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FASCISTAS BOLIVIANOS CHAMAM O FMI E ENTREGAM O LÍTIO

2020-04-30

Eduardo Paz Rada*, America Latina en Movimiento/O Lado Oculto

O ministro da Economia do governo golpista da Bolívia, José Luis Parada, anunciou as orientações estratégicas da política económica e social depois do derrube do governo legítimo do país: regresso do Fundo Monetário Internacional (FMI), entrega dos recursos estratégicos de lítio do Salar de Uyuni a empresas transnacionais estrangeiras e expansão latifundiária da produção agroindustrial através da utilização de transgénicos (OGM, organismos geneticamente modificados. Todas as medidas se orientam pelo favorecimento de interesses imperialistas e das oligarquias internas, desvendando as orientações a longo prazo de um governo que se diz “transitório”.

Apesar de ter retirado mil milhões de dólares das reservas internacionais do Banco Central da Bolívia, de ter recebido donativos e ter autorizado o uso de 500 milhões de dólares das Administradoras dos Fundos de Pensões pelos bancos comerciais para enfrentar a crise gerada pelo coronavírus, o governo golpista pediu 320 milhões de dólares ao FMI. Isto significa que aceitou implicitamente as condições de ingerência nas políticas económicas e financeiras da Bolívia, pondo em risco extremo a estabilidade económica de que o país beneficiou durante os últimos 14 anos.

Cabe recordar que o FMI foi excluído de decisões e afastado da Bolívia em 2006 por ter sido considerado pelas autoridades legítimas do país que a sua intervenção para desenvolver o projecto neoliberal durante as duas décadas anteriores destruiu a economia do país. A receita neoliberal imposta pelo FMI – liberalização total da economia, privatização das empresas estatais, liberdade de preços, endividamento, inflação e desvalorização – traz más recordações ao povo boliviano. A nova orientação da política económica agora adoptada pelo governo ilegítimo faz prever a repetição de tão funesta experiência histórica.

O lítio, tal como se previa

A Bolívia possui das maiores reservas mundiais de lítio, elemento essencial da indústria de acumuladores de energia – em grande expansão devido ao incremento dos veículos eléctricos – considerando-se que essa foi uma das razões que esteve na base do golpe de Estado fascista que derrubou Evo Morales. O governo legítimo da Bolívia desenvolvera um projecto autónomo e soberano para produzir baterias de lítio e outros recursos tecnológicos com grande procura internacional e elevados preços que tinha suscitado o interesse de empresas chinesas, sul-coreanas, norte-americanas e europeias. O ministro da Economia em funções anunciou agora que três empresas estrangeiras estão interessadas em explorar e industrializar este mineral estratégico para a economia mundial. No caso das instalações industriais de gás que produziam ureia e amoníaco para fertilizantes, o seu funcionamento está paralisado há vários meses.

Por fim, e depois de o governo actual ter determinado liberalizar as exportações agroindustriais em Janeiro passado, especialmente soja e óleo de soja, o ministro anunciou que está aberta a perspectiva de utilizar transgénicos na agricultura, favorecendo assim os proprietários de grandes extensões de terras do Oriente boliviano, associados a empresários brasileiros e argentinos. O ministro Parada e outros colegas fazem parte dos grupos de poder económico da região de Santa Cruz e do Oriente boliviano e integram o partido do Movimento Democrata Social (MDS), que obteve apenas quatro por cento dos votos nas eleições de 2019.

Repressão à sombra da pandemia

Além disso, no quadro da crise gerada pela pandemia de coronavírus o governo desencadeou uma forte repressão, perseguição e multiplicação de detenções de carácter político contra representantes sociais, populares e também contra dirigentes do Movimento para o Socialismo (MAS) de Evo Morales. Entre as justificações usadas para desenvolver esta ofensiva incluem-se a “violação da quarentena” e acções “de sedição”; enquanto isso, discute-se no âmbito político e legislativo a data das eleições nacionais, que estavam marcadas para 3 de Maio e foram suspensas até Julho, existindo a possibilidade de uma maior extensão de prazo como pretendem os sectores golpistas que se apoderaram do governo. Existe, no entanto, uma forte pressão social, regional e institucional em todo o país exigindo a realização imediata de eleições gerais. Segundo todas as sondagens, os candidatos do MAS, Luis Arce e David Choquehuanca, ganhariam as eleições presidenciais na primeira volta.

A tudo isto junta-se o “abandono” do governo de Washington em relação à Bolívia na frente do combate à pandemia, apesar da total adesão do governo golpista às políticas de Donald Trump e dos Estados Unidos. Washington, juntamente com o Brasil de Bolsonaro, foram os primeiros a reconhecer a ditadura boliviana. Esse “abandono” norte-americano regista-se apesar de o executivo ilegítimo de La Paz ter apoiado o Grupo de Lima contra o governo da Venezuela, reconhecendo Juan Guaidó como presidente, apoiando as ameaças de invasão militar; e de ter integrado altos funcionários no governo com origem na Embaixada dos Estados Unidos.

Entretanto, a política do governo boliviano é censurada por violações dos direitos humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) devido aos massacres de Sacaba e Senkata cometidos em Novembro passado; e também pela detenção ilegal de mais de mil migrantes bolivianos que pretendiam regressar do Chile ao seu país devido à pandemia do novo coronavírus.

*Sociólogo boliviano e professor universitário


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