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A DITADURA DE MACRI E O ASSALTO À AMÉRICA LATINA

"Mudança de proprietário: liquidação de pacientes e pessoal"

2018-11-02

Débora Mabaires, Buenos Aires; Desacato.info/O Lado Oculto

Quando Mauricio Macri chegou ao governo da Argentina, fê-lo sob uma fachada democrática. Empresas britânicas usaram a manipulação ilegal de perfis do Facebook para fazerem campanhas direccionadas para determinados grupos de argentinos, que eram avalizadas pelos média hegemónicos. Uma simbiose perfeita para conseguir colonizar as mentes.

Vencidas as aleições, em apenas três anos os argentinos e argentinas perderam direitos humanos básicos como trabalhar, comer, ter acesso a habitação, circular livremente pelo país. Milhares de empresas estão a fechar e a ser vendidas ao preço da chuva, enquanto muitas pessoas reviram os caixotes do lixo para comer ou vêem os seus parentes morrer sem poder comprar medicamentos para lhes salvar as vidas.
O governo de Mauricio Macri não é um governo convencional, é um governo de ocupação. Age como um exército inimigo que ocupa o território nacional.
No primeiro mês de actividade, o governo desmantelou o sistema de cobertura territorial de Saúde Pública, eliminou os planos de vacinação para as populações indígenas e a medicação gratuita para a maioria dos idosos. Os remédios do Programa Remediar, medicamentos gratuitos para quem não os pode pagar, foram reduzidos a 10%. Isto é claramente um plano de extermínio da população mais vulnerável. Hoje, três anos decorridos, Macri continua a aplicar medidas drásticas, tais como despedimentos de médicos, enfermeiras e maqueiros; encerramento de serviços de neonatologia ou de terapia infantil intensiva; encerramento de serviços de cardiologia; deixou de fornecer as vacinas que o Estado continua a considerar obrigatórias para as crianças – vacinas cujas doses individuais têm o preço de meio salário mínimo, cerceando assim o direito à educação, porque estar vacinado é condição para ingressar na escola.

Um inimigo da população

O Estado argentino transformou-se num inimigo da população mais vulnerável porque retirou direitos assistenciais básicos a pessoas com deficiência, suspendeu o pagamento dos serviços de diálise para os doentes renais, reduziu a entrega de medicamentos ou de fitas reagentes aos doentes com diabetes. Ainda cancelou as pensões por deficiência e o direito à assistência sanitária. Macri fez entrar no Congresso uma lei que pretende privatizar a saúde pública.
A Argentina está a ser submetida através da economia. Não é uma crise. É um saque planeado de recursos através da inflação, das importações e da destruição da indústria nacional. O uso da força e dos operacionais da comunicação social para subjugar a população é determinante.
Podem chamar-lhe o que quiserem, mas isto não é uma democracia, nem uma república. A separação de poderes não funciona. Macri cooptou o Poder Judiciário e nos últimos dias confirmou-se, através da divulgação de uma conversa telefónica, aquilo de que já se suspeitava: alguns legisladores da “oposição” estão a enriquecer trabalhando para Macri.
Mediante extorsões, perseguição judicial, humilhações e até ameaças de morte às famílias de funcionários do Poder Judiciário, Mauricio Macri concentra o poder público.
Alguns comunicadores indevidamente designados como ”intelectuais” insistem em qualificar o regime como “nova direita moderna e democrática”. A nova direita não tem nada de novo,  nem é democrática. Assim que chega ao governo viola leis, viola a Constituição, subjuga os outros poderes mediante a força ou o dinheiro e torna-se tirana.
Outros insistem em chamar-lhe “neoliberalismo”, embora não seja novo e, muito menos, liberal. Eu qualifico-o também como neocolonialismo.

Saque das riquezas nacionais

Macri entregou a soberania económica ao Fundo Monetário Internacional (FMI), dando-lhe poder para ditar as regras do jogo no nosso país. E precisamos de entender por quê.
O mundo está em plena guerra pelos recursos naturais. Vemos isso no Médio Oriente, em África, mas também na nossa região. A Argentina tem um litoral marítimo rico em variedades de peixes. Um mundo de proteínas de primeira qualidade nada nas nossas costas, cedido por Macri à Grã-Bretanha por um vergonhoso tratado, o pacto Foradori-Duncan. Nada mais, nada menos, uma cedência ao país que ocupa ilegalmente as ilhas Malvinas, ponto geoestratégico de interesse económico devido à pesca, aos recursos minerais e ao petróleo; mas, sobretudo, de importância militar, devido à proximidade em relação à Antártida e à passagem bioceânica obrigatória do comércio mundial neste sector do planeta. Por isso, os ocupantes das Malvinas tiveram até o desplante de instalar uma plataforma de mísseis comprada a Israel, apontando-a para a região argentina da Terra do Fogo.
A Argentina tem as terceiras reservas mundiais de petróleo e gás. As segundas de lítio. As primeiras de prata.
Macri assinou acordos que permitem aos governos do Reino Unido e de Israel realizar tarefas de espionagem aos cidadãos e cidadãs da Argentina.
Além disso, cedeu a soberania aeroespacial quando entregou a operação dos dois satélites do país a uma empresa francesa e a Rede Federal de Fibra Óptica a Carlos Slim, o multimilionário empresário mexicano dos média vinculado a serviços secretos estrangeiros.
Em diferentes tratados, o governo Macri cedeu a soberania jurídica às corporações; e também a soberania militar, quando assinou com o ex-presidente Barack Obama um acordo de “cooperação” em que submete as tropas argentinas aos desígnios das tropas norte-americanas que venham “impor a paz” (assim diz o tratado).
A pressão económica sobre os argentinos, os aumentos indiscriminados de tarifas, a brutal desvalorização da moeda nacional, as leis regressivas e as humilhações constantes dos membros deste governo à cidadania argentina têm um objetivo: submeter o povo. Mas não é de excluir que exista um objetivo militar: pressioná-lo até que haja uma explosão popular, de modo a ocupar o país com tropas estrangeiras.
Parece não fazer sentido porque os principais recursos naturais da Argentina - gás, petróleo, lítio, cereais, recursos minerais e água - já foram cedidos ao estrangeiro. Mas a Argentina é a porta de entrada para submeter o seu principal parceiro económico na região: o Brasil.
Quando Mauricio Macri estava prestas a vencer as eleições, escrevi quase como uma súplica: não votem nele. Se a Argentina cair, cai o Brasil e, com ele, toda a América Latina. Não passou muito tempo entre a posse de Macri e o impeachment do governo democraticamente eleito de Dilma Rousseff no Brasil.
A perseguição a Cristina Fernández de Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva faz parte do plano desta direita neocolonial. Precisa destes líderes fora do jogo para impor os seus títeres e oprimir os povos.
Do sul, esse poder ditatorial e neocolonial avança sobre o Brasil, o gigante da América do Sul e sétima economia mundial.
O plano é regional e está à vista.


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