UMA PANDEMIA DE DESPESAS MILITARES
2020-05-08
A pandemia de COVID-19 continua mas as despesas militares aumentam em todo o mundo, comandadas pelos Estados Unidos e a NATO, apesar de em 2019 já terem sido as mais elevadas em mais de duas décadas. O secretário de Estado norte-americano pediu aos aliados mais 400 mil milhões de dólares para gastos de guerra numa altura em que são necessários enormes recursos para a saúde dos cidadãos e em que o desemprego ataca como um flagelo. Mas não nos preocupemos com isso porque alguém está a publicar anúncios de emprego: a NATO.
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto
Em cada minuto gastam-se quatro milhões de dólares no mundo para fins militares. É o que revelam os estudos mais recentes divulgados pelo SIPRI (Instituto Internacional de Estocolmo de Estudos da Paz): em 2019 as despesas militares mundiais quase atingiram os dois biliões de dólares (dois milhões de milhões), o nível mais elevado desde 1988 tendo em conta a inflação. Isto significa que que actualmente se gasta mais em armas, exércitos e guerras do que se gastava na última fase do confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética e respectivas alianças.
As despesas militares mundiais estão em vias de registar nova aceleração: num ano aumentaram 3,6% em termos reais. São comandadas pelos gastos militares norte-americanos que, com um aumento de 5,3% num ano, cresceram 732 mil milhões de dólares em 2019. Este valor representa o orçamento do Pentágono, incluindo operações de guerra.
A estes números somam-se outras rubricas de cariz militar. O Departamento de Antigos Combatentes, que se ocupa dos militares na reserva, tem um orçamento anual de 217 mil milhões de dólares, em crescimento contínuo. A Comunidade de Inteligência, constituída por 17 agências, declara mais de 80 mil milhões de dólares anuais, que mais não são do que a ponta do iceberg da despesa real para operações secretas. O Departamento de Segurança da Pátria tem uma despesa anual de mais de 70 mil milhões. O Departamento de Energia tem despesas anuais de 24 mil milhões para manter e modernizar o arsenal nuclear.
Tendo em conta estas rubricas, e ainda outras, as despesas militares reais dos Estados Unidos ultrapassam o milhão de milhões de dólares anuais. Por isso, as despesas da NATO, calculadas pelo SIPRI em 1,035 milhão de milhões em 2019, são portanto bastante mais elevadas.
As despesas militares da Rússia, 65 mil milhões em 2019, foram 11 vezes inferiores às dos Estados Unidos e 16 vezes mais baixas que as da NATO. O SIPRI calculou as despesas da China em 261 mil milhões de dólares, cerca de um terço das norte-americanas, apesar de o número oficial fornecido por Pequim ser da ordem dos 180 mil milhões.
Entre os países europeus da NATO, a França, a Alemanha e o Reino Unido tiveram despesas militares de 50 mil milhões de dólares cada.
Ainda mais gastos em plena pandemia
As despesas militares italianas, em 12º lugar na escala mundial, foram calculadas pelo SIPRI em 26 800 milhões de dólares em 2019. O que confirma substancialmente que os gastos italianos – aumentados mais de 6% no primeiro trimestre de 2020 em relação a igual período do ano anterior – ultrapassam os 26 mil milhões numa base anual - 72 milhões de euros por dia. Com base nos compromissos estabelecidos no quadro da NATO, essas despesas com a guerra irão continuar a crescer até uma média de 100 milhões de euros por dia.
Os Estados Unidos, segundo anunciou o secretário de Estado Michael Pompeo, pediram aos aliados para alocarem mais 400 mil milhões de dólares de modo a reforçar as despesas militares da NATO. No interior da aliança comandada pelos Estados Unidos, a Itália está agregada aos mecanismos automáticos de despesa. Por exemplo, faz parte da “Land Battle Decisive Munitions Iniciative” para aquisição de munições cada vez mais sofisticadas e caras (mísseis, rockets, projécteis de artilharia) destinadas às forças terrestres. E faz parte com os Estados Unidos, França e Reino Unido do grupo que, com base num acordo concluído em Fevereiro, fornecerá “capacidades espaciais” à NATO numa gasta gama de actividades através dos seus próprios satélites militares. A Itália entra assim completamente no novo programa militar espacial da NATO preparado pelo Pentágono e pelos muito restritos encontros militares europeus com as mais poderosas indústrias aeroespaciais. Tudo isto surge na esteira do novo Comando Espacial criado pelos Estados Unidos para “defender interesses vitais norte-americanos no espaço, o próximo campo de batalha da guerra”.
Toda esta situação implica mais despesas militares com dinheiros públicos numa altura em que são necessários enormes recursos para enfrentar as consequências socio-económicas da crise do coronavírus, designadamente o aumento do desemprego. No entanto, há uma empresa que está a recrutar: a NATO, que em 29 de Abril lançou “um programa inovador para contratar jovens profissionais” aos quais promete “um salário competitivo” e possibilidades de carreira enquanto “futuros dirigentes e influenciadores”.