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TRUMP “ENGANOU-SE”: É A COLÔMBIA, NÃO A VENEZUELA

2020-04-11

Trump, com os seus parceiros francês e britânico, sob os auspícios da NATO, estão a montar um circo de guerra contra a Venezuela a pretexto de uma “operação contra o narcotráfico” alegadamente praticado sobretudo pelo governo de Caracas, com o presidente Maduro à cabeça. Porém, segundo os relatórios da agência antidroga dos Estados Unidos, a DEA, a Colômbia é o responsável, praticamente monopolista, pelo tráfico de cocaína na região; e a Venezuela não surge sequer na lista dos países envolvidos.

Angel Guerra Cabrera, America Latina en Movimiento/O Lado Oculto

Os registos da agência antidroga dos Estados Unidos, a DEA, desmentem rotundamente as inacreditáveis acusações de narcotráfico lançadas por Donald Trump contra o seu homólogo venezuelano Nicolás Maduro e membros do seu governo. Fica claro que a nova e agressiva investida do magnata do imobiliário contra a Venezuela nada tem a ver com a democracia. Pelo contrário, é uma consequência do absoluto fracasso de todos os planos golpistas e desestabilizadores da sua administração contra o governo constitucional e legítimo do presidente Maduro. É também um desesperado acto eleitoralista para fazer com que os norte-americanos olhem para outro lado perante o quadro dantesco da sua cada vez mais desastrosa e mortífera gestão da pandemia de coronavírus, com um saldo altamente negativo ao nível mundial, superando a notável velocidade o ritmo de contágio e de disfunções de outros países afectados pela doença.

Outra razão para a investida trumpista anti venezuelana obedece, muito provavelmente, ao erro de cálculo segundo o qual o ambiente de pandemia colocaria o país bolivariano numa situação mais propícia para ser alvo das imorais e ilegais bravatas e ameaças do proprietário de casinos. Acontece que a Venezuela vem pondo em prática uma impressionante estratégia bem conduzida de contenção do vírus, apoiada pela população e, além disso, por reconhecidos especialistas de Cuba, China e Rússia.

Façamos um resumo dos factos da investida anti venezuelana. Numa série de encenações que, mais do que actos de um Estado se assemelham a uma farsa grotesca, em primeiro lugar o procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr (que já noutra altura recebera da administração de Bush pai a incumbência de elaborar a fundamentação “legal” da invasão do Panamá em 1989), acusou o presidente Maduro e vários membros da sua estrutura governamental de narcoterrorismo e, ao estilo do Velho Oeste, ofereceu recompensas a quem dê informações que conduzam à sua detenção.

Curiosamente, a acusação inclui generais das instituições armadas da Venezuela que já tinham desertado anteriormente e residiam no estrangeiro. Juridicamente falando, a acusação de Barr é completamente inválida em relação à Carta das Nações Unidas e mesmo à putrefacta Organização dos Estados Americanos (OEA), uma vez que o governo de um país não tem jurisdição sobre o território de outro. Isso sem contar com o facto de Barr não ter apresentado qualquer prova contra o presidente Maduro e os outros citados venezuelanos, simplesmente porque as não tem. 

Onde a DEA invalida a estratégia

Não é secundário acrescentar que uma acusação não é, nem remotamente, uma demonstração de culpabilidade, pelo que a sua utilização neste caso não passa de uma distorção da lei por Barr para cumprir os objectivos políticos anti venezuelanos de Trump. A questão é muito clara. A DEA, agência de combate à droga dos Estados Unidos, informa em todos os seus relatórios até 2019 que a Colômbia é “a fonte primária da cocaína apreendida nos Estados Unidos”. Segundo o Cocaine Signature Program elaborado pela DEA em 2018, “aproximadamente 90% das amostras de cocaína analisadas foram de origem colombiana, seis por cento de origem peruana e quatro por cento de origem desconhecida”. Por outras palavras, de acordo com os registos da agência federal para a droga dos Estados Unidos, neste país não se encontra cocaína nem qualquer outro narcótico procedente da Venezuela.

Por isso, a conferência de imprensa organizada na Casa Branca poucos dias depois da acusação formulada por Barr, e na qual Trump anunciou “a maior operação antidroga levada a cabo no hemisfério ocidental” além da deslocação de uma frota de guerra para as Caraíbas, mas ameaçando terras bolivarianas, não é mais do que outro episódio da farsa anti venezuelana destinada a fazer pressão contra Caracas e a justificar um eventual ataque posterior, seja por paramilitares a partir da Colômbia seja através de uma operação de maior envergadura.

A única atitude razoável que os Estados Unidos deveriam ter numa conjuntura humanitária tão dramática como a que sofrem a humanidade e os povos em primeiro lugar seria a de apoiar o apelo à paz e ao silenciamento das armas no mundo formulado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e levantar os bloqueios impostos a Venezuela, Cuba, Nicarágua, Palestina, Irão e Síria. Deveriam também respeitar o direito de Caracas à autodeterminação, de modo a que o secretário de Estado Pompeo deixe de apresentar marcos “da transição para a democracia” na Venezuela, que aliás o povo deste país deitará no lixo como faz sempre que a sua soberania e independência estão ameaçadas.


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