NATO OCUPA O BÁLTICO PARA INTIMIDAR A RÚSSIA
2020-09-15
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto
Sejam quais forem os governos que estejam em funções, o projecto anti-russo da NATO avança inexoravelmente. Parece que ninguém controla o assunto e que a Aliança assume uma vida própria sobrepondo-se aos executivos dos Estados membros. A colocação de um dispositivo nuclear nos países bálticos, acompanhada por uma sucessão de jogos de guerra sem interrupção na mesma região, é um novo passo na criação de um clima de tensão cada vez mais próximo do conflito aberto. Tensão acompanhada por despesas militares em progressão constante, em prejuízo dos investimentos sociais nos países aliados. E aumentando exponencialmente o tráfego aéreo militar, enquanto a actividade da aviação civil é restringida por causa do COVID.
Calcula-se que o tráfego aéreo civil na Europa cairá cerca de 60% este ano em relação a 2019, devido às restrições motivadas pelo COVID-19, pondo em risco mais de sete milhões de empregos; pelo contrário, o tráfego aéreo militar está em crescimento. Na sexta-feira 28 de Agosto seis bombardeiros estratégicos B-52 da Força Aérea norte-americana sobrevoaram num único dia todos os 30 países da NATO na América do Norte e na Europa, flanqueados nos diferentes segmentos por um total de 80 bombardeiros dos países aliados. Este grande jogo de guerra intitulado “Céu Aliado”, declarou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, prova “o poderoso compromisso dos Estados Unidos para com os Aliados e confirma que estamos em condições de desencorajar as agressões”.
Uma alusão óbvia à “agressão russa” na Europa. Os B-52, transferidos em 22 de Agosto da base aérea de Minot no Dakota do Norte para a de Fairford, na Grã-Bretanha, não são os velhos aviões da guerra fria, agora unicamente usados em desfiles. Constantemente actualizados, conservaram o papel de bombardeiros estratégicos de longo raio de acção. Neste momento continuam a ser potencializados. A Força Aérea norte-americana recorre a gastos da ordem dos 20 mil milhões de dólares para equipar pelo menos 76 aparelhos B-52 com motores novos que lhes permitirão voar durante oito mil quilómetros sem abastecimento em voo, transportando cada um 35 toneladas de bombas e mísseis com ogivas convencionais ou nucleares.
No passado mês de Abril, a Força Aérea norte-americana confiou à Raytheon Co. a construção de um novo míssil de cruzeiro de longo alcance, armado com ogiva nuclear, para os bombardeiros B-52. Com estes bombardeiros e outros, todos eles estratégicos com capacidades nucleares, incluindo os B-52 Spirit, a Força Aérea norte-americana efectuou desde 2018 mais de 200 saídas sobre a Europa, sobretudo no Báltico e no Mar Negro, à beira do espaço aéreo russo. Nestes exercícios participaram os países europeus da NATO, incluindo a Itália.
Colonização dos Estados bálticos
Quando em 28 de Agosto um B-52 norte-americano sobrevoou o território italiano teve a seu lado caças italianos para simular uma missão conjunta de ataque. Imediatamente a seguir, caças-bombardeiros Eurofighter Typhoon da Aeronáutica de Itália entraram em acção para se instalar na base de Siauliai na Lituânia, acompanhados por uma centena de militares especializados. Vão ficar no local durante oito meses, até Abril de 2021, para “defender” o espaço aéreo do Báltico. É a quarta missão de “polícia aérea” da NATO efectuada pela Aeronáutica italiana. Os caças italianos estão em estado de prontidão 24 horas por dia para descolar ao som de alarmes para interceptar aviões “desconhecidos”, que são sempre aparelhos russos voando entre quaisquer aeroportos internos e o enclave russo de Kalininegrado através do espaço aéreo internacional sobre o Báltico.
A base lituana de Siauliai, onde se encontram estacionados os aparelhos para estes tipos de missões, foi potencializada pelos Estados Unidos, que triplicaram a sua capacidade investindo 24 milhões de euros. A razão é clara: a base aérea situa-se apenas a 220 quilómetros de Kalininegrado e a 600 de S. Petersburgo, distâncias que um caça Eurofighter Typhoon percorre em alguns minutos.
Por que motivo a NATO instala à beira da Rússia estes aviões com dupla capacidade convencional e nuclear? Certamente não é para defender os países bálticos de um ataque russo que, se acontecesse, representaria o início da guerra mundial termonuclear.
O mesmo aconteceria se os aviões da NATO atacassem cidades russas limítrofes a partir do Báltico. A verdadeira razão destes movimentos é aumentar a tensão ao fabricar a imagem de que um perigoso inimigo, a Rússia, estaria a preparar-se para atacar a Europa.
É a estratégia de tensão desenvolvida por Washington, com a cumplicidade dos governos e dos parlamentos europeus e da própria União Europeia. Esta estratégia implica um aumento crescente das despesas militares em prejuízo dos investimentos sociais.
Um exemplo: o custo de uma hora de voo de um caça Eurofighter foi calculado pela própria Aeronáutica de Itália, em 66 mil euros (incluindo a amortização do avião). Um valor, em dinheiro público, superior a dois salários médios anuais brutos em Itália. De cada vez que um Eurofighter descola para “defender” o espaço aéreo do Báltico queima numa hora dois postos de trabalho em Itália.