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NATO E UNIÃO EUROPEIA POUPAM O NAZISMO NA ONU

O nazismo está enraizado como expressão de poder na Ucrânia

2020-11-28

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

É um assunto de extrema gravidade: com a mais absoluta discrição, os Estados membros da NATO e da União Europeia, o que naturalmente inclui Portugal, abstiveram-se nas Nações Unidas sobre o nazismo; uma vergonhosa confissão, enquanto a própria União Europeia vive dificuldades no seu funcionamento devido às emanações fascistas na Polónia, na Hungria e nos Estados bálticos, tratadas, com muito pudor, como “populistas”, “nacionalistas” ou “iliberais”. Na verdade, desde a Segunda Guerra Mundial, a CIA e depois a NATO reciclaram numerosos criminosos um pouco por todo o mundo, ultimamente nos países bálticos e na Ucrânia. Estes veiculam abertamente uma ideologia racial que, aliás, nunca abandonaram. 

A Terceira Comissão das Nações Unidas – encarregada das questões sociais, humanitárias e culturais – aprovou em 18 de Novembro uma resolução intitulada “Luta contra a glorificação do nazismo, do neonazismo e de outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, de discriminação racial, de xenofobia e de intolerância que lhes estão associadas”.

A resolução, lembrando que “foi designadamente a vitória alcançada então sobre o nazismo que conduziu à criação da Organização das Nações Unidas, chamada a impedir novas guerras e a preservar as gerações futuras deste flagelo”, lança o alarme sobre a difusão de movimentos neonazis, racistas e xenófobos em numerosas regiões do mundo. Declara-se “profundamente preocupada com a glorificação, seja em que forma for, do movimento nazi, do neonazismo e de antigos membros da organização Waffen-SS”. Sublinha também que “o neonazismo deixou de ser a glorificação de um movimento histórico, tratando-se antes de um fenómeno contemporâneo”. Os movimentos neonazis e outros análogos “alimentam formas contemporâneas de racismo, de discriminação racial, de antissemitismo, de islamofobia e de cristianofobia, de xenofobia e de intolerância que lhes estão associadas”.

A resolução apela, por isso, aos Estados membros das Nações Unidas que tomem uma série de medidas para contrariar este fenómeno. O documento, já adoptado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 18 de Dezembro de 2019, foi aprovado pela Terceira Comissão com 122 votos, entre eles os de dois membros permanentes do Conselho de Segurança, a Rússia e a China. Apenas dois membros das Nações Unidas votaram contra: os Estados Unidos (membro permanente do Conselho de Segurança) e a Ucrânia. Certamente no cumprimento de uma diretiva interna, os outros 29 membros da NATO, incluindo Portugal, abstiveram-se. O mesmo aconteceu com os 27 membros da União Europeia, 21 dos quais integram a NATO. Entre as 53 abstenções encontram-se também a Austrália, o Japão e outros parceiros da NATO.

O peso do mau exemplo ucraniano

O significado político deste voto é claro: os membros e parceiros da NATO boicotaram a resolução que, embora sem o explicitar, põe directamente em causa antes de mais a Ucrânia, onde os movimentos neonazis foram e são utilizados pela NATO com objectivos estratégicos. Existem vastas provas de que foram utilizadas brigadas neonazis, sob gestão dos Estados Unidos/NATO, no golpe da Praça Maidan em 2014 e no ataque contra ucranianos russófonos para provocar, com a separação da Crimeia e o seu regresso à Rússia, um novo confronto na Europa análogo ao da guerra fria.

Emblemático é o papel do Batalhão Azov, fundado em 2014 por Andriy Biletsky, o “fuhrer branco”, partidário da “pureza racial da nação ucraniana, que não deve misturar-se com raças inferiores”.

Depois de se ter destacado pela sua ferocidade, o Azov foi transformado em regimento da Guarda Nacional ucraniana, dotada com blindados e artilharia. Conservou, no entanto, o seu emblema, decalcado do das SS do Reich, e a formação ideológica dos recrutas, que segue o modelo nazi. O Regimento Azov é treinado por instrutores norte-americanos transferidos de Vicenza (Itália) para a Ucrânia, e outros de países membros da NATO.

O Azov não é apenas uma unidade militar mas um movimento ideológico e político. Biletsky continua a ser o chefe carismático, especialmente da organização juvenil, educada no ódio contra os russos e preparada com treino militar. Ao mesmo tempo, nazis de toda a Europa são recrutados em Kiev.

Deste modo, a Ucrânia tornou-se o “viveiro” do nazismo em renascimento no coração da Europa. Neste quadro insere-se a abstenção de Portugal e dos países membros da NATO e da União Europeia, incluindo na votação da resolução na Assembleia Geral da ONU.

No caso particular de Itália, o Parlamento aceita esta orientação de voto, do mesmo modo que em 2017, quando assinou um memorando de entendimento com o presidente do Parlamento Ucraniano, Andriy Parubiy, fundador do Partido Nacional-Social ucraniano, segundo o modelo nacional-socialista hitleriano, chefe das brigadas neonazis responsáveis por assassínios e espancamentos ferozes de opositores políticos. Foi ele quem se congratulou com o governo italiano a propósito do não-voto da resolução da ONU sobre o nazismo, na linha do que declarou na televisão: “O maior homem que praticou a democracia directa foi Adolf Hitler”.

Da acta da reunião da Terceira Comissão da ONU deixamos um excerto sobre a posição da União Europeia em relação à resolução:

“No seguimento da adopção do texto, a União Europeia, pela voz da Alemanha que se absteve, afirmou que está empenhada de maneira construtiva em reforçar os aspectos do texto relativos aos direitos humanos. No entanto, um número importante de preocupações importantes e fundamentais subsistem e várias propostas essenciais da UE, incluindo formulações de compromisso, não foram incluídas no texto final. Em alguns casos, a linguagem problemática e politizada foi reforçada de maneira negativa, deplorou”.


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