em plena pandemia de COVID-19. O expoente terrorista que é a referência de todos os esforços globalistas ditou esta sentença num contexto de reforço dos estados de excepção através do planeta, os quais, de acordo com o experiente Edward Snowden, continuarão a ter efeitos quando o novo coronavírus não passar de uma má memória. Um tema para reflectir, uma realidade que nos envolve, uma tendência generalizada – e banalizada – que impõe vigilância incansável
O mundo desconhece a extensão real da tragédia que assolou a zona mais industrializada da região da Lombardia, em Itália, onde se regista a maior taxa de mortes por milhar de habitantes por COVID-19 da Europa. O mundo praticamente ignora que enquanto camiões militares transportavam cadáveres empilhados através das ruas das cidades as maiores organizações patronais dirigiam campanhas proclamando que "a economia não pode parar” e mantinham as fábricas abertas – enquanto o governo central lhes ia fazendo a vontade. Hoje a dor das populações está a transformar-se em raiva, mas será que virão a ser apuradas responsabilidades?
Governos de todo o mundo estão a usar medidas de vigilância com base em alta tecnologia para combater o surto de coronavírus. Mas será que valem a pena? Edward Snowden não pensa assim. O ex-agente da CIA cujas fugas de informação expuseram a dimensão do programa de espionagem dos Estados Unidos alerta que uma vez essas tecnologias postas em prática é muito difícil que regressem à fonte de onde vieram.
O reforço da Informação Independente como antídoto para a propaganda global.
Bastam 50 cêntimos, o preço de um café, 1 euro, 5 euros, 10 euros…