CHINA LEVA A SÉRIO AS AMEAÇAS DE WASHINGTON
2020-05-06
Thimoty Woods, com Jason Ditz; Exclusivo O Lado Oculto
As autoridades da República Popular da China estão a levar a sério o comportamento agressivo dos Estados Unidos, incluindo na frente militar, e consideram que o risco de guerra directa atingiu o nível mais elevado desde os acontecimentos na Praça Tiananmen, Pequim, em 1990.
A concentração de navios de guerra norte-americanos no Mar da China Meridional, acompanhada de exercícios com aviões bombardeiros, e a cada vez mais intensa campanha conduzida por Donald Trump – ecoada na União Europeia – sobre a origem “chinesa” do novo coronavírus SARS-CoV-2 reforçam o cenário iniciado com a chamada “guerra comercial”.
Navios de guerra norte-americanos movimentam-se permanentemente no Mar da China Meridional, tentando inclusivamente tirar partido de problemas de soberania existentes entre a China e países vizinhos, designadamente a propósito das Ilhas Paracel (Yongxing, na versão chinesa e Phu Lam, na versão vietnamita), onde permanece o diferendo entre Pequim e Hanói. Recentemente, a China viu-se obrigada a expulsar das imediações do arquipélago o vaso de guerra norte-americano USS Barry, uma das várias “provocações” de que o chefe do Pentágono, Mark Esper, continua a acusar as autoridades chinesas para manter o clima bélico.
Ao mesmo tempo, na esteira das declarações cada vez mais agressivas de Trump culpando a China por ter espalhado o novo coronavírus a partir de um laboratório biológico em Wuhan, a comunicação social corporativa de âmbito global contribui para criar um clima no qual Pequim emerge como o grande responsável pela grave situação sanitária que o mundo atravessa. A União Europeia tem feito a sua parte na mesma direcção, encarregando dessa tarefa um website de propaganda designado EUvsDisinfo, que actua a coberto das novas tendências censórias designadas “fact-checking”. Este aparelho propagandístico distribui semanalmente as suas orientações através de uma rede de jornalistas que aceitam participar nas operações de manipulação e fake news nas quais a Rússia e, sobretudo a China – associada à origem da pandemia de COVID-19 - são os alvos a atingir.
O risco é real
Enquanto o presidente dos Estados Unidos e os seus seguidores na Europa afirmam a certeza de que o vírus foi produzido num laboratório em Wuhan, o próprio chefe do Estado Maior Conjunto norte-americano, general Mark Milley, afirma que o seu país não tem qualquer informação concreta sobre a origem do novo coronavírus. “Saiu de um laboratório de virologia em Wuhan? Aconteceu num mercado de Wuhan? Apareceu noutro lugar? A resposta é que não sabemos”, testemunhou o general Milley, desmentindo assim o seu comandante-em-chefe.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem solicitado a Donald Trump as provas que confirmem as suas acusações. A organização afirma que, até prova em contrário, considera que o vírus teve uma origem natural.
Fazendo uma avaliação da situação de tensão contra a China em toda a sua complexidade, o principal departamento de inteligência chinês fez chegar ao presidente Xi Jinping um relatório segundo o qual o risco de uma guerra directa provocada pelos Estados Unidos está no nível mais alto desde 1990, ano dos acontecimentos na Praça Tiananmen.
Responsáveis chineses têm afirmado que o risco tem vindo a ser alimentado por necessidades internas do próprio sistema de poder norte-americano na proximidade das eleições presidenciais de Novembro. Problemas domésticos enfrentados por Trump, designadamente o fracasso da sua resposta contra a pandemia, poderão, deste modo, ser transformados num conflito internacional e do qual, até ao momento, a União Europeia não se tem distanciado